Rotulagem climática é a prática de estampar nas embalagens de produtos o tamanho da pegada de carbono que eles deixam no ambiente – desde a extração da matéria-prima, processamento, distribuição, armazenagem, vida útil e descarte, passando pela energia consumida e pelo transporte envolvido em cada uma dessas etapas.
Da mesma maneira que itens alimentícios levam seus ingredientes e níveis calóricos expostos nos rótulos, empresas deste e de outros setores estão investindo em divulgar seu impacto ambiental de maneira direta aos clientes. De acordo com o jornal americano The Washignton Post, a Unilever declarou que vai rotular climaticamente sua linha de 70 mil produtos, de sabonetes a bebidas.
A medida-base estampada na maioria dos rótulos climaticamente responsáveis é o kg CO2e, que indica a quantidade de quilos de carbono emitidos. Para fins de comparação, um carro pode equivaler a 8.000 kg CO2e, enquanto um tênis pode ser responsável pela emissão de 9 kg CO2 – para alimentos, a medida costuma ser calculada proporcionalmente para cada quilo do item, independentemente do volume da embalagem.
A demanda pela rotulagem climática por ora, tem partido de consumidores – dispostos a fazer escolhas mais conscientes em termos ambientais – e de empresas que investem na adoção, promoção e divulgação de sua responsabilidade ambiental. Um outro fator de demanda potencial, mais ainda latente, são as regulações governamentais.
Ainda que haja empresas e organizações independentes engajadas em desenvolver e implementar metodologias para calcular a pegada de carbono de variados produtos, ainda faltam diretrizes de órgãos regulatórios para padronizar os cálculos e a exibição dos rótulos – estabelecer normas tornaria o processo todo mais transparente e os resultados mais inteligíveis para o consumidor.
No meio do caminho entre quem define os padrões de rotulagem e quem vai ler as informações na prateleira, há um outro gargalo: calcular as emissões de um item manufaturado é um processo complexo, que envolve inúmeras etapas – muitas delas sem uma metodologia de cálculo estabelecida –, e dispendioso.
Este alto custo operacional e financeiro tem sido um fator inibidor para que mais empresas adotem a rotulagem climática – o que ocorreu com a rede de supermercados britânica Tesco, que se comprometeu a rotular suas dezenas de milhares de produtos em 2007 e desistiu cinco anos depois.
Outro potencial problema tem a ver com um cenário hipotético, em que as empresas sejam legalmente obrigadas a rotular as emissões de seus produtos: há o risco de que os cálculos de emissão sejam feitos de maneira precária por falta de recursos para investir num processo tão complexo.
Na perspectiva de quem compra os produtos, a maior dificuldade é entender as informações estampadas, uma vez que a quantidade de CO2 emitida por uma fração do produto que está na prateleira do supermercado pode não significar muito isoladamente, sem parâmetros de comparação. Como saber, por exemplo, se um leite com rótulo climático emite menos gases estufa do que o concorrente que simplesmente não calculou nem rotulou suas emissões?
É POSSÍVEL MELHORAR A LEITURA DOS RÓTULOS?
Uma boa iniciativa para ajudar o consumidor a entender a rotulagem climática, facilitando a tomada de decisão na hora da compra, vem da rede de lanchonetes americana Panera Bread.
Embora já meça sua pegada de carbono desde 2015, até há pouco tempo a companhia penava para tornar esses complexos cálculos palatáveis para os clientes. A saída foi simplificar a receita antes de servir a rotulagem climática. Em parceria com o World Resources Institute (WRI), a Panera adotou um selo para identificar refeições que não ultrapassam os limites de 3,59 kg CO2e no café da manhã e 5,38 kg CO2e no almoço ou no jantar.
Estes números, de acordo com o WRI, estão alinhados à meta do Acordo de Paris de reduzir em 25% as emissões de gases estufa relacionadas à alimentação até 2030. Os itens que estão abaixo dessa linha de corte recebem o selo de Cool Food Meal (“refeição legal” em tradução livre). Para facilitar a identificação e a escolha do cliente, o selo é um emoji sorridente na cor verde, bem mais apetitoso do que uma sopa de letrinhas e números sem tempero.
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.