Há quase dois anos, Giuliana Wolf, 25 anos, e Thiago Tavares, 26, um casal de jovens empreendedores, resolveu transformar uma paixão em comum, a cachaça, em negócio. Entre viagens e visitas a alambiques, eles criaram o projeto do Quintal da Cachaça, um clube de assinaturas que entregava aos membros duas novas garrafas por mês – o “Kit Cachacier”.
O vínculo deles com o universo da bebida era forte, assim como a admiração pelos produtores do destilado. Por isso, quando chegou a hora de abrir mão do sonho e abandonar o Quintal, vendido no ano passado para uma distribuidora, foi difícil separar negócio e vida pessoal. É o que eles contam agora.
A venda para a Phenix (distribuidora de bebidas com 15 anos de mercado) aconteceu quando o Quintal sofria com o cancelamento crescente de assinaturas.
“Sempre perguntávamos aos clientes o motivo da desistência, e muitos diziam que estavam desempregados”, conta Giuliana.
Até o início daquele ano, o número de novos assinantes por mês superava os de cancelamentos, mas os sócios interpretaram a tendência como um sinal para mudar a estratégia do negócio e depender menos da receita advinda das assinaturas.
Não seria o único problema. Thiago conta que os preços dos Correios subiram na mesma época, e que o mercado da cachaça artesanal passou a ser tributado de maneira diferente.
A tributação, que antes era fixa e tinha como referência a quantidade produzida, passou a ser sobre o valor do produto, o que aumentou o final preço das garrafas. Nestas condições, o Quintal dificilmente se manteria saudável nos meses seguintes.
Revisitando a reportagem do Draft de 2015, eles lembram que tinham uma visão a longo prazo do negócio, mas colocaram os pés no chão pouco tempo depois. Giuliana diz: “Tentamos nos planejar para manter uma operação saudável, porque era a nossa única fonte de renda”.
Como o dinheiro em caixa diminuía a cada dia, era a hora de tentar acelerar os planos. Os sócios pretendiam, além de continuar com a entrega de duas cachaças por mês aos assinantes, inaugurar um e-commerce e, depois, abrir uma distribuidora da bebida.
Estas medidas dariam mais opções aos clientes mas, segundo Thiago, eles não conseguiriam colocar esses planos em prática sozinhos. Ou seja, para o negócio sobreviver seria preciso abrir mão de parte dele.
DOEU. MAS ERA VENDER OU MORRER
A busca por possíveis parceiros começou começou com uma série de reuniões, nas quais os sócios tentavam enxergar novos caminhos para o Quintal. Mas o casal não conseguia chegar a uma solução que fosse capaz de salvar a empresa e ao mesmo tempo seguir o plano inicial. Thiago fala dessa “peregrinação”:
“Fizemos oito reuniões com empresários do ramo. A cada uma, eu sentia uma fisgada no coração”
Como eles tinham apenas um ano à frente do negócio e pouca experiência, temiam que a venda do Quintal pudesse transformá-lo em um negócio sem identidade, ou sem respeito pela cachaça. “Não queria que todo o trabalho de que fizemos fosse modificado”, diz Giuliana.
Depois de seis meses de busca por uma alternativa, com o planejamento financeiro sendo colocado à prova a cada dia, eles ouviram a primeira proposta realmente tentadora. Thiago conta: “A Phenix tinha os mesmos planos para o Quintal. Então, ofereceram para comprar 100% da empresa e topamos”.
O valor da transação é confidencial (por normas contratuais), mas eles dizem que as condições foram “boas para as duas partes”. Para não se deixar levar no calor do momento e nem se perder na burocracia, o casal pediu para que Roque Wolf – o pai de Giuliana, que sempre foi o terceiro sócio do Quintal, mas ficava mais afastado da operação – ajudasse no fechamento do contrato. Segundo Giuliana:
“Ele tinha mais experiência em vendas e nos orientou para criarmos um contrato junto com a distribuidora”
A venda foi concluída em junho de 2016. No mês seguinte, em julho, o Quintal da Cachaça, que nasceu no quintal da casa da família Wolf, abandonou o escritório que ocupava havia pouco mais de um ano, em Campinas (SP).
O QUE FAZER QUANDO SEU NEGÓCIO NÃO É MAIS SEU?
Descansar. “Um mês de total descompromisso com tudo.” Essa foi a primeira recompensa para os fundadores do Quintal da Cachaça após a venda da empresa, segundo Giuliana.
Ela, que é jornalista de formação pela PUC-Campinas, optou por investir a sua parte do dinheiro da venda em cursos e voltar à carreira na área de comunicação. Na sequência, aceitou um emprego em uma empresa de tecnologia e design.
“Nos próximos cinco anos, pelo menos, quero investir em conhecimento”, diz.
Thiago, que desde 2013 se interessa por startups de tecnologia – e já se viu encantado por palavras importadas do Vale do Silício como “IPO”, “unicórnio”, “venture capital” (como acontece com uma parte de empreendedores de primeira viagem) – ainda quer ter o próprio negócio, mas diz não ter pressa, pois concluiu que a prática é mais difícil do que a teoria.
“Tentei validar algumas ideias, mas logo vi que não eram relevantes para o mercado, mas depois de três meses buscando uma nova proposta, entendi que o melhor caminho é trabalhar em uma startup que esteja crescendo”, conta ele.
Hoje, o Quintal da Cachaça mantém não só o nome, mas a essência do que o casal fundador criou. O produto oferecido pela Phenix segue o mesmo modelo que o anterior, mas também inaugurou a loja virtual (sonhada lá atrás), onde o cliente pode comprar cachaças e vodcas buscando por região, volume e categoria.
O “Kit Cachacier” permanece trazendo duas cachaças inéditas a cada mês, com folders que contam a história do produtor, mas o valor da assinatura mensal aumentou para 89 reais – em 2015, custava 59,90 reais.
AMADURECER É SABER LARGAR O OSSO
No entender dos fundadores, o balanço da história do Quintal da Cachaça é positivo. Giuliana conta que o processo de venda da empresa contribuiu para uni-los ainda mais como casal:
“Se sobrevivemos ao fechamento de uma empresa juntos, é porque tinha que ser”
Thiago diz que largar o osso não foi das experiências mais agradáveis, mas resultou em um amadurecimento do seu lado empreendedor: “O tempo de transição e de transferência de conhecimento foi essencial para desgarrarmos”.
Foram muitas lições em pouco tempo. Afinal, os dois estavam fazendo tudo pela primeira vez: começar uma empresa do zero, construir uma reputação no mercado, tentar salvar o negócio e, por fim, vê-lo sob nova direção.
Para fechar o ciclo com a cabeça no lugar, eles contam qual mantra os guiou no processo: “O negócio tem que ser maior que você”. Saúde!
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