Esporte no Brasil sempre rende discussões acaloradas. Sobretudo o futebol, claro. Para além do jogo em si, se o juiz errou ou não, se aquele impedimento foi ou não foi, outros fatores menos palpitantes influenciam diretamente o desempenho de uma equipe.
Estamos falando sobre temas de bastidores, como a compra e venda de jogadores ou a chegada de um novo patrocinador que pode, enfim, tornar o seu time do coração realmente competitivo. Embora essas notícias surjam com frequência em mesas redondas e outros programas esportivos, são raros os veículos com um foco específico sobre esse universo.
Uma exceção é o portal Máquina do Esporte, que ao longo de 18 anos se consolidou como referência na intersecção entre negócios e esportes no Brasil. O fundador Erich Beting, 43, resume:
“Não estamos mais preocupados em ‘trazer o noticiário’: queremos explicá-lo. A maior dificuldade não é o acesso à informação, mas filtrar e entender. Então, trabalhamos para que a indústria entenda quais os próximos passos, numa busca pela antecipação de tendências”
Com um histórico de apostas em produtos inovadores dentro da mídia esportiva, a Máquina vem investindo com mais força em suas redes sociais e dando início a um movimento de transformação de seu conteúdo, acompanhando as mudanças do próprio jornalismo.
Desde junho de 2022, a Genial Investimentos, que tem outras sociedades ligadas ao esporte, é acionista majoritária da Máquina, detendo 60% do negócio. Erich, porém, permanece à frente do negócio, como seu “maquinista” principal.
Sobrinho de Joelmir Beting (1936-2012) e primo de Mauro Beting, Erich descobriu cedo a paixão pelo esporte e pela comunicação. Desde o começo de sua vida profissional, trilhou carreira no jornalismo esportivo, em publicações como o diário Lance! e a Folha de S.Paulo.
Foi no Lance!, em 2002, enquanto cursava uma especialização em gestão esportiva, que Erich agarrou a chance de assumir uma coluna para se aprofundar nos bastidores financeiros do esporte.
“Como já gostava dessa área, tive a oportunidade de mostrar que tem todo um negócio por trás do esporte que a gente via com aquela paixão”
No jornal, o assunto não chegava a ser uma prioridade. Mais tarde, em 2005, trabalhando numa assessoria ligada ao tema, a AllComm Partners, Erich aproveitou uma noite de insônia para montar o projeto do que acabaria se tornando a Máquina do Esporte: um site aberto e gratuito, 100% focado nos negócios do esporte.
No mesmo ano, ele procurou um amigo parceiro do UOL para propor uma página dentro do portal que ajudasse a popularizar o debate sobre o setor. Erich lembra:
“Comecei a produzir o conteúdo, e o editor gostou. Logo no começo, trouxemos um furo sobre a chegada do patrocínio da MSI ao Corinthians, e o torcedor passou a se interessar cada vez mais por como aquilo acontecia”
Empreender e abrir negócios próprios costuma ser uma decisão rara entre jornalistas. Até por isso, o apoio do UOL no início foi essencial, segundo Beting.
Foi também nesse início que a Máquina lançou uma revista própria, publicada de forma trimestral ao longo de três anos, e chegou a ter programas fixos no rádio e na TV, este no canal BandSports.
“Sempre tivemos uma preocupação em fazer a marca da Máquina se expandir, ao mesmo tempo que tinha como princípio ajudar a indústria a se desenvolver.”
Abrigado no UOL, o jornalista pôde contar com a estrutura do portal para dar início ao projeto. Como trazia consigo a experiência de mais de uma década no Lance!, contatos e fontes dentro do universo do esporte não faltavam.
Apesar da equipe reduzida, contando com o próprio Erich e um punhado de colaboradores, a Máquina do Esporte logo começou a emplacar furos de reportagem:
“A gente chamava atenção dentro do mar de conteúdo do UOL, com grande visibilidade. A primeira estratégia foi fazer furos de reportagem de coisas legais, sacadas interessantes, sem apelar”
Segundo Erich, a preocupação em apurar as notícias ao máximo e publicar de forma assertiva, aparecendo com destaque dentro de um dos maiores portais jornalísticos do país, garantiu credibilidade à Máquina. E isso ainda sem verba de marketing ou publicidade, recurso que só chegou mais tarde.
“Em 2005, procurei uma assessoria para uma pauta, e a resposta foi que o veículo não interessava. No ano seguinte, a mesma assessoria procurou a gente para um evento. Foi muito engraçado porque mostrou o quanto conseguimos crescer em um ano.”
Após quatro anos de parceria com o UOL, Erich conta que optou por seguir voo solo a partir de 2009, montando um escritório separado do portal.
Foi aí que ele precisou estudar com mais afinco a atuação como empreendedor, passando a se preocupar mais com questões como caixa e contratações.Nesse recomeço, confessa, a tecnologia foi um dos principais desafios:
“A busca por um servidor para hospedar o site foi um aprendizado. A partir dali, percebemos que seria necessário investir mais em tecnologia para a coisa andar. Antes, achava que bastava focar em conteúdo”
Como Erich nunca pensou em fechar o site para assinantes, o modelo de negócio da Máquina do Esporte sempre se baseou em anúncios — mas não apenas no site. A empresa também realiza eventos para discutir o estado dos negócios no esporte (e atrair receita).
