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O M.A.S.S.AL.A.S recolhe e composta o lixo orgânico de casas e empresas da região metropolitana de BH

Maisa Infante - 29 ago 2019
Guilherme Pacheco e Luiz Filipe Maciel são os sócios do M.A.S.S.AL.A.S, que faz compostagem de lixo doméstico em Belo Horizonte.
Maisa Infante - 29 ago 2019
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M.A.S.S.AL.A.S. À primeira vista, a sigla assusta. O significado, porém, é amigável (e ecofriendly): Movimento da Alquimia dos Saberes em Saúde, Alimentação e Ambiente Sustentável. Esse é o nome “por extenso” do negócio de impacto criado por Guilherme Pacheco, 35, e Luiz Filipe Maciel, 31, em 2016. Seu propósito? Ajudar Belo Horizonte a ser uma cidade mais sustentável.

Das quatro frentes do negócio, de longe a mais amadurecida é o Bem Composto. Lançado no ano passado, é um programa de recolhimento e compostagem de lixo orgânico doméstico e de pequenas empresas. Hoje, o M.A.S.S.AL.A.S tem 65 assinantes residenciais e 16 clientes corporativos, entre floriculturas, restaurantes, coworkings e indústria de bebidas.

Até meados de 2018, porém, o negócio se resumia a palestras em escolas e empresas e venda de kits para compostagem doméstica. Não era o bastante. Segundo Guilherme:

“Logo percebemos que, apesar do interesse das pessoas pela compostagem, havia pouca disponibilidade em ‘colocar a mão na massa’, seja por falta de espaço em casa, nojo de mexer com as minhocas ou simplesmente por não querer ter trabalho”

Assim, eles entenderam que precisavam redirecionar o negócio e apresentar um serviço que facilitasse — de verdade — a compostagem.

POR CAMINHOS DIFERENTES, OS DOIS CHEGARAM AO TEMA DA SUSTENTABILIDADE

Formado em Nutrição, Guilherme foi dono de restaurante e lanchonete, além de nutricionista do América Futebol Clube. Em 2013, embarcou para uma viagem de seis meses à Nova Zelândia, onde estudou inglês e trabalhou com jardinagem, mudanças e fabricando embalagens. Voltou meio em crise com a nutrição, mas com vontade de estar mais em contato com a alimentação saudável e a natureza. E começou a trabalhar com educação ambiental no Instituto Cresce.

Luiz, por sua vez, é graduado em Engenharia de Produção Civil. Na época da faculdade, estagiou em construtoras — e também viveu seu próprio desencanto com a carreira:

“No fim de semana, eu queria ir para o mato, mas durante a semana estava enchendo caçamba e mandando o lixo para os aterros de qualquer forma…”

O interesse dele pela permacultura e bioconstrução veio após o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre o uso de estruturas de bambu na construção civil. “Seis meses depois de formado, comecei, junto com um professor, a empreender no coletivo Becus, na área de bioconstrução e ecodesign.” O coletivo usufruía do mesmo espaço físico do Instituto Cresce em que Guilherme (seu amigo desde 2009) trabalhava. Assim, os dois começaram a esboçar o projeto do negócio.

FOI PRECISO ENCONTRAR  UM ESPAÇO MAIOR PARA REALIZAR A COMPOSTAGEM

Os amigos investiram R$ 45 mil de recursos próprios. Um apoio essencial veio de Ana Charnizon, da consultoria Educação Harmônica, que ajudou a dupla a aprimorar o olhar empreendedor. Luiz afirma:

“A Ana nos fez estudar bastante o mercado, precificação, oportunidades… E começamos a entender melhor o que queríamos fazer”

Hoje, os sócios produzem até 4 mil litros de adubo por mês, resultado da compostagem de 9 500 litros de resíduos coletados, mais 14 480 litros de resíduo seco (segundo eles, para compostar um litro de lixo úmido é preciso um litro e meio de resíduo seco). Enquanto o lixo úmido vem dos clientes, o seco é recebido por meio de doação, principalmente de hípicas da região.

No começo, a compostagem era feita na sede do Instituto Cresce. O espaço, porém, ficou pequeno. Assim, desde o fim de 2018 está em vigor uma parceria com o Centro de Educação Ambiental Vale dos Cristais, em Nova Lima, município vizinho a Belo Horizonte.

Parte do adubo produzido é reservado para as atividades do Centro; outra parte, fornecida de graça para hortas urbanas, agricultura familiar e projetos agroecológicos da região metropolitana da capital mineira. O adubo também é embalado e vendido em lojas da cidade (por R$ 2, o quilo).

OS CLIENTES TÊM ACESSO A UMA MOEDA SOCIAL ACEITA NO COMÉRCIO LOCAL

Para os clientes corporativos, os preços são definidos de acordo com a demanda, a localização e a quantidade de resíduo gerado. A coleta doméstica tem três planos de assinatura. Num deles (R$ 60 por mês), a pessoa leva o próprio resíduo da sua casa a um dos setes pontos de coleta; nos outros dois planos, a coleta é feita quinzenalmente (R$ 90/mês) ou toda semana (R$ 120/mês).

