Quatro Oscars atrás, em 2014, Ellen Degeneres bombou no Twitter com uma foto junto a estrelas de Hollywood como Meryl Streep, Brad Pitt, Julia Roberts e Jennifer Lawrence, numa selfie que já recebeu mais de 3 milhões de retuítes. Recentemente, em fevereiro de 2018, a apresentadora e comediante voltou a fazer barulho, agora falando de Bitcoin. “Ou vale 20 mil dólares ou nada”, provocou, em seu programa de TV (o post com o vídeo soma, por ora, 21 mil likes e um milhão de visualizações).
De talk-shows e programas de auditório às conversas na happy hour e no café do corredor da firma, a moeda virtual virou pauta graças sobretudo a uma valorização estratosférica em 2017. Mas, nos últimos meses, vem também acumulando críticas – em outubro, Jamie Dimon, CEO do JP Morgan Chase, declarou que demitiria por “estupidez” qualquer funcionário que negociasse Bitcoins – e alguns reveses, como a decisão do Facebook, em janeiro, de banir publicidades ligadas a criptomoedas.
O fato é que uma preocupação ronda a cabeça de muita gente familiarizada ou não com o mercado: afinal, o Bitcoin é uma bolha? Os analistas mais apocalípticos (ou lúcidos, o tempo dirá) apostam que sim – e uma bolha mais explosiva até do que aquela da Febre das Tulipas, na Holanda do século 17, quando as flores viraram artigos de luxo negociados em bolsa, eventualmente levando milhares à ruína.
“Ninguém tem hoje efetivamente uma visão completa do que vai acontecer com essa moeda”, diz Marcio Cardoso, CEO da Easynvest, levantando a bola com uma pergunta: “Quem compra entende como funciona o Bitcoin ou está indo no oba-oba? Não importa o ativo, qualquer pessoa deve conhecer a fundo aquilo em que está investindo.”
O Bitcoin, na verdade, é a ponta mais visível e valiosa de um iceberg formado por centenas de altcoins, moedas digitais alternativas que seduzem investidores com a promessa de lucros maciços no futuro próximo. Ninguém sabe ainda quais vão vingar de fato como meios de pagamento – mas quase todo mundo quer comprar.
“Até dá para dizer que já existem empresas e pessoas que aceitam criptomoedas, mas essa não é a função primordial delas hoje”, afirma Marcio. “A função primordial é criar um mercado totalmente especulativo. E quando você vê valorizações muito expressivas num espaço muito curto de tempo, você fica um pouco preocupado.”
Esse ambiente de forte especulação inebria investidores e torna mais difícil prever o que vai acontecer com o Bitcoin & cia. Outros fatores se somam para obscurecer a visão de quem tenta enxergar com clareza: a dificuldade de entender a mecânica tecnológica por trás das criptomoedas e a falta de regulação desse mercado.
“Existe uma tendência a esquecer que a regulação não é para criar barreiras, é para proteger o investidor. No futuro, o Bitcoin pode ganhar expressão e se sobrepor às outras moedas, como o dólar se sobrepôs ao ouro. Mas acho difícil que seja sem uma forte regulamentação para se coibir os riscos de fraude, lavagem de dinheiro…”
A ausência de supervisão de autoridades monetárias é um dos aspectos que gera dúvidas sobre as criptomoedas. Recentemente, o Federal Reserve americano e o Banco Central do Brasil recomendaram cautela a quem pensa em comprá-las como investimento. A falta de transparência, porém, não parece intimidar os brasileiros. Já há hoje, no país, mais gente investindo em Bitcoin do que na Bolsa.
“Olha que coisa: a pessoa não entende o que é Bolsa de Valores, não compreende quais são os ativos que estão lá, mas resolve investir em Bitcoin, algo muito mais complexo, e com toda uma quantidade de variáveis muito maior para se levar em consideração do que você teria em termos de históricos de informação com ativos negociados em mercados regulados.”
Marcio atribui parte dessa empolgação a uma facilidade natural do brasileiro em assimilar novos produtos e novas visões. Nesse sentido, a ideia de moedas digitais é coerente com um mundo dominado pelos millenials, uma geração que demanda meios de pagamento cada vez mais ágeis. Ao menos em parte, esse anseio deve ser atendido pelo Blockchain, a tecnologia de contabilidade que dá suporte ao Bitcoin e a outras criptomoedas.
“O Blockchain veio para criar um ambiente que você tem uma maior agilidade de transferência de recursos, de posições, de pagamentos, isso pode ter um benefício muito grande a médio-longo prazo. É isso que eu tenho visto os grandes players do mercado, os grandes bancos, empresas, olhando com mais atenção.”
O CEO da Easynvest também vê com olhos esperançosos a economia brasileira. “Acho que o Brasil oferece ‘N oportunidades’ para quem quer estar aqui”, diz Marcio. “E eu estou bem animado com o que vem pela frente. Acredito que os próximos dois, três anos, podem ser anos muito bons para o Brasil.”
O cenário global comporta essa perspectiva otimista, embora seja sempre sujeito a sobressaltos. “A economia mundial está sólida, andando bem, mas qualquer soluço que acontecer terá um reflexo nos mercados de uma maneira geral. E, com certeza, num mercado tão volátil quanto as criptomoedas o soluço seria ainda maior.”
Mas o que Marcio diria se um amigo perguntasse sobre investir ou não em Bitcoins?
“Para ser muito objetivo, eu não tenho um centavo de Bitcoin. Então, se um amigo perguntar o que eu acho, vou dizer: eu não invisto. A questão é o tamanho do risco que o investidor quer tomar. Você pode atravessar a rua no meio dos carros ou subir na passarela… Então, qual é a sua capacidade de aceitar riscos? E quanto você acredita que isso vai performar bem pra você? É uma tomada de decisão.”
Por ora, o futuro das criptomoedas permanece em aberto. O certo é que o Bitcoin ainda será tema de especulação por algum tempo, seja entre investidores, seja nas rodas de conversas informais. Para quem pensa em investir, o crucial é lembrar a regra de ouro, a primeira pergunta que todo investidor e investidora deve fazer a si, diante do espelho: qual é o tamanho do risco que eu estou disposto a correr?