Em pausa devido à pandemia, a ideia é retomar em 2023 o Prêmio Máquina do Esporte, que seleciona cases de sucesso em áreas como marketing esportivo e patrocínios. Tanto a premiação quanto um seminário sobre o futuro do futebol estão previstos para o primeiro semestre deste ano.
Erich também pretende organizar um fórum que englobe negócios em diferentes modalidades esportivas, visando a chegada dos próximos Jogos Olímpicos (marcados para Paris, entre julho e agosto de 2024).
“Queremos fazer esse primeiro grande evento de congregação de toda a indústria do esporte, não só de futebol. A ideia é antecipar o mercado e anunciar ações de networking”
Além dessas fontes de receita, a Máquina produz relatórios e faz consultorias de mercado pontuais para empresas e assessorias que estejam interessadas em um determinado projeto ou investimento.
Embora muitos torcedores acompanhem de perto o trabalho da Máquina do Esporte, isso ocorre mais devido à paixão que estes têm por seus clubes e pelo esporte do que pelos esforços da empresa, diz Erich.
“Ele vai querer saber se o estádio do Atlético Mineiro tem naming rights ou se o time de vôlei fechou patrocínio para manter a temporada… Então, a gente pega o fã, mas não é nossa prioridade.”
Pelo contrário, reforça Erich, o público-alvo do site sempre foram os profissionais da indústria:
“Gente que trabalha em agência, no marketing do clube, que patrocina e precisa montar sua estratégia… Sempre temos esse foco prioritário”
O jornalista diz ter orgulho de ter influenciado uma geração de jornalistas esportivos que hoje trabalha na indústria — seja por meio do site, da revista ou de programas na TV e no rádio. Erich diz que hoje encontra profissionais que se posicionaram no mercado a partir desses produtos, que traziam uma visão diferente da grande mídia.
Erich lembra alguns dos principais furos que deu na Máquina do Esporte: desde inconsistências em valores de patrocínios em equipes como Palmeiras e Corinthians até a revelação dos naming rights da Arena Corinthians, que foram para a Neo Química.
Além disso, a plataforma foi um dos primeiros veículos a noticiar a saída da Libertadores da grade da Rede Globo, durante a pandemia.
Um dos casos mais emblemáticos para Erich mexeu inclusive com um dos anunciantes do site. A notícia, apurada em 2011, era que a empresa seria substituída como patrocinadora do Flamengo. A marca não gostou da publicação e acabou tirando o anúncio do site.
“Foi um dos motivos para a revista começar a acabar, mas não podia desmerecer o trabalho da apuração. A fonte era boa, não tinha erro. Não podia nunca recuar por reclamação de um anunciante meu, se a notícia era verdadeira”
O futebol segue sendo o carro-chefe, mas outras modalidades (como automobilismo, basquete, tênis, skate e UFC) ganharam interesse ao longo dessas quase duas décadas.
“O pessoal busca cada vez mais esportes americanos”, diz Erich. “Temos parceria com a NBA, o Rio Open, uma Fórmula 1 cada vez mais profissional… Em muitos casos, essas modalidades acabam sendo bem mais organizadas que o futebol aqui no Brasil, com menos falhas de comunicação – e, consequentemente, menos furos.”
Olhando para trás, Erich enxerga acertos e tropeços na trajetória da Máquina do Esporte. Como uma das principais bolas dentro, ele aponta o investimento numa newsletter lá em 2014.
“O programador queria me matar, porque na época ninguém lia newsletter… Mas [eu estava seguro que o] meu público ia ler, porque percebi que o hábito de consumo já estava sendo transformado pelo smartphone”
A newsletter de fato fez sucesso, atraindo patrocínios de Coca-Cola a Bradesco, e se consolidando como um dos principais produtos da empresa até hoje.
Erich reforça que, com o tempo, a concorrência aumentou no nicho de negócios do esporte. Até por isso, considera seu maior erro demorar para mergulhar de cabeça nas redes sociais.
“Ainda somos fracos [em redes sociais] comparados a outros veículos, porque desde o começo adotei uma postura radical de dizer que nossos principais produtos eram o site e a newsletter. Foi um erro não sermos influenciadores. Abrimos espaço para outros ocuparem”
Por isso, no final de 2022, o empreendedor decidiu tomar um tempo para reprogramar o negócio, dando atenção maior à parte de tecnologia. Hoje, a Máquina está mais presente no Twitter, TikTok e Instagram, buscando maneiras de se tornar cada vez mais relevantes nessas plataformas.
Segundo Erich, a entrada da Genial no negócio, em 2022, destravou as ações da Máquina, possibilitando investimentos em tecnologia e em conteúdos multiplataforma.
A chegada da acionista trouxe também um fôlego financeiro maior, permitindo que Erich pense de forma mais estratégica e antecipada os rumos da Máquina do Esporte.
Contando com o apoio dos novos sócios e um time fixo de 11 colaboradores, de TI até gestão da empresa, passando por uma equipe focada em redes sociais, o jornalista deixou sua época de maquinista solitário para trás.
“Hoje tenho tempo para antecipar ao máximo os novos hábitos de consumo. Já venho pensando nos usos da inteligência artificial, por exemplo. Mas não quero ser o primeiro a entrar numa barca furada…”
Em tempos de ChatGPT e outras promessas (e ameaças) trazidas pela inteligência artificial, o cenário ainda é incerto:
“A maior dificuldade é que o mundo está em transformação constante e cada vez mais rápida”, diz Erich. “Quem não estiver pronto vai ficar para trás.”
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