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O Quintessa promove a ‘gestão consciente’ para impulsionar startups com propósito

Bruno Leuzinger - 5 dez 2018
Anna de Souza Aranha (à esq.) e Gabriela Bonotti, as diretoras do Quintessa; ao fundo, fotos de empreendedores acelerados
Bruno Leuzinger - 5 dez 2018
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A Courrieros investe em entregas ecológicas, com ciclistas em vez de motoboys. A TNH Health tem foco no monitoramento de pacientes crônicos por meio de chatbots que disparam mensagens a hospitais e planos de saúde. A Hand Talk desenvolve plataformas que traduzem textos e vídeos para a Linguagem Brasileira de Sinais, promovendo a inclusão digital de pessoas com deficiência auditiva. O que as três startups acima têm em comum, além de praticar empreendedorismo com propósito?

A resposta: Quintessa.

“O nosso propósito é transformar o país pelo empreendedorismo”, diz Gabriela Bonotti, uma das diretoras da aceleradora baseada no Civi-co, o polo de negócios de impacto cívico-social em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. “A nossa expertise é em acelerar negócios de impacto. Independentemente da fase em que estejam, possuímos o know-how para assessorá-los. Estruturamos a gestão, impulsionamos o crescimento e captamos investimento.”

O criador por trás do Quintessa é José Leopoldo Figueiredo, que lá nos anos 1980 fundou a corretora Hedging Griffo, adquirida em 2006 pelo banco de investimentos Credit Suisse. Em 2009, decidiu tirar do papel o plano de auxiliar empreendedores de impacto num país notoriamente hostil ao empreendedorismo (de qualquer tipo).

“O Léo havia empreendido durante 30 anos, conhece muito bem a dificuldade de se empreender no Brasil”, diz Gabriela. “Ele sabia o quão solitária é a decisão do empreendedor e queria dedicar sua experiência para ajudar outros empreendedores. Além disso, desejava deixar um legado de impacto positivo. Na época não existia o conceito de ‘negócios de impacto’, então foi um movimento intuitivo de enxergar as empresas como um veículo para geração de impacto.”

Na origem, em 2009, o Quintessa vivia a partir de doações do fundador. Esse status hoje mudou, mas o carro-chefe segue sendo o programa de aceleração de Tração, com duração de um ano, voltado para negócios já em fase operacional. “O programa consiste num mês de diagnóstico e 11 meses de plano de aceleração. E é totalmente customizado a partir da realidade do empreendedor, diagnosticada naquele primeiro mês”, diz Gabriela.

No finzinho de 2016, ela e Anna de Souza Aranha, ex-colegas de Administração da FGV, assumiram o comando com a incumbência de buscar sustentabilidade financeira. A guinada incluiu uma diversificação de portfólio, com a criação de novos programas. A Aceleração Focada dura de quatro a cinco meses e tem foco na validação do modelo de negócio; há também a Aceleração com foco em Escala e programas em parceria, em que o Quintessa modela iniciativas sob medida para (grandes) empresas e instituições que queiram se conectar com o ambiente de startups de impacto.

Outro produto recente é a Assessoria para Captação de Investimentos, voltada para startups que já passaram por algum programa de aceleração do Quintessa.

“A Assessoria consiste em dois meses de preparação de materiais pré-captação, como market size (uma pesquisa de mercado mais apurada), um business plan de, no mínimo, cinco anos, uma planilha de valuation para entender quanto vale aquele negócio, e um pitch deck para ser apresentado a investidores”, diz Gabriela.

A TNH Health e a Hand Talk foram as primeiras startups assessoradas. A assessoria da primeira segue em andamento; a segunda captou R$ 2,5 milhões. “Depois que aprovamos os materiais com o empreendedor e o mentor, temos um mandato de até um ano para abrir as portas dos fundos de investimento, Family offices e investidores pessoa física.”

Em cada programa, o Quintessa aloca um gestor e um mentor junto à startup. “Os gestores são as pessoas que estão aqui full-time, que tocam o dia a dia das acelerações, com um dia inteiro de dedicação por semana junto à startup”, explica Gabriela. “Os mentores são todos voluntários que doam duas horas quinzenais em reuniões com os acelerados pelo Quintessa. Com isso, além de ser personalizada para cada negócio, a aceleração oferece para o empreendedor um contato muito próximo e uma relação de longo prazo.”

Um ponto-chave da filosofia de trabalho é promover a “gestão consciente”:

“Por exemplo, pensando em estratégia comercial, qual seria a maneira mais justa de se relacionar com o cliente? Como remunerar a equipe de forma a compartilhar o lucro com aqueles que ajudaram a criá-lo? Como comunicar o seu produto de forma mais justa, sem fazer greenwashing [apropriação do discurso ambientalista sem colocar ações em prática], sem vender mais do que você realmente pode oferecer? Como negociar com fornecedores criando uma relação de parceria?”

Ao todo, a meta é fechar 2018 com 33 acelerados ao longo do ano. O volume parece baixo?

