Se você, feliz da vida, já programou o despertador para tocar às 8h porque sua primeira reunião do dia começa às 8h30, das duas uma: ou mora no escritório ou está trabalhando em esquema home office.
Se antes da pandemia apenas 35% dos profissionais podiam trabalhar remotamente, mesmo que em dias determinados, depois dela 95% deles tiveram a oportunidade de adotar o sistema, de acordo com uma pesquisa feita no ano passado pela consultoria de recrutamento Robert Half.
Mais flexibilidade no horário de trabalho e a comodidade de não precisar se deslocar para chegar ao escritório são algumas das vantagens que muitos de nós percebemos nesse modelo.
Tanto que, de acordo com a mesma pesquisa, 80% dos colaboradores que estavam empregados afirmaram que vão considerar o home office como um modo de trabalho e não mais como um benefício (77% dos profissionais desempregados têm a mesma opinião).
Essa é apenas uma das mudanças de comportamento provocada pela pandemia de Covid-19 que ainda enfrentamos – e cujos resquícios não sabemos muito bem quanto tempo vão durar.
Do lado das empresas, essa transformação resultou em alguns desafios, mas também em uma série de oportunidades não só para mudar processos como também para melhorar a experiência do colaborador.
“Nesta época, um dos benefícios mais utilizados tem sido o auxílio-home office”, afirma Mariana Cerone, Head de Consumo & Inovação da Sodexo Benefícios e Incentivos.
O auxílio-home office não é um benefício essencial – categoria que engloba vale-alimentação, vale-refeição, vale-transporte e vale-cultura. Mas, por causa da importância que adquiriu, entrou na gama de benefícios que muitas empresas passaram a ofertar para seus colaboradores.
“Por meio desse benefício, oferecido pela Sodexo com o produto Multi, por exemplo, as empresas subsidiam as despesas de infraestrutura que o colaborador tem para trabalhar de casa, como a internet que usa”, diz ela.
Segundo Mariana, outra grande mudança de mindset do brasileiro foi a adoção da telemedicina. “Não à toa, isso também transformou-se em uma tendência muito forte do mercado de benefícios”, conta Mariana.
Com o vírus Sars-Cov-2 circulando por aí, e especialmente nos ambientes hospitalares, muita gente começou a evitar ir a consultas médicas e até ao PS por medo de contaminação.
A redução do volume de consultas e atendimentos ambulatoriais em clínicas, laboratórios e clínicas de imagem chegou a alcançar 80%. Por isso, a prática da telemedicina foi autorizada em caráter de emergência no país.
A solução, que antes era vista com restrição até por parte da classe médica, acabou sendo amplamente aceita. No aplicativo do Ministério da Saúde, por exemplo, o teleatendimento evitou 64% das idas aos serviços de saúde presenciais, auxiliando a desafogar o sistema.
Operadoras de plano de saúde tiveram que disponibilizar plataformas que suportassem o teleatendimento rapidamente. E viram a solução crescer em demanda na casa dos três dígitos.
“A telemedicina é o benefício que tem o maior potencial de ser tão relevante quanto, digamos, o vale-alimentação nos próximos anos”, afirma a executiva da Sodexo.
Mas mesmo no pós-pandemia? Mariana acredita que esse novo hábito veio para ficar. “O tempo que se ganha fazendo um atendimento virtual é muito importante”, diz ela.
“Imagine que, para o colaborador ir ao médico antes, ele tinha que perder um período inteiro de trabalho”, explica. “Muitas vezes, precisava se deslocar para locais distantes, pegar transporte público. Agora, com o teleatendimento, ele espera sentado em sua mesa pelo médico e, quando a consulta acaba, pode continuar seus afazeres.”
Muitos especialistas afirmam que não vivemos uma, mas duas pandemias. A primeira, provocada pelo coronavírus, tem muita influência na segunda: a de saúde mental.
