O Studio dLux formou uma rede de makers para dar conta da demanda por design aberto – que só cresce

Luisa Migueres - 1 jun 2017Denis, da Studio dLux, conta como seu business amadureceu, e ramificou-se, nos últimos dois anos.
Denis, da Studio dLux, conta como seu business amadureceu, e hoje representa uma plataforma global de design aberto.
Luisa Migueres - 1 jun 2017
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“Meus amigos e minha família acharam que eu estava louco.” É assim que Denis Fuzii descreve as primeiras reações das pessoas mais próximas a ele na época em que decidiu fundar uma empresa de design aberto. Formado em Arquitetura no Centro Universitário Belas Artes, o paulistano de 27 anos está à frente do Studio dLux, escritório de arquitetura e design que elabora e executa projetos digitalmente e disponibiliza gratuitamente parte de suas criações para download em uma plataforma open source. A empresa começou na garagem de Denis, com cinco pessoas – hoje são nove colaboradores, e a base fica em um prédio comercial no bairro de Moema, ainda em São Paulo.

Há quase dois anos, a dLux saiu no Draft pela primeira vez (clique na imagem para ler a reportagem).

Há quase dois anos, a dLux saiu no Draft pela primeira vez (clique na imagem para ler a reportagem).

A empresa teve a sua história contada no Draft em 2015, quando o arquiteto tocava paralelamente três projetos que conversam entre si: o Studio dLux, a representação da OpenDesk (plataforma de mobiliários para produção local open source) no Brasil e a Mono Design, um e-commerce open source.

A missão de todos eles é promover o design aberto, mas cada um a cumpre da sua maneira. Além de comercializar peças de mobiliário (como mesas e cadeiras), eles atuam como arquitetos. Denis conta: “Continuamos fazendo projetos de arquitetura e design, mas também estamos criando uma rede de makers, que pode em qualquer lugar do brasil produzir para nós nossos projetos, através da fabricação digital”.

O trabalho não foi só ampliado, como formalizado. Hoje funciona assim: o Studio dLux é um escritório criativo de arquitetura que também representa a OpenDesk Brazil, suprindo a demanda de pedidos vindo do site internacional da empresa, que tem sede em Londres. Este trabalho consiste em encaminhar em receber os pedidos de móveis corporativos e encaminhá-los aos makers que podem produzi-los em menor tempo e estejam mais próximos do cliente.

SER ABERTO É UMA MANEIRA DE TRABALHAR

A ideia do open source e do movimento maker permeiam toda a operação do Studio dLux e da OpenDesk Brazil, mas ainda não é fácil. A parte mais suada do trabalho, segundo Denis, tem sido construir essa rede de makers que podem produzir as criações para as duas empresas: “Os makers entram em contato conosco e atravessam por um processo de testes, de fabricação, acabamento final, e entrega e montagem no cliente”, diz.

A cadeira Valovi, representada acima, é um ícone do design aberto: qualquer um pode fazer o download e montar uma em casa.

A cadeira Valovi, representada acima, é um ícone do design aberto: qualquer um pode fazer o download e montar uma em casa.

Então, apesar de grande parte da operação ser online, é preciso visitar cada espaço maker e garantir que quem vai produzir os mobiliários entregará tudo nos conformes. “É um desafio, pois as condições de material e acabamento no Brasil não se comparam com a qualidade europeia, então adaptações são feitas por nós nos projetos e processos de fabricação”, conta ele.

A avaliação dos makers leva em conta o maquinário que ele tem (a maior parte dos produtos é cortada em uma máquina de CNC), o tipo de material com o qual ele trabalha e a sua capacidade de entregar as criações dentro do prazo. Hoje, esses makers “certificados” já existem no interior de São Paulo, na capital, em Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre. O processo de aprovação é demorado – e, agora, a procura para trabalhar com o Studio dLux gerou uma fila de espera – e essa distribuição de trabalho gera uma rede de dependência grande também. Denis conta que esse tem sido o maior desafio da empresa:

“Por estarmos tratando com vários makers, se um deles tem um problema, nós também teremos. Realocar as produções que não poderão ser entregues é o mais complicado”

Em casos de emergência, eles jogam limpo com o cliente e explicam, por exemplo, por que ele deverá pagar um frete maior no caso de um maker fora da sua região ter de assumir o trabalho. Mas este não é a única situação na qual valor de cada produto é destrinchado para o cliente, aliás – em toda compra, ele sabe quanto está pagando para o designer, para a plataforma e pela produção.

