Um portal esportivo com cerca de 22 mil colaboradores, que somados produzem cerca de 10 mil conteúdos mensais — textos, vídeos e podcasts sobre futebol, esportes radicais, tênis, rugby e até videogames — para um público de 10 milhões de usuários únicos por mês.
Os números pertencem ao site colaborativo Torcedores, criado em 2013. Mesmo com números parrudos, a plataforma passou por uma transformação no último ano, desmembrando seu negócio em dois: um braço de tecnologia e outro de conteúdo e educação.
“A pivotada que demos foi dura”, diz Sergio Sacchi, 52, CEO e sócio. Essa mudança visa a perenidade do negócio. A maior parte dos conteúdos não é remunerada, mas há colaboradores que chegam a ganhar 6 mil reais por mês — a remuneração varia conforme critérios como frequência, qualidade do conteúdo e tempo de leitura.
O projeto se inspira no Bleacher Report, fundado por Bryan Goldberg (sócio do Torcedores) e adquirido em 2012, por 275 milhões de dólares, pelo grupo Time Warner, que hoje pertence à AT&T e atende por WarnerMedia.
UM AMERICANO MÓRMON BOLOU O PROJETO E ACHOU O SÓCIO LOCAL PELO LINKEDIN
Originalmente da área de publicidade, Sérgio vinha investindo em startups desde os anos 2000. “Muitas das empresas deram errado. Mas algumas deram certo como, por exemplo, o Fanáticos Futebol Clube, cujo modelo de negócio deu origem ao Cartola FC”, diz.
Em 2012, ele trabalhava na boo-box, especializada em publicidade tecnológica. Aí, entra na história Derek Hall, um americano mórmon que aprendera português como missionário em Santa Catarina e se apaixonou pelo Brasil.
Foi Derek que bolou o projeto do Torcedores. Já tinha até registrado o domínio e iniciado conversas com contatos quentes, como o próprio Bryan Goldberg, criador do Bleacher Report.
“Os potenciais investidores diziam a ele: o Brasil não é para qualquer um. Você precisa de um sócio local para operar o negócio. Consiga alguém e a gente volta a conversar”
Vasculhando o LinkedIn, Derek encontrou Sergio. A primeira conversa dos dois foi via Skype. O papo se prolongou por uns bons meses, por vídeoconferência e também presencialmente — Sergio fez questão de trazer Derek ao Brasil e recebê-lo em sua casa.
PARA COLOCAR O NEGÓCIO DE PÉ, SÉRGIO INVESTIU SUA RESERVA PESSOAL
Em 2013, Sergio se demitiu da boo-box, passou mais uns seis meses estudando o projeto e o mercado, até resolver entrar de cabeça no negócio, botando grana do próprio bolso.
“Foi a primeira vez que eu investi all in. Coloquei minha reserva pessoal, conquistada com meu suor… E um valor que eu nunca tinha pensado em investir em negócio nenhum”
Naquela fase 1, entre 2013 e 2014, ele, Derek e os cofundadores Marcelo Fonseca e Pedro Navio aportaram um total de 1 milhão de reais. A chegada de mais alguns sócios ajudou o projeto a amadurecer mais rapidamente. “Steve McNally, por exemplo, trouxe expertise em tecnologia, lógica, metodologia, processos para escalar num patamar desses que foi fundamental.”
Para ganhar tração e credibilidade, contrataram jornalistas como Arnaldo Ribeiro e Mauro Beting para serem colunistas e fizeram contatos com faculdades de jornalismo e comunidades de torcedores para trazer audiência e gente disposta a colaborar. “Em seis meses, atingimos dois milhões de usuários.”
CURSOS ONLINE AJUDAM A FILTRAR A QUALIDADE DOS COLABORADORES
Inicialmente, o nível de qualidade dos colaboradores foi um desafio. Segundo Sergio, muitos chegavam com pouca (ou zero) experiência, mostrando carências em gramática e em técnicas básicas de apuração.
A saída foi montar cursos online para esses colaboradores, totalizando 16 horas.
“Primeiro, funciona como uma espécie de Enem: só pode colaborar depois que passar pelo curso. Em seguida, é preciso seguir uma trilha orgânica que possibilita atingir cinco níveis de colaboração dentro da plataforma: júnior, pleno, sênior, master e especialista. Como se fosse um MBA”
Além das horas obrigatórias, há mais de 600 horas de cursos disponíveis para aqueles que querem se especializar e encarar a plataforma mais “a sério”, como um emprego (Marcelo Tas e Mauro Beting são alguns dos professores). Os cursos são pagos lá na frente, quando o colaborador começa a receber remuneração.
Sergio explica que a experiência de produzir conteúdo para os Torcedores pode ser contabilizada como atividade complementar por alguns estudantes de jornalismo. “Hoje, temos parcerias com Cásper Líbero, Mackenzie e PUC”, diz.
A IDEIA É USAR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA MAPEAR OS ASSUNTOS MAIS QUENTES
Hoje, o Torcedores mantém escritórios em São Paulo e Porto Alegre, um time de 46 pessoas e soma 10 milhões de reais em investimentos. Em 2020, diz Sergio, a previsão é faturar entre 8 e 10 milhões de reais.
O time de sócios-investidores inclui gente graúda como Pedro Navio, presidente da The Kraft Heinz Company; Marcelo Fonseca, diretor geral da Stone Participações; Steve McNally, ex-executivo da Forbes e do grupo de mídia Condé Nast; e Pyr Marcondes, investidor e diretor do Meio & Mensagem, entre outros.
Nos próximos dois anos, diz Sergio, devem ser investidos 5 milhões de reais no site e no aplicativo, usando inteligência artificial para tornar a plataforma mais customizável para o leitor e mais inteligente para os colaboradores, que terão mapas dos assuntos “mais quentes” como inspiração nas pautas, por exemplo.
A IDEIA É ESCALAR PARA NOVOS TEMAS (INCLUSIVE CANNABIS MEDICINAL)
Até aqui, anúncios programáticos e branded content foram as principais fontes de faturamento. Sergio, porém, diz que o futuro é outro:
“Desapegamos de publicidade. As marcas estão comprando banner, divulgando produtos, brigando por preço e perdendo margem… Hoje, o conteúdo é o ‘oxigênio’ — é o que as pessoas querem consumir”
A estratégia agora inclui a possibilidade de escalar o modelo do Torcedores para outros temas. Para viabilizar isso, em 2019 a empresa foi dividida em dois braços, cada um com seu CNPJ. O Torcedores segue tocando conteúdo e educação; a Navve fornece a plataforma tecnológica para o portal e outros dois clientes com modelo de negócio semelhante.
Um desses projetos chama-se Eu quero investir, com a corretora homônima. O segundo é o da OnixCann, empresa canadense de medicamentos a base de cannabis medicinal, que lançará sua plataforma em fevereiro. Todo o suporte e gestão dos projetos ficam por conta da Navve.
A plataforma da OnixCann, explica Sérgio, ajudará a conectar médicos e pacientes que precisam desses medicamentos. “No primeiro momento, o pedido receitado pelo médico será enviado de forma online para a Anvisa aprovar. Dando tudo certo, o medicamento será então liberado para ser produzido no Canadá e ser remetido para a casa do paciente, aqui no Brasil.”
A cannabis medicinal é usada para tratar epilepsia, esclerose e Mal de Parkinson, entre outras patologias. Fabrizio Postiglione conta como criou a Remederi, que acompanha a jornada do paciente e educa médicos para prescrever a substância.
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