De onde nasce a vontade de empreender? No caso do administrador de empresas, Vinícius Moog Pinto, 26, ela surgiu de uma grande insatisfação pessoal e profissional. Desde formado, seguiu o caminho tradicional dentro da área, trabalhando em multinacionais nas áreas de marketing, compras ou finanças. Até que não aguentou mais. “Estava ali dentro e era só mais uma pessoa, não sabia o que fazia, nem para quem, nem por que e isso começou a me incomodar. Eu não achava as respostas”, diz. Algum tempo depois, ele a encontraria empreendendo na ELEF Shoes, marca que transforma materiais descartados em calçados.
A ideia começou a tomar forma porque Vinícius sempre foi um apaixonado por calçados, mas seu conhecimento no ramo era zero:
“Foi uma aventura desde o início. Eu não conhecia a indústria calçadista, caí de paraquedas nesse meio e tive que ir desbravando tudo”
Mesmo assim, resolveu apostar suas fichas e iniciou pesquisas de mercado em 2015. Por morar em São Leopoldo (RS), cidade vizinha do polo industrial calçadista Novo Hamburgo, teve facilidade para estudar e entender sobre como se diferenciar da concorrência. E decidiu: usaria materiais de sobra da indústria para criar uma marca que representasse também seus valores pessoais.
SEM PLANO DE NEGÓCIOS, MAS COM BOAS ESTRATÉGIAS
Em 2016, com 5 mil reais tirados da poupança, nenhum plano de negócio, mas um sonho enorme de trabalhar com algo que gostasse, Vinícius produziu a primeira mostra de calçados da ELEF (o nome faz referência a elefante) em um ateliê que topou testar a ideia. Ele fala sobre o resultado:
“Achei que os primeiros pares iam bombar, mas fizemos um produto muito ruim, feio e nada confortável. Ficou longe da qualidade e do design que eu gostaria”
Entre tentativas, erros e melhorias, depois de um tempo ele chegou ao produto que considera ideal. Colocou um site no ar e viu sua marca crescer cada vez mais, principalmente por meio das redes sociais, aproveitando uma época em que o alcance orgânico (sem impulsionamento pago dos conteúdos) ainda era excelente. Nos últimos dois anos, aumentou a estrutura da empresa nas áreas de marketing, comercial e produção, e dobrou o faturamento de ano para ano. Em 2018, fechou as contas com 460 mil reais.
Para Vinícius, o que atrai o consumidor é a preocupação com o ciclo da matéria-prima: “Hoje a gente não consegue competir com os grandões do mercado por preço, tecnologia e nome de marca. O que nos diferencia é o produto, que é 95% de origem reaproveitada”. Ele fala mais a respeito:
“O couro e a lona são de descarte, o solado é de borracha reciclada e o forro é de algodão orgânico, isento de produtos químicos”
Com um design minimalista e tons de cores neutros, os tênis e botas variam de 250 a 324 reais. Um dos últimos modelos lançados, produzido com sobras de vela de barco, foi um sucesso de vendas, conta o empreendedor.
Apesar da loja online representar a maior fatia do lucro, com cerca de 90 pares vendidos por mês, Vinícius decidiu levar a marca para o atacado.
Ele afirma: “A gente percebeu que o atacado era importante para a operação e a expansão do negócio, então criamos estratégias para conseguir entrar nos pontos de venda, com collabs, com parceiros que tenham valores semelhantes aos nossos”.
Hoje, os principais pontos de venda da ELEF ficam em São Paulo (na Lar Mar e na Casa Diária) e em Garopaba (SC) (na SAL Garopaba).
CADA PAR TEM UMA COORDENADA QUE INDICA ONDE A ÁRVORE SERÁ PLANTADA
Outro atrativo da marca é um projeto que desenvolvem em paralelo com uma ONG americana que atua em países como Senegal, Quênia, Tanzânia e Uganda. Todos os calçados levam uma coordenada geográfica (pé direito latitude e esquerdo longitude) com a localização de uma comunidade que é responsável pela plantação de uma árvore.
A cada par vendido, ocorre a plantação e parte do faturamento da ELEF vai para essas comunidades. Vinícius fala sobre a escolha da ONG: “Muita gente questiona por que não ajudamos algum projeto brasileiro. A resposta é triste, mas simples. Tentamos muito parcerias aqui, mas todas as organizações apresentaram burocracia para formalizar, além de exigirem valores mínimos por mês de doação”
Para os próximos anos, o plano é internacionalizar a marca, já que tiveram uma boa aceitação no exterior, com algumas vendas realizadas por outros canais. Mesmo assim, o fundador da ELEF gostaria de manter 75% da produção artesanal no futuro, controlando o crescimento.
“A gente não quer crescer exponencialmente, nem produzir loucamente. Queremos manter a escala pequena, porque prezamos muito por tudo o que construímos, com coleções limitadas, que dependem dos materiais que encontramos”, diz. Outra oportunidade de mercado que já estão testando é a produção de calçados veganos, mas por enquanto, não pretendem abdicar das sobras de couro vegetal.
Depois de 1 000 pares vendidos, desde o início do empreendimento, Vinícius conta que seu maior aprendizado foi acreditar no potencial do negócio, por mais que não tivesse o conhecimento necessário da indústria no começo: “Tem que ter muita paciência, persistência e vontade de escolher um caminho diferente. Quando percebi, estava totalmente envolvido no negócio, estudando e realmente acreditando que daria certo”. E não é que deu?
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