Otávio Dias, 42 anos, é o sócio-fundador da Repense, agência de comunicação integrada que brotou depois que de uma mudança estratégica em sua carreira.
Idos de 2006. Ele parou por um momento. Trinta e quatro anos, puxa vida, e já acumulava know how de gente grande e posto de executivo no mercado de comunicação.
Ocupava a presidência da GreyZest Direct & Digital, agência de marketing direto que ajudara a fundamentar as bases, cimentar os tijolos e a erguer alguns andares.
A GreyZest tem origem na Zest, fundada por Beatriz Teixeira de Freitas em Curitiba, no início dos anos 1990. Otávio esteve presente desde os primórdios. De diretor a sócio, carregou, caminhou e se manteve firme na condução da agência por um bom tempo após o processo de associação ao conglomerado norte-americano Grey Global Group, em 2000. Hoje, o Grey pertence à gigante multinacional WPP.
No Brasil, a GreyZest chegou a ser a sexta agência do país em marketing direto e relacionamento. Naquele 2006, Otávio havia sido convidado para preencher um assento entre os jurados do Festival de Publicidade de Cannes, cujos Leões de ouro, prata e bronze conquistados toda agência bate no peito e rosna de orgulho (parênteses importante: a Repense, por sua vez, não participa de premiações justamente porque acredita que a corrida pelos prêmios muitas vezes resulta em cases incrivelmente bem contados, mas de poucos resultados). Otávio lembra o momento que atravessava:
“Eu não estava feliz. Não acreditava mais naquele modelo de agência, toda compartimentada. Os clientes buscavam uma agência mais ágil, integrada, e que não separasse a comunicação em caixinhas”
Essa foi a primeira parada para pensar. Internamente, ele já não via a possibilidade de imprimir esse pensamento mais sintonizado com o momento do mercado dentro daquele grupo. Veio uma mudança de gestão, com pessoas com as quais ele não sentia tanta afinidade, e isso culminaria em seu desligamento da agência. Ao notar que a porta de saída estava aberta, definitivamente, ele quase ficou doente. “Tinha um apego àquela agência. Ajudei a criá-la. Pensava que estava abandonando um sonho”, conta.
Foram 13 anos de Zest, praticamente a vida profissional inteira de Otávio, que é carioca e se mudou para Curitiba na época da faculdade por conta da família. Entre 1994 e 1998, cursou Administração de Empresas e Marketing na Universidade Federal do Paraná. Sua jornada na Zest teve início em 1993. Aí um certo alguém assoprou-lhe algo ao ouvido.
PODE SER QUE EXISTA UM EMPREENDEDOR DENTRO DE VOCÊ!
É tudo “culpa” de Luna Gutierres, que quando semeou a Repense nas ideias de Otávio era “apenas” diretora e amiga de Otávio na antiga empresa. Em dias de agonia do quase ex-presidente da GreyZest, ela soltava frases como: “Por que você não abre uma agência nova? Por que não recomeça? Você tem uma marca. Um monte de gente te conhece no mercado”, conta Otávio. E tome repense. “Quando ela falou isso, passei a noite em claro pensando, pensando”.
Danou-se. O tal do empreendedorismo começou a crescer dentro dele. Na verdade, voltou a crescer. Ainda jovenzinho, no início da fase curitibana, ele “gourmetizou” o biscoito que sua mãe fazia e criou marca, folheto, tudo. Mamãe ficou orgulhosa – e recheada de pedidos. Depois, no primeiro emprego como estagiário em uma empresa de capacitação em informática com foco no mercado corporativo, percebeu que o espaço ficava vago à noite e propôs usar a estrutura para oferecer cursos para crianças. Surgia a PC Kids, que chegou a ter 100 alunos. Mais tarde, aí já na Zest e antes da Grey, montou junto com a irmã uma baladinha na capital paranaense. Chamava-se Meet e durou mais ou menos de 1999 a 2004. “Sempre tive essa veia de enxergar oportunidades”, diz Otávio.
De volta ao convite para Cannes. Otávio embarcou para a França com as antenas ligadas. “Pesquisei os formatos das agências que estavam surgindo diferente das tradicionais, que chamavam de hot shops ou boutiques criativas. Visitei mais de 10 agências para conhecer os seus formatos. Aí surgiu a Repense”, conta.
Na volta, convidou Luna para a empreitada e ela participou da fundação da nova agência, depois de Otávio vender sua parte na GreyZest e bancar sozinho o investimento inicial de cerca de 500 mil reais no novo negócio. Flávia Paranhos completa o trio de sócios da Repense. “Em um passe de mágica, tudo começou a dar certo e se sintonizou com o que era para ser”, conta ele.
HORA DE COLOCAR EM PRÁTICA A IDEIA DO DIFERENTE
Mas, afinal, o que a Repense faz de diferente? Em poucas palavras, ela é uma agência de comunicação integrada com DNA de marketing direto e digital. Trabalha em três frentes: imagem, ativação e reputação de marca. Uma das linha de pensamento que Otávio vislumbrou em 2006 — e que hoje é discurso praticamente obrigatório no mercado — é a integração profunda das mídias digitais à operação da agência: “Queríamos uma agência que enxergasse as novas mídias como algo extremamente intrínseco e transversal a tudo o que a gente faz. Não como mais um departamento da empresa”.
