A esposa de Alexandre Icaza, Nathalie, estava grávida do primeiro filho do casal quando ele, buscando praticidade para ter alimentos saudáveis em casa, vislumbrou o que viria a ser o supermercado virtual com a maior oferta de produtos orgânicos e naturais do país.
Hoje Gabriel está com 6 anos, tem uma irmã de quatro meses, Rafaela, e a ideia do pai é uma realidade. O Organomix comemora o bom desempenho em seu primeiro ano de operação. O supermercado fez aproximadamente 10 mil entregas no Rio de Janeiro, e faturou 1,2 milhão de reais no ano passado. Este ano, as vendas no Rio estão 220% maiores, e o empreendimento já dá frutos — desde julho, a empresa começou a operar também em São Paulo.
Alexandre Icaza tem 36 anos e trabalha com internet desde os 17. Como empreendedor, já teve inúmeros negócios, há 10 anos atua exclusivamente na área digital. Algumas apostas deram errado, claro, mas outras são operações de grande sucesso, como o site de moda Glamour, e o antigo Sacks, de cosméticos, que foi comprado pelo grupo LVMH e se converteu no portal de e-commerce da Sephora no Brasil. Glamour, Sephora e Organomix integram a holding i5 Empresas, presidida por Alexandre.
Em 2010, o trâmite da venda do Sacks e a associação de Alexandre à Sephora no Brasil, além da demanda pelo executivo com o Glamour, adiaram em alguns anos a dedicação dele ao Organomix. “Vi a oportunidade, mas não tinha como tocar a ideia na época. Fiquei com aquilo na cabeça”, conta ele.
O investimento para o supermercado de orgânicos viria de capital próprio e de investidores do relacionamento pessoal de Alexandre. O que ele prometeu em troca? Nada. “É outra filosofia. Investir em uma startup é muito mais arriscado, mas tem um retorno potencial bem maior do que um investimento tradicional. A aposta do investidor foi em cima do potencial do negócio, da nossa proposta, e de estar ligado a um grupo com experiências de sucesso em comércio eletrônico. Isso contou na decisão”, afirma Alexandre. Nessa fase, ele reuniu capital para operar por 2 anos com tranquilidade.
FAZER O QUE SE QUER, MAS TAMBÉM O QUE SE SABE
Parte da inspiração para o business veio dos EUA, com o sucesso do Whole Foods Market, cadeia de supermercados com foco em alimentos integrais. A proposta é similar à do Organomix por se tratar de um supermercado temático, naquele caso com foco em alimentos integrais. Mas Alexandre não quis a loja física.
“Preferi online por ser um mercado no qual tenho experiência e por entender que teria mais capilaridade”, afirma. Em seus outros projetos de e-commerce, um único Centro de Distribuição atende a todo o Brasil. Na Organomix seria diferente, por causa da especificidade do trato com os horti-fruti. Quando começou a pesquisar a fundo o mercado de orgânicos, Alexandre precisou também mapear os produtores. Encontrou algumas dificuldades.
“Nesse ramo, o fornecedor tem que ser um executivo completo, cuidar da produção, levar para a feira, fazer relacionamento, marketing e venda. Mas isso não é a praia dele. A praia dele é produzir”, diz. Além disso, são produtores pequenos, amadores, espalhados pelo Brasil todo. “Tivemos que conversar com eles, entender como criar um bom diálogo. Fomos mapeando e entendendo o tamanho do mercado, até termos a segurança para seguir com o projeto.”
Mas a prateleira virtual do Organomix não se restringe aos orgânicos. A proposta é seguir sempre os mesmos princípios na escolha dos produtos: preferência aos naturais, aos orgânicos e aos integrais; veto a produtos com gordura trans, corantes, adoçantes ou aromatizantes artificiais. “Somos um supermercado. Temos massa refinada, arroz branco, material de limpeza. Mas não temos Coca-Cola, porque tem corante e aroma artificial”, diz Alexandre.