“O nosso foco é em qualidade, profundidade, não em quantidade”, diz Gabriela. “O foco do Quintessa é ajudar a formar os grandes cases de negócios de impacto. Não queremos que seja apenas ‘inspirador’, queremos mostrar que há cases reais, empresas que faturam milhões por ano e que também são relevantes na solução de problemas sociais e ambientais. Por isso, focamos em profundidade, para garantir que as empresas que passam por aqui possam se tornar cases exemplares.”

E completa: “Vemos todos os riscos, os gaps, os pontos de melhoria na gestão daquele negócio para ajudar o empreendedor a estruturar tudo que for necessário e, depois, pensar num modelo de escalabilidade e ajudá-lo no plano de expansão.”

O processo seletivo fica aberto o ano inteiro e se baseia em três critérios, o primeiro eliminatório: a geração de impacto. “Se a startup não estiver ajudando a resolver um problema ambiental ou social, e se a solução ou o produto não for relevante para endereçar esse problema, nós não seguimos com o processo seletivo.”

Na sequência, são analisados o perfil do empreendedor e o modelo de negócio, principalmente sua capacidade de crescimento. Esses dois critérios precisaram ser contrabalançados na seleção daquele que é, “disparado”, o maior case do Quintessa: a 4You2, escola de idiomas com cursos de baixo custo ministrados por professores estrangeiros em intercâmbio no país:

“Em termos de modelo de negócio, poderíamos selecionar outras startups mais operacionais naquele momento. Mas o Gustavo [Fuga, da 4You2] nos contagiou tanto, que dissemos: ‘putz, o modelo de negócio ainda não está redondo como a gente espera, mas o perfil empreendedor supriu totalmente a nossa expectativa!’.”

Aprovada em 2014, a 4You2 entrou no Quintessa com um projeto piloto no Capão Redondo, na periferia da capital paulista, onde atendia cerca de cem alunos. Ao longo da aceleração, a escola triplicou o número de unidades e fez o número de alunos saltar para 1.500 (hoje, são oito unidades em três estados – SP, MG e PB –, pelas quais já passaram 10 mil alunos):

“Foi um case completo, não só pelo resultado de crescimento. Ajudamos o Gustavo a passar um pente fino por todas as áreas de gestão, desde formação de time – como é que se analisa esse professor-intercambista – até fazer conexão com seus clientes, estudantes da base da pirâmide”, diz Gabriela. “Conseguimos estruturar e testar um mapeamento de processos para deixar a unidade do Capão Redondo extremamente redonda em nível de operação, além de pensar uma estratégia comercial de escalabilidade para replicar a escola em outros lugares.”

No caso específico da 4You2, a aceleração foi mais extensa, durou dois anos, de 2013 a 2015 (funcionou como um piloto para o Quintessa, que estava testando seu modelo). E a convivência entre aceleradora e acelerado perdura ainda hoje:

“Estamos sempre com o Gustavo. A aceleração acabou em 2015, mas cruzamos com ele em eventos, ele vem ‘palestrar’ aqui, já deu workshops para os nossos acelerados… É o tipo de relação que queremos ter como nossos empreendedores. Já que são poucos e bons, é interessante cultivar esse relacionamento.”

No efervescente ecossistema de inovação do país, em que novas aceleradoras e incubadoras parecem brotar mensalmente, se diferenciar é fundamental. O diferencial do Quintessa reside nessa relação de proximidade:

“Na maioria das aceleradoras há uma série de workshops, capacitações, pontes para networking, etc., mas elas não estão ‘junto’ com o negócio, ajudando a construir. Nós desenvolvemos uma parceria super próxima com nossos acelerados e colocamos a mão na massa junto com eles. E não só com o empreendedor, mas com o time todo. Se o assunto é financeiro, por exemplo, às vezes eu falo diretamente com quem toca o financeiro daquele negócio.”

Gabriela fala sobre os benefícios de estar no Civi-co, onde o Quintessa ocupa uma sala desde a primeiríssima semana de 2018:

“A principal vantagem é o alinhamento de propósito, já que o Civi-co também existe para causar impacto e contribuição social para o país.” Outro ponto forte é a possibilidade de conexões: “Por ser um espaço que se propõe a debates, há um fluxo de empreendedores de impacto muito interessante, que não se limita aos residentes. É gente que vem para algum evento no auditório ou ‘bater papo com uma startup’, e que podemos prospectar em busca de possíveis novos acelerados.”

Falando em novos acelerados: em novembro, o Quintessa anunciou (em parceria com o Civi-co e com outra residente, a Pipe Social) os selecionados para o Hangar, um novo programa de aceleração com foco em validação e duração de três meses. A lista de 15 startups inclui a Connecting Food, que conecta doadores de alimentos e instituições aptas a receber doações; e a Recikle, que produz camisetas com garrafas PET.

“O nosso principal desafio, hoje, é achar os próximos cases de sucesso”, diz Gabriela. “Como encontrar e selecionar os negócios de impacto de maior potencial, que realmente vão trazer uma transformação e uma contribuição significativas para a melhoria do país, e que o Quintessa poderá agregar um valor relevante para impulsionar sua trajetória.”

 

 

 

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