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O Pura Caffeina é café tratado como algo quase sagrado. É, também, uma missão de espalhar conhecimento

Rafael Tonon - 7 fev 2018 O negócio é também a reinvenção pessoal de Gisele Coutinho, que iniciou a carreira como jornalista e se tornou expert em café com a mesma missão: espalhar conhecimento.
O negócio é também a reinvenção pessoal de Gisele Coutinho, que iniciou a carreira como jornalista e se tornou expert em café com a mesma missão: espalhar conhecimento.
Rafael Tonon - 7 fev 2018
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O cafezinho é quase uma religião no Brasil. De manhã, antes e depois do almoço, no final da tarde, entre uma reunião e outra. A bebida feita na hora é um convite pra um papo de negócios, para estender a visita ou um digestivo pós-refeição. O país consome mais de 20 milhões de sacas de café por ano (o segundo maior consumo do mundo, atrás apenas dos EUA, segundo a Organização Internacional do Café), ou 80 litros per capita. Nos últimos anos, o mercado dos especiais cresceu mais (15% em 2016), enquanto o do café “comum”, só 2%. Causa e consequência disso, cada vez mais marcas apostam no nicho, abrindo novas cafeterias toda semana, para receber estes novos consumidores. É neste universo que se insere o Pura Caffeina, um serviço de delivery de cafés especiais que é, também, a missão de vida de sua fundadora, Gisele Coutinho, 36 anos, determinada a ajudar esses novos bebedores a se encontrarem nesse mundo complexo de diferentes métodos de extração, tipos de grão e de características sensoriais.

Depois de trabalhar em uma revista especializada (a Espresso), onde aprendeu muito sobre a bebida, Gisele, que é jornalista, sentiu que precisava “mostrar o maravilhoso mundo do café”, como diz, para as pessoas que não sabiam como apreciá-lo. “Criei um perfil nas redes sociais para compartilhar sobre o assunto e, quando vi, já estava comercializando café entre amigos e família, que adoravam as dicas e as sugestões que eu dava”, conta.

Assim, de forma quase acidental, nasceu o negócio, que começou em 2016 como um serviço de delivery dos cafés que Gisele garimpava junto aos melhores produtores de grãos do país (muitos deles ela conheceu no tempo em que fez reportagens sobre o tema, muitas vezes viajando para as regiões de cultivo).

Café não é só café. Para Giele e o Pura Caffeina, é estilo de vida, é missão.

Café não é só café. Para Gisele e o Pura Caffeina, é estilo de vida, é missão.

“Em março daquele, ano fui demitida da redação, cheguei em casa e no mesmo dia postei no Facebook: ‘agora entrego café na sua casa!’ Eu não tinha grana para investir em uma cafeteria ou outro negócio relacionado e foi uma saída ousada: fazer o café de qualidade chegar na casa das pessoas poucos dias depois da torra, que é algo primordial para a qualidade da bebida e que é difícil conseguir em mercados”, conta ela, que só sabia que queria continuar trabalhando com café.

Para colocar o negócio de pé sem nenhum investimento inicial, ela contou com a ajuda de amigos. “A logomarca do Pura Caffeina, que seria super cara, foi feita por um grande amigo talentoso que trocou o trabalho por café. Fui fazendo desse jeito para viabilizar.”

Ela já não tinha um emprego, mas tinha um negócio nascendo. Gisele passou a garimpar cafés, comprar pequenas quantidades direto dos torrefadores e ter amostras diferentes toda semana, para proporcionar as tais “experiências sensoriais” aos clientes que conquistou. “Me inspirou o fato de as pessoas próximas a mim não conhecem café especial, assim como eu não conhecia antes de trabalhar numa revista especializada. Esse mercado ainda é pequeno, mas é crescente”, diz.