“A minha empresa é super do bem. É um projeto para a família, pensado para o bem estar das pessoas. Meu objetivo pessoal no Organomix é conseguir cada vez mais que as pessoas conheçam produtos saudáveis, saborosos, e que consigam colocar isso na dieta delas”
Acordos com produtores engatilhados e princípios claros em mente, era hora de colocar a operação em pé. O desenvolvimento da logística e da plataforma de comércio eletrônico levou mais seis meses e, antes de investir pesado em marketing, o site Organomix funcionou alguns meses em soft opening.
A receptividade foi boa, desde o princípio, e Alexandre credita isso ao que considera ser o diferencial do seu negócio. “A minha empresa é super do bem. É um projeto para a família, pensado para o bem estar das pessoas. Meu objetivo pessoal no Organomix é conseguir cada vez mais que as pessoas conheçam produtos saudáveis, saborosos, e que consigam colocar isso na dieta delas”, diz. Em seguida descreve entusiasmado pequenos detalhes do site, como os selos que indicam produtos vegetarianos, orgânicos, sem glúten, sem lactose ou sem adição de açúcar. “Estou envolvido com outros projetos também, mas este é um pelo qual sou muito apaixonado.”
PLANEJE. MAS NÃO TENHA MEDO DE FAZER, ERRAR E CORRIGIR
A aposta da Organomix se estende, além da mudança na vida dos clientes, a uma crença no amadurecimento do mercado de orgânicos no Brasil, ainda imaturo na visão de Alexandre. Mas ele diz que a conta fecha, pois consegue vender os orgânicos pelo mesmo valor que o produtor venderia em uma feira, pois com o site o produtor tem um intermediário, mas ganha tempo e deixa de ter o custo de levar os produtos à feira. “Os produtores são nossos parceiros. Em relação à margem, não tivemos problema. O único problema é o volume do orgânico, que está crescendo cada vez mais e alguns fornecedores ainda não têm volume”, diz Alexandre. Ele vê com bons olhos a movimentação do mercado, e comemora que marcas como Monama, Mãe Terra e Jasmine consigam entregar em maior volume.
A próxima etapa de seu empreendimento é São Paulo. Enquanto a operação no Rio está consolidada, com um Centro de Distribuição no bairro da Penha e 12 carros próprios para as entregas, na capital paulista o CD fica em Osasco (na grande São Paulo) e por ora três carros estão fazendo o delivery. “São Paulo é uma praça muito interessante para estar e nos preparamos para isso. Temos um investimento em marketing, um planejamento de estoque e as vendas já estão acontecendo”, diz ele. Não há uma expectativa determinada de vendas, mas Alexandre confia em sua percepção de que o mercado é muito maior do que o atual. “No Rio também foi assim. Apostamos. Resolvemos fazer o projeto, tocamos.”
O importante é fazer. Sempre vai existir o risco. “Em uma empresa pequena esse risco é menor. Minha filosofia é executar as ideias com rapidez. Tentamos muita coisa no Organomix. O que deu certo valeu muito mais a pena do que o prejuízo dos nossos erros. Em um negócio novo, você não tem a teoria para se apoiar”, conta ele. “Testamos desde o formato de conversar com o fornecedor, a data de entrega, o prazo, até como atuaríamos nas redes sociais. Tudo foi sendo adaptado ao longo do projeto.”
O empreendimento segue como um organismo vivo, evoluindo. Tanto que já começou a propor maneiras de se aproximar fisicamente dos clientes. O bom relacionamento da Organomix com chefs de alguns restaurantes naturais do Rio de Janeiro, como o Vegetariano Social Clube, no Leblon, e o .Org, de Tatiana Lund, na Barra inspirou Alexandre a criar eventos como um curso de culinária vegana no Spazziano, em Ipanema, com desconto especial para os clientes do mercado virtual. “Vamos fazer desde cursos de gastronomia de um dia e jantares com um chef convidado por nós, até eventos ligados a bem estar. Sempre práticas que incentivem nossos clientes a se exercitarem mais, como yoga, pedalada, caminhada”, diz ele. É mudar para continuar o mesmo. Um mix de vida mais saudável.
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