Os assinantes do M.A.S.S.AL.A.S recebem um balde em casa para acondicionar o resíduo, que é recolhido e levado para um pátio de compostagem em Nova Lima, região metropolitana de BH.

Os assinantes recebem em casa um balde de 12 litros para acondicionar os resíduos; o recipiente é trocado a cada vez que o lixo é recolhido ou entregue nos pontos de coleta. Eles também têm acesso à moeda social Massalas. Independentemente da quantidade de resíduo coletado, quem assina os planos de R$ 60 ou R$ 120 recebe 20 massalas por mês; os assinantes do plano quinzenal ganham 10 massalas mensais. A iniciativa ainda é incipiente. Segundo Luiz:

“É um segundo passo de engajamento das pessoas com o projeto. Temos dialogado com outras iniciativas locais para ver formas de descentralizar e expandir essa moeda”

As massalas podem ser trocada por vouchers de descontos em negócios parceiros (Feira Fresca, Coletivo Mujique, Casa Horta, Dizzy Express, Vila João de Barro e Gaia Education). Segundo os sócios, a cada 20 massalas já é possível, em média, obter alguns descontos.

A PARTICIPAÇÃO EM EDITAIS TROUXE RECURSOS PARA ESTRUTURAR O NEGÓCIO

Além do investimento inicial, o M.A.S.S.AL.A.S teve acesso a dois recursos financeiros. Em 2018, por meio de uma parceria com a ONG Nossa Cidade, a empresa foi selecionada no edital “Casa Cidades – Fortalecendo Comunidades para a Construção de Cidades Inclusivas, Resilientes e Sustentáveis”, do Fundo Socioambiental Casa. Com os R$ 26 mil, os sócios compraram insumos peneira elétrica, baldes e uma carreta para apoiar a coleta.

Agora em 2019, eles conquistaram outro edital, o “Parcerias Sustentáveis”, da mineradora AngloGold Ashanti. Além de uma verba de R$ 50 mil para ser usada em serviços e infraestrutura, a iniciativa oferece uma mentoria de dez meses (até dezembro de 2019).

Os sócios com parte dos colaboradores que ajudam a fazer o M.A.S.S.AL.A.S funcionar.

Esta entrada de recursos externos foi importante para estruturar o negócio, que hoje conta com seis colaboradores freelancers com atividades periódicas duas vezes por semana, seja na produção do adubo ou na logística de recolhimento dos resíduos.

O M.A.S.S.AL.A.S tem mais três iniciativas esboçadas que se interconectam, mas estão ainda em fase de estruturação: a Clínica Sutil, uma consultoria de desenvolvimento de cardápios saudáveis para empresas; o Ar do Campo, com oficinas, workshops e estudos sobre permacultura, bioconstrução e agrofloresta; e a Cozinha Empática, cursos e encontros sobre a alimentação.

CONSCIENTIZAR AS PESSOAS AINDA É O MAIOR DESAFIO DO NEGÓCIO

Antes de escalar o negócio, o foco dos empreendedores está em consolidar o programa Bem Composto (responsável por 90% do faturamento de R$ 42 mil nos últimos seis meses). Essa estratégia inclui aprimorar a área comercial, alcançando assim os grandes geradores de resíduos, que em geral contratam empresas para recolher o lixo e levá-lo ao aterro.

Os sócios já contam com um espaço em Esmeraldas, também na Grande BH, para realizar, no futuro, a compostagem de grandes clientes empresariais. Para isso, têm o apoio da Pipe Social, plataforma-vitrine de negócios de impacto da qual recebem acesso a informações e contatos em troca de uma taxa semestral. “É o momento de estudar formas de apresentação do nosso negócio caso a gente decida dialogar com investidores”, diz Guilherme.

Conscientizar as pessoas da importância de destinar o lixo para a compostagem é visto pelos empreendedores como o grande desafio do seu negócio. Guilherme afirma:

“O trabalho de educação ambiental é feito para que a pessoa entenda por que ela paga pelo serviço e veja valor nisso. Mas é um trabalho de formiguinha, porque existe uma distância grande entre a conscientização e a ação”

Destinar o lixo para o aterro em tese é mais “barato” e prático, mas a maioria das pessoas ainda não se dá conta do custo ambiental e social por trás dessa falsa conveniência.

 

DRAFT CARD

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  • Projeto: M.A.S.S.AL.A.S
  • O que faz: Compostagem de lixo orgânico recolhido em casas e empresas.
  • Sócio(s): Guilherme Pacheco e Luiz Filipe Maciel
  • Funcionários: 6
  • Sede: Belo Horizonte
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 45 mil
  • Faturamento: R$ 42 mil (seis meses)
  • Contato: [email protected]
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