MENOS GRANA, MAIS QUALIDADE DE VIDA

No início de seu empreendimento, Gisele diz que não foi incentivada por números (ainda que eles fossem favoráveis), mas sim pela ideia de ter um negócio inovador, que mesmo com uma margem pequena de lucro, pudesse lhe dar qualidade de vida, tempo para curtir o quintal de casa, a cachorra, praticar jiu-jítsu, respirar. Ela fala a respeito:

“Eu sou mulher, negra, cresci na periferia do interior de São Paulo e trabalho desde os 12 anos. Não aguentava mais trabalhar mais de dez horas por dia e trocar energia com pessoas que nem sempre você quer estar perto”

Era hora de empreender uma mudança na própria vida, ainda que a principal motivação, ela diz, tenha sido a de formar bebedores de cafés especiais. A seu ver, este é também um jeito de sair da própria bolha. “Em qualquer área, quando o profissional que se especializa muito, fica dentro de uma bolha. Ele estuda o que é excelente, mas, quando vê, está falando tecnicamente sobre aquilo tudo e só seus pares o entendem”, afirma. Era hora, portanto, de compartilhar conhecimento, de ser uma guia e orientar os consumidores que quisessem conhecer mais da bebida. “Com o Pura Caffeina, faço exatamente isso, tanto nas vendas por email, Instagram e Facebook, quanto nos eventos que participo e na relação com clientes”, conta.

A seleção de cafés da semana é enviada em uma newsletter, que traz informações técnicas sobre os cafés, dicas de como prepará-los, foto do produtor, cafeterias para visitar. “Não importa a classe social, muita gente não sabe o que é café especial e não pensa no trabalho desde o plantio de uma muda e quem está envolvido nessa cadeia até o café chegar na xícara.”

É MAIS QUE CAFÉ, É SOBRE EXPANDIR CONHECIMENTO

Gisele foi a primeira pessoa da família, tanto do pai como da mãe, a ter diploma de graduação. Ela conta que seus pais trabalharam na roça, inclusive as de café. “Quando me formei jornalista, queria que eles entendessem meus textos. Sempre fui apaixonada por transformar linguagens técnicas em ‘informação de fácil digestão’”, diz ela, que se especializou em Jornalismo Científico (pela Unicamp) e cujo projeto de conclusão do curso de Jornalismo foi um vídeo orientando profissionais da área de Comunicação e Ciência sobre a importância de tornar um diálogo possível.

“Na minha primeira capa de revista, visitei em dois dias umas cinco fazendas em Carmo de Minas, sul de Minas Gerais. Lá tive a certeza que eu praticaria isso tudo. O assunto era complexo: identidade geográfica, origem dos cafés da Mantiqueira”, ela conta, e prossegue, descrevendo o propósito que acabaria guiando sua vida dali por diante:

“Eu queria que tanto os meus pais quanto os trabalhadores daquela fazenda entendessem tudo que eu viesse a escrever. Queria que o mundo do café fosse entendido por todos”

De volta ao momento atual, já como empreendedora — e, portanto, precisando não só se fazer entender como fazer o seu negócio ser financeiramente sustentável — nem tudo que ela visualizou como estratégia deu certo. É assim mesmo, e mudar faz parte.

Logo Gisele percebeu que o delivery não cumpria toda a missão, e que ela poderia diversificar aind amais sua atuação, oferecendo também cursos para ajudar essas pessoas a degustarem e até comprarem seus cafés – e assim, também, implementar a entrada de recursos. Atualmente, além da venda de café moído ou em grão com entregas à domicílio, o Pura Caffeina realiza eventos particulares e em empresas, além de palestras e mini-cursos para formar novos consumidores de café de qualidade no Brasil.

SÓ DELIVERY NÃO BASTA, É PRECISO ENTREGAR MAIS

O mini-curso de maior sucesso, ela conta, é o “Domine o seu café coado”, com duas a oito turmas por mês e ministrado em parceria com a especialista em cafés especiais e barista Flavia Pogliani, dona da The Little Coffee Shop, uma cafeteria de ínfimas dimensões, que fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo. “Nós duas concordamos em ensinar o básico para formar novos apaixonados pela bebida e assim fomentar o mercado”, diz Flávia.

O delivery do Pura Caffeina não é assinatura: o cliente só pede o que quer. A oferta depende da produção, sempre o mais fresca possível.

