Como garantir um retorno seguro ao escritório, pós-Covid-19? Quais são os riscos e as boas práticas do home office para empresas e colaboradores? O que é esse tal de “modelo híbrido” de que andam falando?
Para tirar dúvidas e organizar essa conversa, está no ar (desde 16 de setembro) o Safe Place To Work, um site com informações pertinentes para esse “novo normal” corporativo. Artigos, reportagens e entrevistas são divididos em quatro seções: “ambiente de trabalho”, “cultura e liderança”, “leis & jurídico” e “saúde mental”.
À frente do projeto estão a Eureka, rede de coworkings (com unidades em São Paulo, Campinas, Uberlândia e Lisboa), e a IT’S Informov, empresa de arquitetura, engenharia e design de escritórios, responsável por espaços de trabalho de marcas como Itaú, iFood e WeWork.
Segundo Daniel Moral, fundador da Eureka (e do Bike Tour, que já apareceu aqui no Draft), o investimento na plataforma totalizou 10 mil reais, gastos na compra do domínio, na hospedagem do site e na hora de trabalho do time responsável pela criação.
Entre as pessoas jurídicas engajadas como apoiadores e parceiros estão o Brain (hub de inovação da Algar Telecom), o Great Place To Work, e as empresas SAP, Rivera, Vertical Garden e Lab 88.
A seguir, Daniel fala sobre a iniciativa, as dificuldades de adaptação ao contexto da Covid — e conta como vai funcionar o selo de certificação com lançamento previsto para outubro.
Como surgiu a ideia da plataforma Safe Place To Work?
A ideia surgiu para resolver um problema da minha empresa, a Eureka. Quando a quarentena foi decretada, eu e minha sócia, Fanny [Moral], vimos zerar a ocupação dos nossos coworkings.
Temos uma unidade em Lisboa, então começamos a observar as medidas tomadas pelos escritórios em Portugal, que teve um dos melhores índices de contenção do coronavírus na Europa
Conversamos também com o pessoal do escritório da Adidas, na Alemanha, entendemos o que estava acontecendo na Austrália e em outros lugares… Enfim, fomos varrendo o mundo, pesquisando os protocolos adotados na reabertura das empresas.
Checamos também o que estava sendo produzido nesse sentido aqui no Brasil. As informações, porém, estavam muito descentralizadas.
Faço parte de um grupo no WhatsApp de donos de coworkings, com mais de 200 participantes — e alguns estavam perdidos
Então, a primeira coisa que decidimos foi criar um manual que ajudasse o nosso negócio e esse grupo. Depois, pensamos em ampliar isso para outras empresas — e assim criamos a plataforma.
E como se deu a parceria entre a Eureka e a IT’S Informov para o desenvolvimento do projeto?
Convidamos a IT’S Informov, que já é nossa parceira há um bom tempo, para co-criar a plataforma pensando em todo o conhecimento técnico que eles têm nessa parte de arquitetura e engenharia de escritórios.
Já tínhamos em mente o nome Safe Place To Work, como uma alusão ao Great Place to Work, que é uma referência mundial.
Procuramos o Ruy Shiozawa, CEO do Great Place To Work, para apresentar a ideia, e ele decidiu entrar como parceiro do projeto. Isso deu uma chancela para que seguíssemos em frente.
Quais são os principais riscos para empresas e colaboradores no contexto da Covid-19?
Levando em conta que muitas pessoas foram obrigadas a trabalhar em suas casas, o maior problema é a infraestrutura.
Existem colaboradores trabalhando com condições, enquanto outros estão usando o banquinho da mesa da cozinha. Como mostrou uma pesquisa recente do IBGE, o home office está se tornando um novo indicador de desigualdade social
Um dia antes do lançamento da nossa plataforma, o Ministério Público do Trabalho divulgou uma nota técnica com diretrizes para garantir a proteção dos trabalhadores no esquema remoto, incluindo regras sobre ergonomia das cadeiras.
Outro problema é o modo como a saúde mental está sendo afetada. Na parte de estrutura física, existe um manual, regras básicas e obrigatórias sobre como manter distanciamento, usar álcool gel… Essa parte da saúde mental, porém, acabou ficando meio de lado.
Hoje, as pessoas estão muito tensas, com medo de ser contaminadas. Por causa dessa ansiedade, elas têm intensificado vícios, como o consumo de álcool. Muitas mulheres também estão mais suscetíveis à violência doméstica.
Tem ainda a questão das jornadas prolongadas no home office. É um reflexo do medo que as pessoas têm de perder o emprego. Assim, trabalham quase 24 horas por dia para provar sua produtividade aos gestores.
Todo esse impacto da Covid-19 na saúde mental é uma espécie de epidemia paralela e silenciosa, que deve explodir depois que voltarmos aos escritórios
As empresas vão ter que olhar com muita atenção para isso, ou correm o risco de sofrer ações trabalhistas. Os líderes precisam intensificar o contato com seus funcionários para ajudá-los nesse momento.