Um outro pilar também ajudou a fazer a boa fama da Repense ao longo dos anos: o engajamento socioambiental. Otávio fala sobre esse link, que para muitos ainda não é óbvio:
“Apesar de sermos uma agência que divulga produtos e constrói marcas, podemos contribuir para um mundo melhor”
Na Repense isso acontece seja trabalhando para ONGs e ajudando-as a captarem recursos e construírem marcas, seja colaborando para os clientes encontrarem causas, vocações sociais e ambientais. Com essa vocação definida, surgiu quase que naturalmente a Rede de Repensadores, um time de 24 profissionais de fora da agência, com expertises diversas e em posições estratégicas no mercado.
Gente bem diferente dos frequentadores desse universo quase particular das agências de publicidade. Entre eles, o consultor Leonardo Brant, responsável por uma área chamada O Poder da Cultura; a publicitária e empresária Nany Bilate, que cuida de ideias envolvendo Movimentos Humanos e Ana Carla Fonseca, de olho na Economia Criativa. O que os une? A vontade de fazer coisas novas e melhorar o mundo.
“Uma característica forte minha é o relacionamento, a vontade de me relacionar com pessoas, a construção de pontes, de colaboração. Acredito muito que a gente consegue fazer as coisas através de um grupo, um time de pessoas que se ajudam mutuamente, em um jeito diferente de se trabalhar, empreender. A parceria com outras marcas, outros empreendedores, ela é fundamental para a gente fazer coisas diferentes, inovadoras”, conta Otávio.
A Rede se encontra a cada três meses para trocar ideias e as peças encaixam-se aleatoriamente em projetos específicos. Por exemplo, tem uma turma trabalhando em ideias para melhorar a cidade de São Paulo, com o objetivo de apresentar o resultado a possíveis grandes patrocinadores. Otávio, novamente, deixa claro o link entre a boa vontade e o bom negócio:
“A gente tem uma promessa clara para o mercado: ser uma agência que se sintonizou com as mudanças midiáticas, tecnológicas e sociais do mundo”
Outro braço da Repense é o projeto Think & Love, um portal que serve como uma espécie de vitrine para o terceiro setor no Brasil. A intenção é mostrar as boas iniciativas que estão acontecendo no país, e incentivar a cultura da doação. É só entrar, escolher uma das 60 ONGs que hoje estão inseridas na iniciativa, clicar e doar. “A causa da Repense é a Think & Love”, afirma Otávio.
A sede da agência fica em São Paulo, e há unidades no Rio e em Curitiba, contando com um total de 120 funcionários. Em 2014, a Repense faturou 20 milhões de reais em receita bruta. E dentre as fases inevitáveis de altos e baixos, arrebatou uma clientela que reúne grandes corporações – Banco Itaú, Oi, GSK, Bombril, DAF Caminhões, DOCOL, GS1 Brasil, Tecnisa, além das instituições como Médicos Sem Fronteiras, Fundação do Câncer e Instituto Ayrton Senna.
Dentre os cases que Otávio menciona, um dos que parece deixá-lo mais ainda com a sensação de missão cumprida é o de Bombril. O desafio era posicionar a marca de higiene e limpeza como uma empresa socialmente responsável em uma ação coerente com seus objetivos de negócio. Qual foi o insight? Criar uma plataforma de responsabilidade social. Assim surgiu a Casa Bombril, um programa de capacitação de empregadas domésticas, com cursos gratuitos. “Ainda vou escrever um livro: As Angústias Empreendedoras”, diverte-se Otávio:
“É um mito achar que a vida do empreendedor é mais difícil do que a do executivo. O executivo tem mais estabilidade, sofre menos? Depende, porque ele pode perder o emprego. É uma escolha de vida ser empreendedor”
Ele também dá algumas dicas para quem quer se aventurar por aí: “Não pode se abalar por qualquer coisa. É preciso equilíbrio emocional, autoconhecimento. Tem que buscar isso nos momentos mais difíceis.”
Sobre os tempos como executivo de multinacional, ele traz alguma lições fundamentais. Pragmatismo, para citar uma delas, é algo vital e muitas vezes negligenciado. “Quando a gente é empreendedor, tem muita paixão, e ela muitas vezes tira a gente do pragmatismo. Tem que ter metas, resultados, gestão financeira”, diz.
Claro, o risco faz parte da vida de qualquer empreendedor. Mas, é importante ter o mínimo consciência do que está em jogo – e isso na ponta do lápis. Outra dica importante é ouvir a intuição e “não postergar decisões quando já se tem uma percepção, às vezes mesmo que pequena, de que aquele caminho não é o certo.” Por outro lado, a persistência também é um aprendizado: “Persistir no acredita, mesmo quando vai um pouquinho contra ao que o mercado está dizendo.” Uma balança nem tão simples assim. Mas vale pensar, e repensar, a respeito.
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