Ajudar a repensar o modelo escolar para o século XXI. Combinar conhecimentos e usar as tecnologias disponíveis para criar soluções criativas para problemas reais. Tendo esses objetivos como norte, o Nave à Vela articula elementos de engenharia, design e empreendedorismo dentro do currículo escolar para construir com os estudantes um olhar voltado para a inovação.
A proposta de trabalho do Nave passa por implementar espaços e dinâmicas makers em escolas, que compreendem atividades mão na massa apresentadas num contexto de projetos. Ferramentas manuais, componentes de eletrônica, impressora 3D e outras máquinas de fabricação digital são adotadas como ferramentas criativas que permitem aos alunos construir e dar vida às suas invenções. Lucas Torres, 27, está à frente do Nave à Vela e fala do cenário encontrado nas escolas hoje em dia:
“Os alunos já estão imersos em um ambiente tecnológico da cabeça aos pés. O grande problema é que estão apenas no papel de consumidores”
Ele prossegue: “A questão é como se apropriar dela para criar e empreender. A gente entende a tecnologia como ferramenta de experimentação, de transformação”. Ao seu lado trabalha uma equipe multidisciplinar de 14 pessoas, formada por designers, neurolocientistas, cineastas e engenheiros.
DA BUSCA POR SOLUÇÕES CRIATIVAS NASCE UM NEGÓCIO
Engenheiros de formação, os sócios Lucas Torres, Miguel Chaves e Diogo Dutra tinham uma frustração em comum nos tempos da graduação: muita teoria e pouca prática. Não encontraram na universidade um contexto que incentivasse a busca por soluções criativas. Buscaram caminhos alternativos de especialização no Brasil, Estados Unidos e França em temas como inovação, inovação social, design e empreendedorismo.
Acabaram se conhecendo pelo Battle of Concepts, uma plataforma de inovação aberta em que universitários e recém-formados são estimulados com recompensas a sugerir soluções para desafios propostos por grandes empresas. Deste contexto, nasceu, em 2011, a Caos Focado, uma consultoria de inovação. À princípio concebida por Miguel e Diogo, a Caos logo ganharia mais um sócio, Lucas.
Com algum tempo de estrada e clientes grandes como Itaú, os sócios começaram a questionar seu modelo de negócio e surgiu a vontade de empreender de uma maneira diferente: em busca de um impacto maior e com mais liberdade para executar os projetos. Em 2014, acontece então uma mudança de modelo de negócio e o que era uma consultoria de inovação transforma-se em um berço de spin-offs, que seguem uma mesma essência: estar conectada à tecnologia, propor uma solução e ser sustentável como negócio. Entre os três novos empreendimentos que surgiram dessa forma estava o Nave à Vela, dedicado à educação.
O primeiro projeto do Nave foi desenvolvido sob encomenda para alunos de ensino médio de um tradicional colégio privado de São Paulo, o Porto Seguro. “O Social Innovation foi feito em parceria com o D-Lab, um laboratório do MIT, e tinha como proposta fazer imersões em uma comunidade de baixa renda para co-criar ao longo do ano letivo projetos em um makerspace visando resolver problemas reais”, conta Lucas.
Desta vivência com a comunidade e com uma cooperativa de recicláveis, surgiram soluções interessantes, como um carrinho para facilitar o transporte do papelão, uma esteira para separar vidro e um protótipo para derreter latinhas de alumínio, transformando-as em barras (que têm um valor de venda maior). A fórmula se provou efetiva, e eles configuraram a empresa com base nisso: educação para transformar.
COMO PREPARAR CRIANÇAS E JOVENS PARA OS NOVOS TEMPOS
Lucas conta que os conteúdos e dinâmicas do negócio buscam formar adultos com as seguintes características: maker (se divertir explorando tecnologias e criações e buscar entender como funciona o mundo), designer (lidar com sistemas complexos e propor soluções para ajudar as pessoas) e empreendedora (testar rapidamente ideias para corrigir os erros e aprender a melhor forma de realizá-las).
Os currículos desenhados para o ciclo completo da educação básica, do Fundamental I ao Ensino Médio são compostos de quatro elementos: Competências Socioemocionais (autonomia, colaboração, empatia, resolução criativa de problemas), Design, Empreendedorismo e Tecnologia. No currículo proposto para o 6º ano do fundamental, por exemplo, os estudantes são apresentados a princípios da eletrônica, metodologias de design e a competências do universo do empreendedorismo, em aulas sequenciais.
As aulas têm 1h30 de duração e acontecem a cada 15 dias. Entre os projetos em curso este ano há um, da turma do 7º ano do colégio Albert Sabin, que consiste em desenvolver armadilhas para capturar o mosquito da dengue Aedes Aegypti. O processo passa por entender a biologia do inseto, por mapear os pontos de maior incidência (momento em que aplicam conceitos de estatística) e prevê ainda conscientização da comunidade escolar acerca do problema.
HORA DE AJUSTAR PARA CRESCER COM MAIS SEGURANÇA
O modelo de negócios do Nave vem do valor recebido pela criação e implantação dos espaços maker. Compreende a criação do espaço em si (composto basicamente por ferramentas de marcenaria, componentes de eletrônica e uma bancada, sendo que os mais sofisticados contam com máquinas de fabricação, cortadora a laser e 3D), a compra de materiais, a escolha da equipe (que inclui um facilitador que pode ser um designer, um engenheiro, um professor), o treinamento constante dessa equipe e o acompanhamento do projeto (auxiliando na comunicação com os pais e a comunidade escolar).
Os contratos geralmente são de quatro anos. Para se ter ideia, apenas o investimento no espaço maker em uma escola custa de 25 mil a 80 mil reais. O valor dos serviços do Nave à Vela, porém, não pode ser divulgado no momento pois, justamente por conta do crescimento recente, os sócios estão passando por uma aceleração, do Instituto Quintessa, e irão se reposicionar para seguir crescendo. O faturamento deste ano já superou 1 milhão de reais.
Em 2016, o Nave estava em apenas cinco escolas e, agora, vão fechar 2017 com 20 — nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Cada escola representa cerca de centenas a milhares de alunos, dependendo do seu tamanho (entre elas estão Elvira Brandão, Vera Cruz, Colégio Santa Cruz, Colégio Albert Sabin e Escola Viva). Até 2018, eles querem impactar 15 mil estudantes em seus maker spaces. A expansão deverá passar a incluir também escolas públicas, prevê Lucas.
Para ele, que se dedica a um mestrado na Poli sobre como os espaços makers estão transformando a educação básica, o universo maker é a bola da vez: “A aposta em um aluno com papel ativo em seu processo de aprendizagem é uma tendência”. A missão do Nave à Vela segue sendo provocar uma mudança na cultura escolar por meio da tecnologia e dos princípios do design e do empreendedorismo. Há um oceano imenso para se navegar.
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Intitulado Solar Community Hub, projeto feito em parceria entre a Dell, Intel e FAS (Fundação Amazônia Sustentável) fornece acesso a internet, atendimento em telessaúde, monitoramento ambiental e propostas educacionais.