O delivery do Pura Caffeina não é assinatura: o cliente só recebe o que pedir. A oferta depende da produção, sempre o mais fresca possível.

O mini-curso ensina desde como comprar o grão até o preparo, explicando sobre os diferentes resultados obtidos em coadores diversos: madeira, cerâmica, porcelana, plástico etc. e com formatos e orifícios diferentes para a extração. Custa 152 por pessoa e tem duração de quatro horas.

Já o preço por hora para palestras e degustações em eventos depende de local, público, entre outros fatores, e por isso são negociáveis. Mas Gisele conta que já fez desde degustações guiadas para empresas e também eventos (em que monta uma estrutura para servir café passado na hora) como casamentos, feiras e mesmo atividades dentro de algumas companhias. “É um ramo bem interessante, porque permite ganhar mais em menos tempo, mas esses eventos não acontecem com tanta frequência”, diz.

A maior parte do faturamento do Pura Caffeina vem mesmo do serviço de entrega de cafés, que conta com 700 clientes cadastrados. O valor do pacote de 200g começa em 22 reais e vai subindo, de acordo com a origem, produtor, entre outros fatores. Quanto mais especial (ou raro) o café, mais caro ele é, claro. As entregas são feitas numa área de cobertura grande em São Paulo, com frete de 8 até 22 reais. Para distribuir o café, Gisele conta com os serviços da ProntoSP, que faz as entregas de bicicleta. O valor cobrado pelas entregas é repassado diretamente para a empresa.

“Também envio por Correios para quem estiver em outra cidade. Dá para receber tudo rapidinho por Sedex, garantindo a torra fresca”, diz a empreendedora. Os pedidos chegam direto por e-mail, Whatsapp ou pelas redes sociais. Até o momento, o volume ainda não demanda uma plataforma de loja online (o que necessitaria de um investimento maior), e também permite uma relação mais direta com o cliente, já que Gisele pode explicar mais sobre o perfil sensorial dos cafés que vende, as fazendas e a produção.

COMO CRESCER E CONTINUAR SENDO FELIZ?

Ela também conta que, por vezes, gosta de ficar atrás do balcão de cafeterias preparando cafés para ter um contato maior com o público – para tanto, faz alguns períodos de “estágio” com amigos proprietários desses estabelecimentos. “Estar próxima de clientes que estão descobrindo nossa bebida de qualidade é essencial para o meu trabalho”, diz. Também é importante porque é uma forma dela sentir como seria toda a rotina de ter, ela própria, um estabelecimento. Ela segue pensando se abre ou não uma cafeteria. “De uma coisa tenho certeza, se eu abrir, terá de ser um negócio que me possibilite também seguir e ampliar o delivery, que é meu foco, por isso acho bem difícil acontecer”, conta.

Agora, em 2018, o Pura Caffeina vai passar por uma mentoria do projeto Abacaxi, da Base Colaborativa, que dá apoio a nano empreendedores e tem como objetivo ajudar na profissionalização dos seus negócios. “Serei acompanhada por eles pra por finanças e área jurídica nos trilhos e também para impulsionar o negócio”, ela diz, animada.

Gisele conta que foi assistir a um evento no Campus São Paulo do Google sobre O Poder da Colaboração e foi sorteada para falar da sua empresa e dos desafios. “O pessoal da Abacaxi estava lá e me fez o convite. Depois de uma sabatina, fui escolhida para integrar o projeto”, diz. “Estou muito feliz de pensar que, depois de um ano difícil como foi 2017, vou poder contar com essa ajuda. É importante para a gente que faz tudo sozinho, né?”, questiona, já sabendo a resposta. Haja café, Gisele!

DRAFT CARD

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  • Projeto: Pura Caffeina
  • O que faz: Delivery e cursos sobre cafés especiais
  • Sócio(s): Gisele Coutinho
  • Funcionários: 1 (apenas Gisele)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: março de 2016
  • Investimento inicial: Não houve
  • Contato: [email protected]
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