Por dentro da M_A (ou, se você quiser, Mesa & Cadeira)

Adriano Silva - 13 jun 2016
Romeo Busarello e Denis Balaguer conversaram, com mediação da editora do Draft, Phydia de Athayde, sobre empreender dentro de grandes empresas. Na Campus Party, hoje.
Adriano Silva - 13 jun 2016
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O que é a Mesa & Cadeira?

Pergunte para eles e eles lhe dirão:

“Uma empresa que acredita em aprender fazendo. Nossa missão é ajudar profissionais do mercado a resolver seus novos dilemas estratégicos.

“Organizamos workshops em que os participantes se sentam à mesa e trabalham num briefing real. Na cabeceira, um profissional brilhante em sua área de atuação.

“Ou seja, nossas Mesas são mesas de trabalho. Você vai fazer, errar, fazer melhor, errar diferente. E, assim, você aprende.”

 

E como funciona a Mesa & Cadeira?

Deixe que eles lhe digam:

“Alguém brilhante sentado à cabeceira + Um grupo pequeno de pessoas talentosas + Um projeto.

“A gente acredita em fazer. A melhor maneira de aprender uma coisa é trabalhando diretamente nela. Por isso, reunimos gente competente para criar ao lado de um líder inspirador.

“A gente acredita em experiência. Nossos líderes são profissionais reconhecidos em suas áreas de atuação. À Mesa, você trabalha com eles: entende como resolvem problemas, por que escolhem certos caminhos e como, ao longo de suas carreiras, chegaram a soluções eficientes.

“A gente acredita em diversidade. Idades diferentes, histórias diferentes, jeitos diferentes de olhar o mundo. Nosso compromisso com todo líder e participante é que integrar o grupo será sempre uma experiência enriquecedora.”

 

A Mesa & Cadeira é uma criação de Barbara Soalheiro, jornalista que virou empreendedora e hoje lidera e é a facilitadora-mor dessa boutique de inovação, desse hotshop de prototipação, desse workshop maker supervitaminado.

Eu participei de um evento da Mesa & Cadeira.

Há Mesas independentes, em que as pessoas se reúnem por interesse diletante para trabalhar com um determinado talento que admiram, à cabeceira. E há Mesas corporativas, que trabalham para responder questões trazidas por empresas. Nas Mesas independentes você paga para participar. Nas Mesas corporativas, você é pago para sentar numa das pouco mais de uma dúzia de cadeiras postas em volta da mesa.

Eu tomei parte em uma Mesa corporativa. Na condição de maker – um cara que está ali para realizar. Há também os especialistas, que estão ali para contribuir. Os especialistas atuam hands-off, como consultores. O maker atua hands-on (em bom português: com a mão na massa), e está diretamente arrolado na construção do protótipo a ser gerado.

Participei da Mesa & Cadeira como maker - o profissional que é chamado para atuar com a mão na massa na construção do protótipo a ser gerado.

Participei da Mesa & Cadeira como maker – o profissional que é chamado para atuar com a mão na massa na construção do protótipo a ser gerado.

As Mesas duram cinco dias. E, ao final, o grupo tem que entregar uma resposta para o problema, tem que chegar a uma solução, tem que apresentar um protótipo. A Mesa de que participei durou dois dias e meio. E funcionou. Conseguimos chegar lá. (Bárbara comentou com o grupo que há sempre uma hora em que parece que não vai dar tempo. Mas que, ao final, sempre dá certo. É verdade – as duas coisas.)

Em 2015, Barbara fez 12 Mesas. Em 2016, já foram 12 Mesas só até maio. Se não me falha a matemática, isso indica que é possível que a Mesa & Cadeira mais que dobre de tamanho esse ano. (You go, girl.)

Na Mesa de que participei, havia 16 pessoas ao redor da Mesa. Doze executivos da alta direção do cliente – o presidente, três VPs, vários diretores e, de quebra, o presidente do Conselho de Administração da companhia. Mais quatro convidados externos – três especialistas e este maker que vos escreve. Além da própria Bárbara e de mais três talentos da Mesa & Cadeira. Teríamos três manhãs juntos – três turnos de 5 horas com o grupo todo reunido –, além do tempo de trabalho entre os workshops, para chegarmos ao resultado.

Barbara abriu a Mesa apresentando o problema que tínhamos que resolver. Deu o cenário e a nossa missão. Essa é normalmente uma incumbência do cliente, nas Mesas corporativas – expor o briefing.

No caso dessa Mesa, houve um trabalho prévio, uma tarde de discussões preliminares, para a estruturação do problema. É fundamental que todos compreendam bem onde todos têm que chegar – juntos.

