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“Para inovar numa empresa consolidada, é preciso deixar o ego de lado. Ele é daninho”

Giovanna Riato - 24 nov 2016
Richard, diretor de inovação e tecnologia da Microsoft, diz que inovação interessa mais do que tradição.
Giovanna Riato - 24 nov 2016
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A Microsoft protagonizou alguns dos grandes saltos tecnológicos da humanidade nas últimas décadas. O longo histórico também traz tropeços, é verdade, mas a companhia se empenha globalmente para continuar com papel relevante e seguir como motor de novas revoluções. No Brasil, este esforço está nas mãos de Richard Chaves, 40, diretor de inovação e tecnologia para o país.

“Somos uma empresa quarentona, mas não adianta confiar no passado. O histórico não interessa, o que importa é a inovação, agora”, diz, repetindo um mantra do indiano Satya Nadella, que assumiu o cargo de CEO da Microsoft em 2014 e vem provocando uma consistente revolução interna — que fez a companhia voltar a se destacar no cenário da tecnológico ganhando, inclusive, a preferência de parte de público em relação à Apple.

Uma das frentes da Microsoft é a educação para a tecnologia, com o "Eu Posso Programar", voltado a jovens.

Uma das frentes da Microsoft é a educação para a tecnologia, com o “Eu Posso Programar”, voltado a jovens.

Richard, que está há 14 anos na Microsoft (dois neste cargo), brinca que seu time é evangelizador, ou seja, responsável por conquistar corações e mentes para usar tecnologia. Ele calcula que 5% dos consumidores sejam early adoppters de novos recursos e sistemas. O objetivo é aumentar este percentual para que mais pessoas queiram as novidades rápido e entendam a tecnologia como maneira de facilitar a vida.

A favor desta estratégia está a estrutura que a companhia tem no mercado para espalhar suas novidades. Para tanto, a Microsoft sabe que não adianta trabalhar sozinha: há frentes como os desenvolvedores de software que usam tecnologia Microsoft, profissionais de infraestrutura, startups e estudantes, por exemplo.

Ele dá a dimensão dessa rede: “Meu time alcança 600 mil desenvolvedores no Brasil que usam nossa plataforma e distribuem nossa tecnologia. É uma grande responsabilidade”.

A evangelização tecnológica que Richard faz não se apoia simplesmente em espalhar a palavra. Ele diz que o desafio é bem maior, é entregar um ótimo resultado, fazer a diferença para todo usuário. “A Microsoft é uma plataforma. Queremos empoderar cada indivíduo e empresa no sentido tecnológico, garantindo mais produtividade independentemente do dispositivo que use. A ideia é estar presente”, diz, citando o esforço para chegar a este público também por meio de eventos e cursos de capacitação.

Richard conta que nunca existiu momento melhor para trabalhar com inovação do que o que vivemos agora. “A revolução digital impacta muitas perspectivas. Temos o horizonte de chegada do carro autônomo, da impressão 3D, do bitcoin para subverter o mercado financeiro, além de inovações na área biológica com tratamento genético e a evolução da internet das coisas”, enumera.

Ele acredita que a Microsoft tem uma função importante nessa transformação, justamente por oferecer a tecnologia que serve de base para as demais. “A computação em nuvem é tão revolucionária no século 21 quanto foi a energia elétrica no século 20. É a base que garante baixo custo para tudo de novo que está acontecendo”, diz. “Nosso papel é democratizar a tecnologia para acelerar revolução.”

FOMENTAR O EMPREENDEDORISMO PARA SE MANTER JOVEM

A Microsoft conta com uma série de centros tecnológicos, investe 10 bilhões de dólares anualmente em pesquisa e desenvolvimento no mundo e tem seis centros de inovação só no Brasil. Ainda assim, se existe uma vantagem em ser quarentona em universo cheio de empresas jovens é justamente a presença em várias frentes. Velha de guerra, a Microsoft entendeu que é essencial estar ao lado do sangue novo no mundo tecnológico.