Outro risco é o de cometer injustiças na hora de avaliar o time. Não faz sentido comparar o desempenho de uma pessoa que trabalha com condições ruins de internet, por exemplo, com quem vive uma situação totalmente oposta.
Como a plataforma Safe Place To Work pode ajudar nesses desafios?
Queremos ser um centro de referência de conteúdo gratuito para o retorno ao trabalho. Um lugar onde gestores, departamentos de Recursos Humanos e colaboradores consigam encontrar informações de qualidade.
Dividimos os conteúdos em quatro verticais; em cada uma, contamos com apoio de especialistas e jornalistas na construção do material. Todos os textos passam por uma checagem, garantindo que não se tratam de fake news.
Na vertical de saúde mental, temos curadoria da psicóloga Cláudia Fisher, com a divulgação de materiais de sua autoria ou produzidos por fontes indicadas por ela. Na vertical de liderança, a maior parte do conteúdo é feita pelo pessoal da Great Place To Work.
Para ajudar o colaborador, publicamos um manual indicando como montar um home office bacana, com mesa e cadeiras adequadas, e postamos reportagens sobre biofilia, ou seja, como a presença de plantas no ambiente auxilia no bem-estar e na criatividade
Para as empresas, há artigos sobre como proceder na recontratação de um funcionário dispensado durante a pandemia ou o que fazer se houver um caso de Covid confirmado no local de trabalho.
Ao todo, somando especialistas e jornalistas, já temos 15 autores na plataforma e mais de 50 conteúdos. A partir de agora, com o lançamento, teremos uma publicação semanal.
Qual o propósito do selo de certificação que a plataforma vai lançar?
Esse selo vai ser uma autenticação de que as empresas estão seguindo todas as normas exigidas. Queremos lançar três níveis de certificação.
O primeiro nível será baseado nas normas de segurança determinadas pela Organização Mundial da Saúde, como uso de máscaras e EPIs, distanciamento social e demarcações espalhadas no local de trabalho, orientações de higiene e de quantidade máxima de pessoas permitidas no ambiente.
Esses protocolos estão no manual de boas práticas que disponibilizamos na plataforma para download no dia do lançamento. Se a empresa comprovar, mostrando evidências em nossa sistema, que está seguindo essas diretrizes, será considerada uma empresa “Safe Place To Work”.
Além disso, queremos implementar outros níveis de certificação, baseados em devices e equipamentos mais avançados.
Estamos testando totens de reconhecimento facial — que identificam o uso de máscara e medem a temperatura –, câmeras inteligentes que verificam o distanciamento social, um sistema de agendamento de postos de trabalho que garante espaçamento entre as mesas…
Também estamos testando outras tecnologias contactless. Inclusive uma máquina de café em que você pede e retira a bebida por meio de um aplicativo.
A Safe Place To Work levanta a bandeira do modelo híbrido de trabalho. Como as empresas vão aplicar esse conceito e quais suas vantagens?
Acreditamos que o retorno gradual às atividades presenciais já começou e se intensificará após a vacina. O esquema virtual, porém, não vai acabar. Por isso, defendemos muito o modelo híbrido.
Nesse modelo, o funcionário tem flexibilidade de trabalhar de casa ou perto de casa, em coworkings de bairro; mas as empresas vão manter uma sede ou um espaço onde o time pode se encontrar para uma reunião ou um happy hour.
A ideia é que não existam posições fixas em coworking ou nos escritórios — e sim rotativas. Você não vai ter mais a “sua mesa” e a “sua cadeira”, mas sim uma posição agendada para o dia e horário em que você irá ao escritório
Temos clientes já trabalhando nesse esquema. Por exemplo, a CVC Corp e a Keyrus. E também a SMS Brasil, que mantém dez posições compartilhadas com um time de mais de 50 pessoas.
Quais são os planos de médio ou longo prazo para a plataforma? Pensando num futuro com o coronavírus sob controle (ou menos perigoso)?
Queremos adicionar duas verticais na parte de conteúdo: mobilidade e sustentabilidade. Na questão da mobilidade, o tema está ainda mais em alta nesta crise.
Em Lisboa, a prefeitura está pagando 50% do valor das bicicletas para estimular a população a ir pedalando até o trabalho. Além de ser um modal saudável e sustentável, a bicicleta auxilia no controle da contaminação: as pessoas se deslocam ao ar livre e evitam o transporte público fechado
Mesmo após o controle da pandemia, acreditamos que o trabalho híbrido permanecerá. Nossa ideia, então, é focar o conteúdo em como os escritórios estarão funcionando nesse modelo.
Exceção numa indústria ainda muito masculina, Adriana Aroulho, presidente da SAP Brasil, fala sobre ética no dia a dia corporativo e como a empresa usa inteligência artificial generativa para ajudar clientes a bater metas de sustentabilidade.
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