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Os bastidores da Cabaret Studio, produtora de áudio que cria a trilha de campanhas premiadas de publicidade

Marcela Marcos - 3 dez 2024
Da esq. à dir.: Guilherme Azem, Ingrid Lopes e Cayto Trivellato, sócios da Cabaret Studio.
Marcela Marcos - 3 dez 2024
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Hoje uma das líderes do cenário de áudio no Brasil, a Cabaret Studio começou com um portfólio que incluía apenas dois trabalhos. Foi formada por publicitários que tocavam juntos na noite, sem tanta experiência neste nicho de mercado até então, que se juntaram a outra sócia que havia tido uma experiência péssima trabalhando com áudio. 

Parece irônico, mas, essa mesma produtora, mais tarde iria obter reconhecimentos internacionais pela condução criativa e técnica das trilhas, a exemplo de um Grand Prix em Cannes (à “Errata at 88”, para Johnnie Walker). Atualmente, são 15 anos de bagagem – e contando.

TUDO COMEÇOU COM “DOIS MOLEQUES DE VINTE E POUCO SEM UM REPERTÓRIO PARRUDO”

O músico e publicitário Cayto Trivellato (hoje com 41 anos) tinha começado a carreira na publicidade como montador de filme em uma produtora de imagem; depois, foi trabalhar na agência F/Nazca, com pós-produção em montagem de filme e finalização de som. 

Ele ficou por oito anos. Lá pelo fim desse período, apareceu o que Cayto chama de “fenômeno YouTube”:

“Era uma mídia nova em que os clientes ainda não sabiam muito o que fazer com ela. Eu, músico desde criança que tocava na noite em banda de baile com o Guilherme Azem, comecei a ver oportunidades nesse meio pela F/Nazca” 

Segundo ele, as pessoas que faziam funções de atendimento e criação nas agências pediam que fossem produzidas trilhas para clientes como Nike e Skol, mas ainda não tinham verba para ingressar na então “nova mídia”. 

Paralelamente, as produtoras de som da época cobravam muito alto, o que impulsionou os próprios criativos a filmarem algumas animações – sem áudio. “Nisso, comecei a fazer algumas trilhas e vi ali um nicho em potencial, um novo mercado”, diz Cayto.

Guilherme Azem (39) se juntou “um pouco mais cru”, segundo o próprio. Havia terminado a faculdade e, enquanto estagiava em uma produtora de áudio, já tinha como objetivo abrir um negócio. 

“Eu queria empreender, ainda que fosse na garagem de casa. Então, na produtora, tentei passar por todos os departamentos possíveis para absorver o máximo de conhecimento, fosse musical ou de produção, mesmo” 

Quando Cayto começou a enveredar pelo novo nicho de mercado, incentivou o amigo a pedir as contas. Ao anunciar a decisão, Guilherme ouviu do chefe que ele estava sendo precipitado, que ainda não era hora de empreender (mais tarde ele toparia com esse mesmo ex-chefe numa premiação do ramo).

Um ano e algumas trilhas depois, os sócios montaram a Cabaret. Mas, ainda faltava uma peça-chave. Cayto recorda: 

“Precisávamos de um comercial, um atendimento que tivesse coragem e cara de pau de vender dois moleques de vinte e poucos anos, sem um repertório parrudo, e sem experiência na área de som” 

Resolveram chamar a Ingrid Lopes (45), indicada por um investidor da Cabaret. Depois de trabalhar produzindo vídeo, ela havia tido “uma experiência péssima” numa produtora de som e não pensava em voltar a fazer aquilo tão cedo (talvez, nunca mais). Porém, foi convencida depois de bater um papo com Cayto e Guilherme. 

Estava formada a tríade: o primeiro na produção executiva, o segundo como maestro e Ingrid no atendimento comercial.

CRESCIMENTO ORGÂNICO: DE JINGLES A PROJETOS COMPLEXOS

No momento do pontapé inicial, a Cabaret só tinha dois itens no portfólio. Em apenas três meses de existência, passou a fazer campanhas grandes para clientes como Vivo e GM. 

“Em menos de seis, internet e TV já eram uma realidade e surfávamos uma onda de produtora estável, rumo aos primeiros prêmios”, diz Cayto. 

Para Guilherme, o começo próspero era devido a uma estruturação da qual ele sentia falta nas experiências anteriores: 

“A gente fazia questão de ter histórico de orçamento, planilha, tudo catalogado. Começamos com cabeça de produtora grande, porque estávamos estruturados” 

Desde o início, a produtora carregava o diferencial de buscar o som como ferramenta de impacto emocional e narrativa. “Foi um crescimento orgânico”, diz Ingrid. “Não houve pretensão de ser a maior, mas de fazer um trabalho bem-feito, o que naturalmente trouxe grandes projetos para nosso portfólio.”

O primeiro trabalho de destaque veiculado foi um filme de GM com a música “Por Você”, do Barão Vermelho – um processo que começou com um pedido de ajuda em uma tarde, para apresentação na manhã seguinte. 

Já o primeiro premiado foi um filme feito em nome da Casa do Zezinho, para a AlmapBBO, em 2011 (vencedor da etapa nacional do 34º Profissionais do Ano, premiação realizada pela Rede Globo para destacar publicidades veiculadas na emissora). 