“Temos uma abordagem muito particular de inovar pelo ecossistema. Isso é muito mais amplo do que só trabalhar nos nossos laboratórios”

Atualmente, empresa oferece nove programas para fomentar o empreendedorismo. É muito mais do que a média de um ou dois que as demais corporações costumam dedicar à área. As ações começam com a oferta de cursos de programação para jovens de 12 a 25 anos. O “Eu posso programar” pretende garantir inclusão digital e estimular a vontade de empreender.

Quadro mostra o organograma da Jornada Empreendedora: uma série de ações para fomentar e trazer inovação para dentro da Microsoft.

Quadro mostra as etapas da Jornada do Empreendedor: uma série de ações para fomentar e trazer inovação para dentro da Microsoft.

Depois desta etapa, há programas que passam por estudantes universitários, oferecendo capacitação tecnológica para diversos públicos até chegar às startups propriamente ditas, por meio de treinamentos e investimentos. Esse ciclo é o que a Microsoft chama de jornada do empreendedor. Há, também, o investimento direto: “Temos um braço de venture para investir e fomentar ecossistema, temos parceria com a Anjos do Brasil para conectar investidores com novas empresas e, recentemente, começamos com um trabalho de abrir frente para que as startups cheguem às grandes companhias”, conta.

Esta última ação está ligada ao programa BizSpark, que trabalha com negócios de até cinco anos de vida com a oferta de software gratuito, treinamentos, mentoria, além da oferta da nuvem da Microsoft para armazenar dados. Só este programa demanda investimento de 12 milhões de dólares da empresa desde o começo, em 2011.

“Oferecemos cerca de 120 mil dólares em recursos tecnológicos para as empresas com maior potencial. A ideia é que ela saia do programa e voe alto. Não dá para exigir que uma startup tenha condições de investir em software e tecnologia”

A Microsoft estima já ter trabalhado com 10 mil startups dentro da iniciativa, 2,7 mil delas ativas atualmente. Além destas, Richard enumera outras iniciativas que unem a Microsoft ao ecossistema empreendedor, como eventos e a presença em coworkings, como o Cubo, em São Paulo. “Sempre tem alguém do meu time lá para conversar com as empresas interessadas.”

A ideia é simples: se fazer presente e garantir que as pessoas que começam a inovar hoje enxerguem a companhia como parceira no futuro. O plano tem potencial. “Já temos grandes histórias de empresas que estão conseguindo crescer. No Brasil, 60% dos estudantes querem empreender. Estas iniciativas geram uma série de empregos”, conta.

COMO É O ESFORÇO INTERNO PARA INOVAR

Enquanto trabalha para alimentar o ecossistema de inovação no Brasil, a Microsoft enfrenta o desafio de se manter fértil internamente, de fugir da armadilha de virar uma corporação fechada e inflexível.

“Toda grande empresa acaba criando uma cultura de que o que funciona é fazer o mesmo que foi feito até agora. Isso é daninho para a inovação. Precisamos deixar o ego de lado e abandonar essa postura”

A área de inovação da companhia no Brasil tem trabalhado em colaboração com outros times para provocar esta postura mais curiosa e cultivar a humildade intelectual na empresa. Entre as ações está uma espécie de hackathon interno em que as equipes se reúnem por um dia para pensar em ideias inovadoras, fazer melhorias internas e olhar questões das várias áreas por ângulos diferentes.

Outra iniciativa é o mentoring reverso em que um estagiário atua como mentor de um líder, ajudando o profissional experiente a arejar o olhar para as necessidades da empresa. Richard conta que, apesar de ser uma grande companhia global, a Microsoft não conta com tantos níveis hierárquicos e trabalha com a política de deixar as portas abertas para que as pessoas troquem ideias e alimentem o debate. “Liberdade é mais importante que hierarquia”, diz.

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