ELES ERRARAM MUITO ATÉ APRENDEREM O JEITO CERTO

Denis conta que, mesmo acreditando muito na ideia, nunca soube onde a sua empresa poderia chegar. “A gente sempre teve uma meta global e isso se torna viável cada vez mais, já criamos projetos aqui para serem produzidos na China, por exemplo”. Essa meta, no entanto, só é possível quando se atinge um nível de qualidade específico (até lá, algumas mesas já não aguentaram o peso máximo, e algumas cadeiras ficaram bambas) e uma cumplicidade com os makers, que podem sugerir melhorias ou adaptações nos projetos.

Acima, alguns dos itens de mobiliário que o Studio dLux produz — com a ajuda de uma rede de makers espalhados pelo país.

Acima, alguns dos itens de mobiliário que o Studio dLux produz — com a ajuda de uma rede de makers espalhados pelo país.

Nesses dois anos, as dificuldades técnicas não foram os únicos desafios encontrados pelo empreendedor. Ele já se deparou, por exemplo, com algumas cópias da sua cadeira mais famosa, a Valoví (que virou um símbolo do design aberto), sendo vendidas em lojas e, com isso, desobedecendo a licença de Creative Commons, que permite o download gratuito, mas não a sua produção para fins comerciais.

No entanto, esse percalço Denis já sabia que encontraria desde o início, lá em 2013, quando passou a usar a garagem de casa como escritório. Ele fala a respeito:

“A partir do momento que você compartilha algo, fica sujeito também ao mau uso daquilo. Mas posso criar outro modelo, e a pessoa que me copiou não tem essa possibilidade”

Então, diz, é vida que segue.

A FÓRMULA DEU CERTO E RENDEU FRUTOS

A equação de todas as produções da OpenDesk – 12% da venda dos mobiliários ficam com a plataforma, 8% com o designer e o restante vai para o maker – continua a mesma, mas hoje Denis se entende melhor com a burocracia. Ele dá duas opções para o cliente: ou uma nota de serviço é emitida e a plataforma paga a porcentagem do maker, ou o maker emite uma nota de produto e paga a porcentagem da OpenDesk. Esse aperfeiçoamento dos processos e a expansão da rede de makers são alguns dos responsáveis pelo faturamento atual do Studio dLux, que hoje é de 50 mil reais mensais – o dobro de 2015.

O interesse pelo Studio dLux e pela OpenDesk Brazil aumentou significativamente nesses dois anos, segundo Denis. Ele cita duas razões para isso: tanto os projetos de arquitetura quanto os mobiliários comercializados por elas são diferentes dos tradicionalmente encontrados no mercado. Além disso, a ideia do design aberto tem se difundido cada vez mais e Denis se diz igualmente aberto para usar qualquer tecnologia que possa melhorar os produtos que ele já vende. “Hoje é a máquina CNC, mas depois pode ser uma cortadora à laser, uma impressora 3D… Estamos sempre a par da tecnologia”, conta.

Com a estrutura crescendo aos poucos e a demanda aumentando junto, os planos de criar um espaço maker – como laboratório, não para virar uma fábrica dos produtos desenhados por eles – tiveram de esperar. Por enquanto, o último braço de atuação da Studio dLux são workshops de criação de mobiliários por fabricação digital, que custam 660 reais por participante.

Uma das maiores surpresas até hoje, de acordo com Denis, foi ver que muita gente compartilha da mesma lógica que ele — a de que espalhar design e cumprir um propósito é mais importante do que, por exemplo, ganhar um prêmio:

“Eu não acreditava que os clientes pudessem entender que uma cadeira de design aberto pode valer tanto quanto uma convencional da indústria. Estava errado, felizmente”

Além disso, nesse quatro anos de empresa ele aprendeu como estruturar o que parecia mais sonho do que ideia de negócio. “No início, eu queria liberar a cadeira e ver quem quer fazer, detectar a demanda, mas com o tempo entendi que dava para criar essa rede aberta, que torna o trabalho muito rápido”. Ou seja, ele provou que a sua loucura de 2013 fazia mais sentido do que ele mesmo imaginava. Uma coisa assim, aberta.

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