O início da relação de Claudinei de Araújo, 50 anos, com a doação de sangue aconteceu de maneira casual. Quase que por acidente. Ele havia ido se consultar com um ortopedista, pois havia levado um tombo, e enquanto aguardava na sala de espera do consultório, caiu do bolso do médico uma carteirinha. Ao vê-la no chão, curioso, Claudinei perguntou do que se tratava. Era uma credencial de doador de sangue da Santa Casa de São Paulo. Isso foi em janeiro de 2009. Claudinei se interessou e foi até o hemocentro para entender como o processo funcionava. Apesar de não gostar de agulhas, ele imediatamente se cadastrou e nessa mesma visita fez a sua primeira doação. Desde então, não parou mais.
“Depois de doar a primeira vez, criei uma afinidade com o pessoal do hemocentro, por causa das histórias que ouvi, das pessoas que conheci”, diz Claudinei, que também escreve poemas. Hoje, ele é um dos doadores considerados amigos pela equipe do hemocentro da Santa Casa, pela sua disponibilidade e pela relação criada ao longo dos anos. Além disso, ele é um dos que doam também plaquetas, importante elemento do sangue, essencial ao processo de coagulação. Como as plaquetas são repostas pelo organismo a uma velocidade maior, cerca de 48 horas após a doação, é possível doar com mais frequência. Claudinei faz isso cerca de duas vezes por mês, quantidade máxima recomendada.
“A dificuldade de se doar plaquetas é pelo fato de o processo ser mais demorado”, diz. “Uma doação normal você faz em 10, 15 minutos. No caso das plaquetas, você é colocado em uma máquina especial, e o processo dura pouco mais de uma hora. Por isso, quando vou doar, vou ciente de que passarei aquele período no hemocentro. Mas não me importo. Todo esforço é válido quando se faz por amor.”
Por essa razão, Claudinei é tratado com distinção pelo time da Santa Casa. “É como se fôssemos uma família, por causa do tratamento que a gente recebe”, diz Claudinei. “Se temos alguma dúvida, eles nos explicam, o pessoal da captação me liga, e aos poucos criamos essa afinidade mútua.”
Claudinei demonstra seu afeto também por meio da poesia. Morador da zona leste de São Paulo, ele se interessa pela arte dos versos desde o colégio. “Lia poesias em livros, participava de estudos na escola e acompanhava lançamentos”, diz. “Às vezes me deitava em casa, pensava em poemas e os passava para o caderno. Fazia isso no parque, também, e no sítio de um antigo vizinho.”
Ele diz que o tema que mais o inspira é a natureza, assim como vontade de ajudar ao próximo. Nas ocasiões em que ele visita o hemocentro, além de contribuir com o próprio sangue, Claudinei também costuma entregar poemas à equipe que trabalha na coleta e na captação de doadores. “Como é algo que me faz bem, acredito que pode fazer bem para os outros também”, diz. “Aprendi muita coisa nas doações que fiz até hoje. Por isso, também queria transmitir algo positivo de volta. Tive a ideia de entregar as poesias, e o pessoal do hemocentro gostou.” Os poemas falam de fé e de amor. “Sem fé não há amor / Sem amor, não há vida”, dizem seus versos.
A tarde do último dia 26 de novembro, um sábado, foi de festa no hemocentro da Santa Casa. Comemorava-se o dia nacional do doador voluntário de sangue, celebrado no dia 25. O hemocentro estava cheio de gente, pessoas com maquiagem de palhaço, camisetas customizadas. E Claudinei estava presente. Cumprimentava e abraçava os funcionários, como se estivesse em casa com amigos. Ele diz que não se vê em outro lugar. “Se soubesse o bem que faz, teria começado antes”, diz Claudinei. “Você cresce espiritualmente, com a sensação de ajudar quem precisa. Acaba se tornando algo prazeroso. Eu me sinto honrado.”