Minha única certeza desde a infância era querer trabalhar com propaganda, porque aqueles comerciais de TV e anúncios de revistas me encantavam e me levavam para um universo imaginário onde eu me via.
Assim, na época da faculdade, cursei Publicidade e Propaganda na PUC-Campinas, com todas dificuldades de quem está começando: bolsa de estudos e um trabalho como estagiária que não cobria nem o almoço
Essa fase passou rápido, porque me dediquei demais. Sem chances de desistir do meu sonho: ser diretora de arte. Um desafio na época, porque em Campinas era comum eu ouvir: “Trabalhar com criação? Só temos homens na criação!”.
Mas uma das agências, logo no segundo ano de faculdade, me deu uma oportunidade. E assim, anos mais tarde, me tornei a diretora de arte sênior do lugar.
Com perspectivas de crescimento profissional, fui convidada para trabalhar na antiga Lowe, em São Paulo, onde comecei, de novo, a empreitada para me posicionar no mercado.
Desde então, trabalhei em grandes agências como Ogilvy, JWT, Bullet, Track Locker, entre outras, ocupando com dedicação o espaço de diretora de arte.
Porém, eu sempre refletia, um pouco angustiada: Tenho 32 anos, as mulheres da minha idade estão casando e tendo filhos – e poucas delas voltavam ao mercado de trabalho.
Ou ainda: Passo de 10 a 12 horas na agência, sem ganhar hora extra, trabalhando como louca, não tenho um salário incrível e já me sinto “velha” para o ambiente de criação.
Sim! Pasmem vocês: aos 32 anos, num ambiente cheio de estagiários e uma galera louca para trabalhar apenas pela ajuda de custo, comecei a me questionar até quando conseguiria me manter num cargo como criativa
Até que na minha passagem pela Bullet (eu atendia uma conta e fazíamos promoções para ela), percebi que adorava criar materiais colecionáveis e cheios de estampas.
E, assim, fui cada vez mais me apaixonando pelo universo que ia além da publicidade-internet. Algo chamado design de superfície.
Alguns poucos anos depois, resolvi tirar três meses sabáticos e viajei para Tailândia, Vietnã, Camboja, Austrália e Nova Zelândia.
Algo meio Comer, rezar e amar, com a intenção de me reconectar e redescobrir do que eu gostava e quem eu era.
Nos momentos mais solitários, eu tinha um caderno de desenho e uma cartela de canetas hidrocor. Comecei a desenhar texturas, referências de azulejos, plantas, guardiões budistas… Tudo o que me encantava na viagem.
Voltei e decidi que queria abrir um negócio usando estampas, mas ainda sem ideia de como começar, como fazer e o que fazer com as ilustrações
Obviamente, eu tinha contas para pagar, então, resolvi voltar a trabalhar em agências enquanto deixava minhas ideias mais maduras.
Aos poucos, percebi que minhas estampas custavam para empresas da moda menos de 100 reais. Isso mesmo: uma estampa por 70 reais. Era o que queriam pagar por um desenho criado em horas e horas, ou até dias.
Como eu já gostava muito do mundo de decoração, olhando alguns blogs tive a ideia de fazer panos de prato com minhas estampas. Mostrei os desenhos para minha mãe e ela disse: “Nossa, são lindos, mas pano de prato? Você deveria fazer almofadas, para que as pessoas pudessem decorar a sala, enfeitar o ambiente com sua arte, Juju”.
Comecei todo processo de descobrir como comprar um tecido liso e como estampar em pequenas quantidades.
E foi uma tarefa árdua, porque não encontrei ninguém disposto a compartilhar comigo “o caminho das pedras”. Assim, as primeiras capas de almofadas custaram cinco vezes mais do que as que produzo hoje
Abri um marketplace e dei início ao negócio, conciliando tudo isso com o trabalho como diretora de arte.
Em seis meses, recebi um convite para fazer uma supercampanha na Westwing, grande player de decoração online. Mas para isso, eu teria que deixar meu trabalho na agência ganhando bem para arriscar e começar ganhando zero. Criei coragem e lá fui eu… Isso aconteceu dez anos atrás!
Fui aprendendo sobre compras, notas fiscais, contabilidade, produção em escala e tudo mais, passando noites sem dormir, preocupada, mas com convicção.
Quebrei a cabeça para saber como achar costureiras e mão de obra que não me deixassem na mão. Aos poucos, fui ganhando espaço no mercado. Mandando e-mails para revistas e fazendo editorial das almofadas e mantas
As pessoas começaram a me conhecer mais e gostaram das estampas multicoloridas. A minha empresa foi evoluindo e, depois das almofadas e mantas, passei a produzir cangas e bolsas.
Com as estampas vibrantes e alegres, agora tenho tote bag, mochila, bolsa para laptop, mala de viagem, uma coleção de peças elaboradas ao longo de meses de estudo do design e da modelagem.
