Investidores ativistas são aqueles que, individual ou coletivamente, compram ações de empresas com a intenção de influenciar suas políticas e decisões – e de que essas mudanças valorizem os ativos, claro.
E a prática é muito mais antiga do que você possa supor, coisa do século 17. À época, o belga Isaac Le Maire (1558–1624) já atuava como pioneiro do investimento ativista, combatendo, como acionista majoritário e CEO, diversas decisões da Companhia Holandesa das Índias Orientais – uma das desavenças mais famosas resultou na descoberta do Cabo Horn, ponto mais ao sul das Américas.
De lá para cá, o investimento ativista só cresceu: de acordo com uma pesquisa da Insightia, 896 empresas empresas globais foram alvo de demandas de investidores ativistas em 2019 – em 2020, o número se manteve na casa das oito centenas.
Um estudo da consultoria FactSet apontou que, desde 2009, ao menos 15% das empresas no S&P 500 experimentaram campanhas promovidas por investidores ativistas. Um levantamento da Hedge Fund Research revelou que os ativos em fundos de gestão com características ativistas saltou de US$ 35 bilhões em 2008 para US$ 130 bilhões em 2015 nos EUA – um crescimento médio de 21% por ano.
Há várias maneiras de praticar o investimento ativista, mas dois dos mais comuns são:
De acordo com um estudo publicado pelo Boston Consulting Group (BCG), “investidores ativistas frequentemente são vistos como agentes oportunistas da governança corporativa.” Conhecidos como ativistas hit-and-run, eles costumam priorizar retornos de curto prazo (por volta de 6 meses) e se manifestam publicamente para requerer mudanças de retorno rápido, como cortes de custos ou recompra de ações via emissão de dívida – ações não alinhadas com geração de valor no médio e no longo prazo.
Por outro lado, o BCG aponta que vem crescendo no mercado a participação de investidores ativistas de outra característica: os ativistas construtivos. Para eles, o horizonte de atuação e de retorno é maior, de pelo menos 3 anos, com foco na geração de valor contínua e sustentável.
Como contrapartida em relação a esse compromisso, os ativistas construtivos costumam demandar da liderança das empresas os seguintes itens:
O BCG cita como exemplo a Cevian Capital, maior gestora de investimentos ativistas da Europa, com 16,5 bilhões de euros na carteira. Segundo o relatório, a Cevian recruta profissionais altamente capacitados para analisar o potencial de melhorias de longo prazo em estratégia corporativa, operações e estrutura organizacional de possíveis alvos de investimento.
Desse modo, só aporta recursos em empresas cuja liderança esteja aberta a diálogos construtivos. E os resultados validam o approach: o maior fundo no portfólio da Cevian obteve retorno anual médio de 13% nos últimos anos.
Aqui, o exemplo é da McGraw Hill, conglomerado atuante em serviços financeiros, educação e informação. De acordo com o estudo do BCG, um grupo de investidores ativistas, liderado pela empresa Jana Partners, analisou que o desempenho da empresa nos negócios ligados à educação era inferior ao de outros setores da empresa e que essa operação concorria com alternativas mais rentáveis. Em 2013, a McGraw Hill vendeu seu braço de educação, e as ações da McGraw Hill Financial dobraram de valor.
Mais uma atuação da Cevian foi usada como exemplo pelo BCG, desta vez, na divisão de caminhões da Volvo: após apresentar resultados insatisfatórios em 2014, a Cevian fez campanha para que o executivo Martin Lundestedt (ex-Scania) assumisse como CEO. O compromisso era reestruturar o negócio e melhorar os resultados num prazo determinado. A mudança na gestão foi vista com bons olhos pelo mercado, impactando positivamente as ações.
Para mudar os rumos de uma empresa a fim de gerar mais valor, os investidores ativistas podem adotar diversas táticas. Abaixo, listamos algumas delas, das mais amenas às mais agressivas:
Solicitação para se reunir com a alta gestão da empresa (e/ou com o conselho) para discutir pontos de vista dos acionistas com a companhia;
Uma resolução solicitando à empresa que siga um determinado curso de ação que os investidores pretendem submeter à votação dos acionistas;
Campanha que visa persuadir os acionistas a votar contra os membros do conselho ou a recusar o apoio a determinados assuntos;
Tentativa de substituir parte ou toda a diretoria de uma empresa por nomes indicados pelos acionistas ativistas
Sem dúvida. De acordo com um relatório publicado pela consultoria PwC, o compromisso com a agenda ESG – incluindo a sustentabilidade, justiça social e combate a mudanças climáticas – é uma prioridade cada vez maior para investidores ativistas. Nas palavras da consultoria:
“Ativistas de fundos de hedge estão pressionando as empresas a adotar práticas mais sustentáveis e a aumentar a divulgação sobre isso. Esses investidores enxergam melhores métricas ESG como um caminho para gerar valor para o negócio.”
Esse foco em ESG não é fruto de idealismo, mas um caminho sem volta para valorizar as empresas: de acordo com um relatório publicado em 2019 pelo Bank of America, 90% das falências entre as companhias do S&P 500, entre 2005 e 2015, envolveram negócios com métricas ESG baixas.
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