É verdade que a procura por serviços de saúde mental já vinha aumentando. Em 2019, os beneficiários de planos de saúde no Brasil realizaram cerca de 29 milhões de procedimentos relacionados ao cuidado em saúde mental – um aumento de 167% em relação aos atendimentos feitos no começo da década.
Segundo o Mapa Assistencial da Saúde Suplementar, as consultas psiquiátricas realizadas a cada mil beneficiários de planos de saúde subiram 80% entre 2011 e 2019. As de psicologia, 199%.
A pandemia, no entanto, agravou o cenário. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no ano passado revelou que os casos de depressão dobraram no período de quarentena. Além disso, ocorrências de ansiedade e estresse tiveram aumento de 80%. Tudo provocado pelas incertezas com a Covid-19.
“As demandas por saúde mental cresceram demais”, afirma Mariana. “Ela virou a ‘prioridade zero’. E vemos as grandes empresas muito preocupadas com essa questão em relação a seus colaboradores.”
Mariana conta que os clientes da Sodexo começaram a perceber também outra demanda de home office que não diz respeito exatamente ao espaço de trabalho, mas sim à logística.
“Por mais que quase tudo se resolva online, algumas vezes é preciso assinar um documento e registrá-lo em cartório, por exemplo. E a pessoa não quer sair da casa dela para fazer isso”, diz. “Ou, no desenvolvimento de um produto, é preciso ver um mockup.”
Como fazer para que as pessoas recebam tudo em suas casas?
“Da mesma forma que cresceu o delivery de comida, nós percebemos um crescimento de oportunidade em relação ao delivery para pequenos serviços de escritório.”
É possível, diz ela, que a empresa ofereça um incentivo, um pequeno valor mensal, para serviços desse tipo. “Isso pode proporcionar novas formas de benefício dentro das despesas com home office, que não são poucas.”
O mercado internacional, afirma a executiva, já começa a oferecer incentivos para ajudar na rotina da casa do colaborador. “Como é a logística de você fazer home office e seu filho ir para a escola parcialmente? Ou levá-lo para atividades ao ar livre, que são importantes para ele?”
Os benefícios que tinham a família como foco, contemplados com o auxílio-creche atualmente, têm chance de crescer. “Há oportunidades para ajudar os pais a terem qualidade de vida nesses modelos de home office e híbrido ao mesmo tempo em que podem oferecer qualidade de vida para os filhos, por exemplo, ou até idosos que eventualmente morem com eles.”
Mariana Cerone afirma que ainda há muita confusão quando o assunto é benefício corporativo. “Temos que lembrar que benefícios são subsídios dirigidos”, afirma ela.
Como é um subsídio, sobre o qual não incide imposto, e não um complemento salarial, o benefício tem uma finalidade específica – e só pode, portanto, ser usado para o fim a que se destina. Não dá, por exemplo, para usar crédito do vale-cultura para pagar outra conta qualquer.
“E isso vale tanto para os benefícios essenciais quanto para os flexíveis, que são aqueles que o colaborador pode escolher, entre uma gama que a empresa oferece, os que fazem mais sentido para ele.”
Entram nessa lista benefícios como auxílio-home office, auxílio-creche, auxílio-academia e auxílio-combustível, entre outros.
“O mercado de benefícios não é um vale-tudo”, explica Mariana. “A gente tem que entender o comportamento dos consumidores para entender as oportunidades. E a pandemia abriu uma série delas.”
Mariana diz que vivemos um momento de reinvenção. “O consumidor final, o colaborador da empresa, é quem dita as regras”, afirma. “E nós estamos preocupados em transformar os ambientes, tanto dos escritórios quanto dos home offices, em locais mais fluidos e mais produtivos.”
Muito além de política pública, passou do tempo de equidade racial estar apenas na agenda de responsabilidade social de empresas no Brasil. Saiba o que grandes organizações, como a Sodexo, estão fazendo em prol dessa causa.