O desafio no pós-pandemia é tornar a marca mais conhecida e lutar arduamente contra a crise econômica, além da concorrência muitas vezes complicada com peças vindas da China.
Meu sonho é expandir a marca com uma linha de produtos ainda maior. Tornar minhas peças conhecidas e valorizadas por serem produzidas 100% no Brasil e confeccionadas através da economia circular.
Sempre fui muito curiosa e engajada no sentido de minimizar os impactos que causamos na natureza. Seja em casa, na separação do lixo, minimizando o uso de energia e água ou reduzindo o consumo de produtos de origem animal
E com base nesse meu propósito de vida, levei isso à empresa também. Daí as pessoas me perguntam: é possível minimizar os impactos no meio ambiente criando uma cultura de economia circular?
E digo que sim. Sabe, não precisa começar com longos passos, mas na minha marca, por exemplo, todo processo de estamparia é localizado. Ou seja, quando eu desenho cada estampa da marca, penso em cada peça que iremos confeccionar com aquela estampa.
A partir daí, desenvolvo um arquivo digital para serem fabricados apenas os tecidos que serão estampados de acordo com um “molde” que cabe, exatamente, no tamanho que iremos utilizar.
E caso haja alguma sobra, por erro de impressão ou corte mal feito, esta se transforma em novas peças menores.
Com isso, o tempo de máquina na fábrica é menor; utilizando menos energia elétrica, o desperdício de matéria-prima é mínimo e as costureiras têm seu trabalho mais facilitado com os tecidos feitos exatamente para as peças da marca
Nos propomos a absorver cada vez mais essa mudança nas cadeias de produção e conciliar o crescimento econômico, a sustentabilidade e o bem-estar.
Já na parte da mão de obra de costura, conto com o trabalho impecável de duas mulheres da comunidade de Pedreira, em São Paulo.
No começo da empresa, eu não era nada conhecida, então me aventurei a fazer estes bazares e feiras que apresentam novos produtores, designers e artesãos pela cidade.
Para me ajudar num evento bem grande do Elo7, recebi a indicação de contratar temporariamente a Cida. A ideia é que ela passasse o dia ali, vendendo e embalando os produtos comigo.
Mas Cida me conquistou e se tornou uma parceira e amiga especial. Fazia muitos bazares e sempre a levava comigo. Eu precisava da ajuda dela e ela também contava comigo, pois, na época, já tinha dois filhos pequenos (hoje, são três) e não poderia estar num emprego de período integral, longe das crianças.
Começou ali uma relação de carinho e amizade. Ela adorava as estampas que eu criava, os tecidos, as peças… Mas eu não conseguia contratá-la com funcionária.
Nos dias de bazares, aos finais de semana, o marido ficava com as crianças e até passava nos eventos. Certa vez, ela virou e falou para mim: “Sabe que eu sonho em trabalhar com você? Um dia isso ainda vai acontecer”.
Passaram-se uns seis meses. Um dia, Cida me ligou: “Ju, eu e minha comadre, Gui, estamos fazendo um curso de corte e costura. Podemos apresentar o que a gente tem aprendido?”.
Obviamente, eu falei que sim! Eram peças simples, nécessaires, porta-óculos em tecido, barrado de guardanapo etc. Mas elas tinham tanta vontade…
Percebi ali uma oportunidade para os dois lados. Elas poderiam costurar peças de acessórios como as nécessaires (que eu não tinha na época) e, em troca, ter uma renda para ajudar a família — sem saírem de suas casas
Até hoje eu tenho aquelas primeiras peças. Vez ou outra, mando foto por mensagens para elas, igual mãe que guardou o primeiro trabalho do filho…
Elas foram aprendendo mais, criando, desenvolvendo-se, até o ponto em que falei: “Gente, precisamos de máquinas industriais, vamos fazer bolsas, costurar com linha de nylon e as peças precisam ter resistência e qualidade”.
Comprei os equipamentos e combinamos assim: “As máquinas serão de vocês. Vou descontando um pouquinho por vez, mas quero que se sintam donas de um material de trabalho especial”. E assim foi!
O trabalho delas é impecável. E, claro, procuro remunerar bem, de maneira justa. Quem trabalha comigo terceirizado está junto há oito anos, no mínimo.
Aprendi que todos devem ganhar, estar satisfeitos para trabalharem bem, ficarem felizes e formarem uma parceria duradoura
Hoje, meu intuito é que meus produtos e estampas levem vivacidade e alegria para o dia a dia das pessoas. E acho que ele está se concretizando, pois recebo sempre mensagens e e-mails dos clientes relatando o quanto as cores trazem vida para seus momentos.
Juliana Curi é publicitária e fundadora da marca de bolsas e acessórios Juliana Curi Design.
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