Para a mesma agência, a Cabaret produziu trilhas consagradas em Cannes, além de outra (“The Cure”) que ganhou bronze – para a Editora Taverna, via Africa Creative, a partir de um livro sobre a “cura gay”, a tentativa absurda e falaciosa de corrigir a orientação sexual de alguém.

Os projetos seguintes foram apoiados, de acordo com os sócios, nas boas relações – com a equipe interna, agências e clientes – e na pluralidade, por abraçar diferentes tipos de trabalho, desde jingles até projetos complexos. 

Quando chega um pedido, Ingrid cuida da “captação do job”, do atendimento e experiência do cliente. Guilherme se encarrega de produzir a trilha, gravar os músicos, desenvolver arranjos e contar a história no filme que será recebido. 

Outros profissionais se somam ao processo, como os que fazem locução. E Cayto entra na fase final, ligando todos os departamentos, ou, nas próprias palavras, “fazendo o leva e traz de tudo”.

Por ano, a Cabaret faz cerca de 270 projetos, precificados conforme praça, mídia, veiculação e considerando a realidade de cada cliente. Cayto afirma:

“Às vezes pedem uma voz famosa e isso encarece muito, ou uma trilha conhecida com produção complexa. A precificação é a parte que pode engessar todo o resto do trabalho quando mal feita”

Em paralelo, a produtora também faz parcerias com ONGs, para impulsionar causas sociais, já tendo se envolvido em filmes sobre a Lei Maria da Penha e para o GRAACC.

UM PROCESSO “MINIMAMENTE DIVERTIDO” NO MEIO DO CAOS

A equipe da produtora é composta por 16 pessoas, que se dividem entre os departamentos financeiro, de atendimento, produção e coordenação. Para Ingrid, o fato de cumprirem prazos (ainda que exíguos) e fazerem o possível até mesmo para antecipar entregas foi, desde o início, o que diferenciou a Cabaret da concorrência. 

Porém, foi preciso criar um modelo de trabalho em que os colaboradores não ficassem saturados. Ela explica:

“A gente começou sabendo que mercado publicitário é caos, mas nosso pensamento sempre foi o seguinte: o que é possível fazer para minimizar danos e conseguir dormir à noite? A dinâmica de comunicação nos permite andar juntos e cobrir eventuais falhas de processo. Respeitamos, também, a vida fora do trabalho” 

Segundo Ingrid, é preciso levar em consideração o momento e o contexto de cada um. “A gente tem que ter tesão pelo que faz, porque isso imprime na entrega. Não se trata de diversão: é trabalho, mas a gente tenta fazer com que seja minimamente divertido.” 

A ideia é manter um clima gostoso no dia a dia, no escritório ou online. “Tivemos uma freela esse ano que disse que o melhor grupo de Whatsapp que ela viu na vida é o nosso.” E Cayto emenda: 

“Nosso maior prêmio é ver que 90% dos funcionários estão conosco há mais de 10 anos, 80% entraram como estagiários. Num mercado tão volátil, ter os mesmos colaboradores por tanto tempo mostra que estamos fazendo algo bom aqui dentro”

O que acontece da porta para dentro da empresa, diz Guilherme, reflete um contraexemplo que ele viveu anos antes de empreender: 

“Tive uma experiência ruim com um estágio que fui pedir em uma produtora grande e o responsável foi tão arrogante… Ele disse: ‘Para eu te ensinar o que eu sei, no fundo você teria que me pagar…’. Tudo o que eu faço hoje é para ser o oposto disso.”

FERRAMENTAS “PRÉ-APOCALÍPTICAS” VERSUS CONEXÕES EMOCIONAIS

Em 15 anos de existência da Cabaret, dizer que as dinâmicas foram impactadas pela tecnologia é chover no molhado. Mas o fato é que, para os sócios, até que esse impacto nem é tão forte assim. Guilherme afirma: 

“O mercado está sempre ávido por novidades, e não temos a intenção de confrontar tendências ou mudanças. Aprendemos com elas e as utilizamos a nosso favor”

O coração criativo da produtora dialoga com algumas tendências como o som 3D e experiências imersivas, mas o desafio, segundo o maestro, é “criar conexões emocionais, algo que uma IA, por mais avançada que seja, ainda não possa replicar”.

Cayto pega o gancho: “Já passamos pelo sample, pelo midi, pela placa que fazia qualquer computador ser uma estação de áudio, pela voz programada, pela trilha branca e muitas outras… todas foram ‘pré-apocalípticas’. Uma nova ferramenta pode mudar o mundo, é criada para este propósito; meses depois, percebe-se que o que faz a diferença é o talento de quem opera…”

Especificamente sobre a inteligência artificial, ele descarta as previsões pessimistas de quem acha que a IA é um perigo para a criatividade humana.

“A IA não representa nenhum risco: é uma ferramenta como inúmeras outras que vai ter uma legislação que vai limitar bastante e deixar bem claro que o talento de quem a manuseia é quem vai impactar no resultado final” 

Ao celebrar a trajetória, o sócio fundador coloca como meta equilibrar trabalhos necessários, a busca pelos prazerosos e os prêmios – conscientes, entretanto, de que a vida não é perfeita. 

Dentro desta perspectiva, o espírito é de continuidade: a Cabaret quer seguir “traduzindo uma emoção em música” e “inovando com segurança”.

 

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