Desde a sua fundação, em 2008, a Singularity University – uma “universidade” focada no estudo e realização de empreendimentos disruptivos e tecnologias exponenciais, localizada no parque de pesquisas da NASA no Vale do Silício, na Califórnia, – propõe o Global Impact Challenge, um desafio que consiste em criar soluções para problemas urgentes no mundo todo. Neste ano, a iniciativa chegou ao Brasil pela primeira vez na sua versão completa, em parceria com a Universidade Positivo e organizado pela Mkt4Edu. Os projetos, que devem propor soluções voltadas à Educação (o tema desta edição), poderão ser inscritos até 23 de abril por meio do site do programa.
O autor do projeto vencedor – que será escolhido no dia 3 de maio, em uma final em Curitiba – ganhará a oportunidade de participar gratuitamente do Singularity University Global Solutions Program e contará com suporte da rede de ex-alunos e mentores da Singularity para desenvolver sua iniciativa.
No ano passado, o Global Impact Challenge atraiu gente de mais de 40 países. Encarregado de promover o desafio, Pascal Finette, vice-presidente de Startup Solutions na SU, conversou com o Draft sobre os desafios que os empreendedores de impacto – ele não é fã do termo “empreendedor social” – enfrentam para desenvolver soluções para questões urgentes como energia, meio-ambiente, alimentação, espaço, água, resistência a desastres, governabilidade, saúde, educação, prosperidade e segurança.
A cada ano, ele diz, o objetivo do Challenge é encontrar “90 indivíduos excepcionais” e levá-los ao campus da universidade. Lá, eles passarão de nove a 10 semanas estudando tecnologias e trocando conhecimento com outros alunos. Em uma entrevista feita por videoconferência, diretamente da Califórnia, ele contou, em apenas 17 minutos, quais as expectativas em relação aos empreendedores brasileiros e também falou dos pré-requisitos para que pessoas que estão longe da realidade do Vale do Silício consigam inovar e gerar impacto.
O programa deste ano busca projetos especificamente ligados a quateo eixos: Acesso à Educação (ensino à distância com ou sem o uso de tecnologia); Educação para Habilidades Socioemocionais (criatividade, empatia, resolução de problemas, empreendedorismo); Educação para o Meio Ambiente e Educação Baseada em Projeto (PBL, gamificada, transdisciplinar). Leia, abaixo, o papo com Pascal Finette:
Quais projetos derivados do Global Solutions Program já se tornaram realidade?
Temos uma empresa chamada Mirocolus, que usa um teste baseado em DNA para procurar sinais de alguns tipos de câncer por meio de um exame de sangue muito barato, por menos de 200 dólares. É um teste confiável e revolucionário em termos de diagnóstico. Há também a Modern Meadow, que cria busca revolucionar o uso do couro e cria gado em laboratório, sem prejudicar o animal. A produção de carne é um problema global hoje em dia.
No seu entender, quais são os problemas mais urgentes, relacionados à Educação, e que precisam ser solucionados?
Temos 757 milhões de pessoas no mundo que não sabem ler nem escrever – isso representa 10% da população mundial. Para mim, este é primeiro problema, que é da base da pirâmide e prejudica muito a evolução econômica dessas pessoas. Depois, precisamos levar mais educação para quem não pode pagar. Inúmeros estudos indicam que isso leva a uma democracia mais estável, com mais respeito aos direitos humanos. Por outro lado, ainda estamos educando as pessoas em um modelo ancorado na Revolução Industrial, quando precisamos ensinar a elas a ter mais capacidade crítica, Design Thinking, compaixão, empatia… Porque muitas informações já obtemos pelo smartphone, em questão de segundos. A questão é: como fazer isso de forma escalável e melhor do que já fizemos no passado? É o que queremos descobrir, e a tecnologia é um meio para isso.
Quais são os maiores desafios que os empreendedores de impacto encontram?
Muitas pessoas têm dificuldade de começar do zero. É preciso entender o problema sob todos os aspectos, depois escolher um ponto de partida, descobrir onde você pode gerar um impacto. Então, estimulamos o pensamento no MVP, de levar o projeto a uma ideia mínima viável. O segundo passo é mais difícil: descobrir qual é a sua estratégia, entender o que é mais importante no projeto e como você vai financiar isso e vender a sua história.
Empreendedores sociais não são tão diferentes de outros empreendedores, por isso tenho ressalvas em relação a este rótulo
Afinal, todo empreendedor causa um impacto social, mesmo que não seja conceitualmente bom ou grande. Toda invenção afeta a sociedade de alguma maneira.
Como é possível desenvolver um projeto que vá além da ideia e tenha potencial real de melhorar a vida das pessoas?
Uma coisa importante de entender é que nem sempre existem problemas com potencial de mercado, mas para a maioria deles, há. Se você quer ajudar alguém que mora em uma favela, por exemplo, precisa saber que ela não pode pagar muito por água potável, eletricidade, educação. A pergunta é: como você entrega um produto de boa qualidade, de modo acessível?
O que precisamos é oferecer infraestrutura para inovadores e empreendedores resolverem esses problemas, desde incubação, aceleração, mentoria, network, espaço físico. Além disso, precisamos criar modelos a serem seguidos, porque as pessoas que vemos a mídia hoje – como Mark Zuckerberg e os fundadores do Google – são distantes da realidade de muita gente. É preciso evidenciar o empreendedor local de cada região, alguém com quem as pessoas consigam se relacionar, que sirvam de inspiração para outros inovadores.
Como você enxerga o potencial dos empreendedores brasileiros nas iniciativas de impacto social?
O Brasil está numa posição única, porque é uma economia que cresce rápido e tem um mercado local grande.
Como empreendedor, o brasileiro pode pensar em negócios sem necessariamente se preocupar com internacionalização, pelo menos no primeiro momento
Tenho feito muitas pesquisas na América Latina e noto que, por conta da evolução do Brasil como nação, existe uma força de vontade muito forte na população. Os brasileiros são empreendedores por definição, porque levam uma vida mais difícil, se comparados aos cidadãos médios da Europa ou dos Estados Unidos, e isso gera um desejo real de melhorar a sua vida. É um bom ponto de partida.
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