“Os melhores empreendedores sociais não focam nas carências, mas nas potências de uma população”

Adriano Silva - 28 abr 2016
Rogerio Oliveira, da Yunus Brasil, na Academia Draft: "em Negócios Sociais, um fator importante é a replicabilidade da ideia. Você quer mais gente concorrendo para o mesmo fim. Concorrendo no sentido de duas iniciativas com a mesma missão, e não de competição".
Adriano Silva - 28 abr 2016
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Rogerio Oliveira, ex-executivo com atuação de mais de 15 anos no mercado corporativo, passando por multinacionais, incluindo aí o grupo GP, do lendário empresário Jorge Paulo Lemann, trocou tudo para representar no Brasil a Yunus Negócios Sociais, que se define como tendo o “objetivo [de] desenvolver negócios sociais pelo país através de seu fundo de investimentos e aceleradora para negócios sociais”, e oferecendo “serviços de consultoria para empresas, governos, fundações e ONGs”.

A Yunus é uma organização criada por Muhammad Yunus, um economista bengali conhecido como “o banqueiro dos pobres”, criador do conceito de microcrédito e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. Rogerio, como tantos, mudou de vida e de carreira, e encontrou o seu propósito, ao ler Um mundo sem pobreza, livro seminal de Yunus.

Com jeans surrado, All Star e camiseta, Rogerio chega para a sua aula na Academia Draft, Quer ser um empreendedor social?, com um sorrisão na cara, que orna bem com seus cabelos e barbas grisalhos. Rogerio parece um cara feliz. Ou, ao menos, tranquilo, como aquelas pessoas que sabem que estão no lugar certo, fazendo a coisa certa com a sua vida. O que já é muita coisa. Se a felicidade é uma quimera fugidia, encontrar a sua missão na vida, e tratar de realizá-la, é uma conquista que parece mais objetiva, e, portanto, mais ao alcance da gente. Ainda que não seja menos difícil de implementar.

Havia conosco, na terça à noite, presencialmente, no Project Hub, e na transmissão via streaming da Vocs.tv, gente variada: gerentes financeiros, donos de restaurante, publicitários, grandes empresários, pequenos empreendedores. Todos com algumas características em comum: um cansaço com o modelo de trabalho tradicional, uma ausência de sentido na carreira ou à frente de um negócio, o desejo por sentir orgulho da própria atuação profissional, uma curiosidade para conhecer outras possibilidades e alternativas – o que significa não se deixar deprimir com o próprio dia-a-dia, mas tentar mudá-lo.

E o que todos ali buscavam, bem como qualquer pessoa interessada em negócios sociais? Fazer o bem. Gerar um legado. Ajudar quem precisa de ajuda – essa frase foi verbalizada por uma moça na aula presencial, com um brilho no olho que não se encontra facilmente pelaí nesses dias que correm. E mais: resolver problemas reais. Ser útil de verdade para as pessoas e para o mundo. Se sentir bem com isso. Se saber relevante. E então conseguir viver disso. Para quem descobre em si esse propósito, não tem jeito: é saltar ou ficar infeliz, fazendo outra coisa. Ou seja: aos que descobriram sua verdadeira vocação, seu chamado, é seguir ou seguir.

A fala de Rogerio, mansa e ao mesmo tempo vigorosa, numa charla que durou 150 minutos, e que iria adiante tivéssemos mais tempo, ia revelando alguns pontos interessantes. Por exemplo, a relativa fragilidade do Terceiro Setor. Quando uma ONG perde seus beneficiários, seus fundeadores, ela deixa de poder prestar os seus serviços. Os negócios sociais acrescentam o pilar da sustentabilidade a essa equação. A ideia é que você tem que gerar condições sólidas para fazer o bem. De modo contínuo e independente do humor ou da benevolência de terceiros. É melhor quando sua iniciativa não depende de doações ou da boa vontade alheia. Para isso, é preciso que a sua iniciativa funcione como um negócio.

Em empresas sociais, ou de impacto, no modelo da Yunus, a empresa precisa dar lucro – mas o lucro não é retirado na forma de dividendos pelos acionistas. O lucro é reinvestido no negócio para que a empresa possa impactar positivamente cada vez mais pessoas.

E o teste de mercado, disse Rogerio, é importante – é ele que vai garantir que o que você faz esteja realmente gerando valor para as pessoas. É a sociedade que lhe diz isso. Ao responder positivamente ou não à sua proposta. A ausência desse crivo é um problema adicional para o Terceiro Setor – sem o teste de mercado, você nunca sabe qual é o valor do projeto que você vendendo aos patrocinadores e ofertando à sociedade.

Rogerio mostrou as muitas diferenças sutis que há no setor de impacto social: negócios responsáveis, negócios inclusivos, negócios de valor compartilhado, negócios sociais, negócios de impacto social. A gente costuma usar esses termos indistintamente. E cada um expressa um modelo próprio, com escopo e desenho de negócios específicos. Aprendemos com Rogerio que a ideia de que os negócios sociais trabalham sempre na escassez, com recursos parcos e margens apertadas é equivocado. Nem sempre isso é verdade. De um lado, trabalhar com a baixa renda, por exemplo, pode gerar negócios com alto impacto social, altamente lucrativos. De outro, negócios sociais nem sempre estão ligados à pobreza. O impacto pode acontecer em qualquer porção da sociedade.

A aula de Rogerio foi muito inspiradora pelas histórias que contou. E instrumentalizou os participantes pelas ferramentas que indicou. Mas havia um subtexto ali, igualmente motivador para as pessoas – a própria figura de Rogerio, e sua aura centrada, serena e forte, de quem tomou a decisão de fazer da sua vida aquilo que em determinado momento sentiu que deveria fazer.
Rogerio, como todos ali, um dia se viu insatisfeito com os rumos da sua vida e da sua carreira – por mais “bem-sucedidas” que elas fossem – e teve a coragem dar uma guinada no voo que vinha empreendendo. Uma guinada que o trouxe mais para perto de si mesmo.

Quando a gente vê que alguém saltou e sobreviveu, e renasceu, e cresceu, a gente fica mais confortável para saltar também.

Obrigado por isso, Rogerio.

(Se você tem interesse nesse mundo maravilhoso dos negócios sociais e perdeu a aula de Rogerio, saiba que dentro de alguns dias ela estará disponível na área de Aulas Gravadas, no site da Academia Draft.)

 

 

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