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“O negócio dos carros vai mudar drasticamente nos próximos dez anos”

Ricardo Alexandre - 9 nov 2016
Sergio Marchionne, executivo-chefe global da Fiat Chrysler: parceria com o Google e projeto de carros autônomos já para 2017
Ricardo Alexandre - 9 nov 2016
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Ele é o homem que comandou a fusão entre as gigantes Fiat e Chrysler em 2014, o bacharel em Filosofia, mestre em Business Administration, formado também em Direito e CEO da Fiat S.p.A. desde 2003. Com seu estilo decidido, traçou a aliança estratégia entre os dois grupos e desenhou a fusão de ambos na Fiat Chrysler Automobiles (FCA). Num movimento típico de sua forma de gestão, desembarcou em Recife no final de setembro para coordenar reuniões da máxima instância executiva do grupo – o Group Executive Council – e também para participar dos eventos de lançamento do Jeep Compass no Brasil.

Italiano naturalizado canadense, e executivo fundamental para as relações comerciais entre Itália e Estados Unidos, Sergio Marchionne chegou ao Brasil lembrando que o país tem um papel fundamental a cumprir nos negócios globais do grupo. Ele recebeu jornalistas brasileiros e de países vizinhos da América Latina para uma conversa de cerca de uma hora. Confira abaixo os melhores momentos da entrevista do executivo-chefe da FCA:

“Uma coisa que você precisa saber sobre a Jeep”

“Em 2009, a Jeep vendeu 300 mil carros aproximadamente. Nós vamos vender um milhão e meio este ano. Cresceu cinco vezes em seis anos. E esta instalação [o Pólo Automotivo Jeep, de Goiana – PE] agora, com o lançamento do Compass, vai contribuir para aumentar a penetração da marca em escala global, ao lado de mercados como a China, a Índia e os Estados Unidos. Então nós estamos investindo nos locais corretos.”

Fim da crise

“Minha expectativa é que provavelmente veremos alguma melhora no mercado [brasileiro de automóveis] por volta do segundo ou terceiro trimestre de 2017. Os sinais de recuperação gradual já estão aqui. Mas é preciso ter cautela. Não vai acontecer da noite para o dia. Temos que ter paciência com o Brasil. É em tempos como este que você não deve desesperar. Este é um país que é tanto jovem quanto engenhoso. Tenho total confiança de que o Brasil vai sair da crise atual. Não tenho dúvida disso. E o resto do mundo quer que o Brasil saia da crise. De vez em quando você precisa ser capaz de emergir sobre os eventos pelos quais está passando agora para enxergar o futuro através disso. Será muito melhor.”

“Temos sorte que o mercado esteja em baixa”

“O negócio [automobilístico] consome grandes quantidades de capital. Se você olhar o que aconteceu aqui no Brasil, o mercado em 2012, quando construímos [o Polo Automotivo Jeep] era completamente diferente, tanto no Brasil quanto na América Latina. Por um lado, o investimento está feito, e o mercado perdeu praticamente metade do volume. Por outro lado, temos sorte que o mercado esteja em baixa. Porque isso nos permite voltar ao Polo Automotivo Fiat [em Betim, MG] e fazer todas as mudanças que precisamos sem perder volume de venda. Betim chegou a produzir um carro a cada 20 segundos. O mercado estava forte demais e intervir na fábrica naquele momento teria sido um desastre absoluto. Agora a mudança está acontecendo um passo por vez e eu acho que em quatro anos a fábrica de Betim será irreconhecível. Esperamos que até lá o mercado brasileiro tenha retomado o crescimento.”

Carros autônomos já em 2017

“[Nossa parceria com o Google está indo] muito bem, estamos muito entusiasmados com esse relacionamento. Acho que vocês verão nossos primeiros veículos no primeiro trimestre do ano que vem. Uma vez que a tecnologia se torne bem aceita, o custo da direção autônoma não será muito grande. Será possível torná-la disponível para a maioria dos consumidores por um preço razoável e essa será uma excelente ferramenta para melhorar sua qualidade de vida. Há muitas situações em que o seu real desejo de dirigir não é lá muito grande. Por exemplo, se você ficar preso num engarrafamento na estrada, quando você só para e acelera e não pode fazer nada… Há usos melhores do seu tempo do que sentar lá e dirigir feito um robô apenas tentando evitar bater em alguma coisa. A máquina vai fazer um trabalho tão bom quanto o seu, se não melhor. O negócio automotivo vai mudar drasticamente na próxima década. E o fato de termos sido escolhidos pelo Google para ser seu parceiro de desenvolvimento é uma indicação da vontade da FCA de abraçar a mudança e colaborar com pessoas que tradicionalmente não são fabricantes de carros. E nós temos interesse em entrar nesse espaço. Precisamos permanecer completamente abertos para oportunidades desse calibre.

Combustíveis alternativos

“Nós compreendemos o valor do etanol. Vocês precisam continuar a fomentá-lo. É uma solução significativa em termos do impacto ambiental e quando você segue os números, descobre que a maneira mais barata de derrubar as emissões [de carbono] é através do etanol. Dólar por dólar, não existe melhor maneira de fazer isso. Dito isso, digo que a eletrificação virá, em todos os nossos carros, nos próximos cinco anos. Mas não contem com a eletrificação como sendo a única solução.”

Esta matéria pode ser encontrada no Mundo FCA, um portal para quem se interessa por tecnologia, mobilidade, sustentabilidade, lifestyle e o universo da indústria automotiva.

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