Também é muito importante que todos saibamos que coisas não devem ser discutidas. Uma boa pauta deixa claro tanto o que está dentro e tem que ser vencido quanto o que está fora e não deve ter lugar naquele momento.

O grupo foi dividido em três subgrupos. Com temas de discussão já pré-definidos. Eram três enfoques do tema que juntos precisaríamos destrinchar. Depois de 40 minutos, cada grupo apresentou seu parecer a todos. Um processo dinâmico de geração de consenso, de explicitação e resolução de diferenças, e de tomada de decisões.

O presidente do Conselho de Administração, um dos sócios-fundadores da empresa, ia fazendo wrap-ups das discussões que iam acontecendo à sua frente, de modo desenxabido. O presidente, os VPs e os diretores debatiam abertamente os caminhos a seguir. Todo mundo ali tinha o mesmo direito à voz e a voto.

Ao final, uma primeira ata foi produzida, com os resultados, avanços e combinados do dia 1. Essa ata encaminhou os pontos que precisavam ser fechados no dia 2. Nesse exercício de divergir e de convergir de modo muito rápido e prático, surgiram cinco possibilidades que precisávamos analisar. Hipóteses que passavam pelo relançamento ou cancelamento de marcas existentes, pela compra de empresas, pela criação de novas marcas. Mais discussões, argumentos, concordâncias e diferentes pontos de vistas foram espocando nos subgrupos – e, depois, sendo expostos à Mesa. Uma segunda ata foi produzida, com os resultados do dia 2.

Ao trazer à tona os pontos polêmicos, ao abrir o compasso para abarcar as diferentes visões, sem qualquer pudor hierárquico, a gente gerava também uma unidade, uma cumplicidade, uma força aglutinadora – a necessidade de gerar pontes e meios-do-caminho que nos possibilitassem construir a entrega final, que era a nossa obrigação mútua ali.

Pensando bem, o processo pode ser visto como uma metáfora do que poderia acontecer naturalmente no dia a dia das empresas. Só que na vida real não estamos tão perto um do outro. Nem tão irmanados ao redor de um mesmo objetivo. Ali, gerávamos um pequeno laboratório que nos mostrava, de modo claríssimo, como iríamos, em menos de 60 horas de imersão e foco, construir decisões que levam com frequência mais de 60 semanas, às vezes 60 meses, para serem tomadas na toada corporativa que entendemos como “normal” – pontuada por tabus silenciosos, paradigmas inamovíveis, disputas de poder (umas explícitas, outras subterrâneas) e outros balangandãs da vida nas grandes empresas.

Abrimos o dia 3 tratando de fechar as últimas lacunas, de zerar as últimas dúvidas e de limar as últimas arestas antes de fecharmos a entrega. E, voilà, conseguimos. A ideia era entregarmos o protótipo até às 13h – de modo a brindarmos o fim dos trabalhos. (Havia uma champanhe na geladeira.) Conseguimos consensar tudo até aquele horário – mas finalizamos o protótipo, em termos formais, somente à tarde. Acabamos não brindando. Um pouco pelo tempo, que se exauriu enquanto ainda estávamos trabalhando. Um pouco porque Barbara prefere brindar quando o trabalho é concluído dentro do cronograma previsto.

É impressionante a gestão de tempo, e do próprio trabalho, que Barbara e a equipe da Mesa & Cadeira impõem ao time todo. Você pode ser o Kobe Bryant (que, aliás, já esteve na cabeceira de uma Mesa, em Los Angeles), não importa: se tergiversar, se perder o foco, se não mantiver o ritmo, será convidado com doses iguais de firmeza e simpatia a voltar à boa.

O trabalho não pode parar. Nós temos uma missão a cumprir. Um compromisso coletivo. É divertido estar ali – mas estamos ali trabalhando. E duro. Essa é a Mesa & Cadeira.

Eu tinha a maior vontade de participar. Tinha curiosidade de ver Barbara em ação com seu time – há uns 13 anos, eu testemunhava sua estreia profissional, como repórter na Superinteressante, revista que eu dirigia na Editora Abril. Depois, acompanhei seu voo para a Fabrica, projeto da Benetton, na Itália, fazendo a revista Colors. E também como autora de livro, como uma planejadora criativa em agências de publicidade.

Foi ótimo ter reencontrado Barbara tão bem, tão relevante, ainda mais promissora do que antes (se isso é possível). Mas, sobretudo, feliz, trabalhando com propósito, fazendo diferença no mundo, escrevendo sua lenda, construindo seu legado – e sendo remunerada por isso. Que mais se pode querer de uma carreira? (You go, girl.)

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