por Lucas Mendes
Os millennials serão metade de toda a força de trabalho no mundo em 2020. Com uma série de desafios profissionais à frente, os jovens da chamada geração Y (nascidos entre o início da década de 80 e meados dos anos 90) têm dado dor de cabeça às empresas.
Como lidar com uma geração com fama de “preguiçosa”, “descomprometida” e que muda a todo instante de emprego?
Pensando neste cenário, a Revelo, plataforma de recrutamento digital, fez um levantamento com mais de 13 mil profissionais com o objetivo de entender mais a fundo essa geração. Os resultados, no entanto, foram diferentes do que esperávamos.
Ao contrário da fama de preguiçosos, os jovens entre 22 e 35 anos entraram no mercado de trabalho mais cedo do que seus antecessores. De acordo com o estudo Millennials — o guia completo sobre carreira e comportamento da geração Y, 74% dos millennials começam a trabalhar antes mesmo de concluir a graduação. A rejeição destes jovens por grandes empresas é outro estereótipo que não condiz com a realidade mostrada pelos dados.
Descobrimos que millennials têm 12% mais propensão a recusar ofertas de pequenas empresas e startups do que profissionais das gerações anteriores
Isso é reforçado por uma pesquisa da SurveyMonkey com jovens dos Estados Unidos para entender onde eles mais sonham trabalhar. Os resultados mostraram que as dez empresas mais desejadas pelos millennials norte-americanos são todas gigantes multinacionais: Microsoft, Walt Disney, HP, Google, Apple, Boeing, Intel, Caterpillar, Amazon e Lockheed Martin.
Outra questão polêmica envolvendo a geração Y diz respeito ao salário. Apesar da visão de que estes jovens estejam interessados em altos rendimentos sem o acúmulo prévio de experiência profissional, nossa pesquisa apontou que a frequência de recusas a ofertas de emprego por conta do salário é 30% menor entre os millennials do que entre pessoas que fazem parte de outras gerações. E o mercado não tem dado trégua: os dados mostram que a geração Y recebe propostas salariais 29% mais baixas do que suas pretensões. É claro que o quanto você ganha no fim do mês é um fator relevante, mas o dinheiro não é o único foco desta geração.
Millennials estão especialmente preocupados com o crescimento na carreira, o desenvolvimento profissional e o impacto no mundo — o famoso “propósito”
Também é equivocado o mito de que jovens da geração Y estejam assumindo altos cargos dentro das empresas precocemente. Apenas 15% dos millennials já tiveram títulos de “diretor”, “gerente” e “coordenador” em seus trabalhos. Os não-millennials ainda predominam nas posições de liderança, uma vez que 39% dizem já ter sido diretor, gerente ou coordenador.
Apesar de este grupo ser conhecido por querer pular etapas e assumir rapidamente posições de liderança, essa geração deve atingir esse status apenas por volta dos 40 anos. Um dos fatores que contribui para isso é que seus antecessores (os baby boomers e a geração X) estão demorando mais para se aposentar, reduzindo assim o número de cargos de liderança disponíveis.
Mas, em meio a tantos mitos, um estigma parece encontrar sustentação nos dados: os millennials mudam mais vezes de emprego.
A geração Y troca de trabalho pelo menos quatro vezes durante a primeira década fora da faculdade
Isso é quase o dobro do número de mudanças que a geração anterior fazia neste mesmo período. E mais: eles não apenas trocam mais de emprego, mas frequentemente mudam para setores completamente diferentes.
Estes jovens são rápidos e inquietos. Por isso, as empresas devem deixar o preconceito de lado o quanto antes e analisar com atenção como eles se comportam no mercado, quais são suas aspirações e necessidades. Para que as companhias se adaptem a esta nova força de trabalho, precisamos entender que millennials cresceram em um cenário de revolução tecnológica intensa e querem ser movidos por desafios.
As organizações que não agirem assim estão fadadas a perder grandes talentos para a concorrência. Enxergar como essa geração, ainda vista como “preguiçosa” e “imprevisível”, está se firmando como maioria no mercado de trabalho é algo essencial atualmente.
Lucas Mendes, 35, é engenheiro formado pela Poli-USP, com mestrado na École Polytechnique (Paris). Morou por dois anos no Vale do Silício, onde fez um MBA na Stanford University. É cofundador da Revelo e advisor de outras startups para o fundo monashees Capital.
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