Você consegue imaginar o que são 250 milhões de pares de calçados?
Essa é a capacidade produtiva, em um ano, da Grendene, dona das marcas Melissa, Ipanema e Rider, entre outras.
Com 20 mil funcionários e 11 fábricas em três estados (Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul), a empresa registrou lucro líquido de 495 milhões de reais em 2019.
Agora, ao completar 50 anos em 2021, a Grendene se vê diante de uma encruzilhada: como aliar crescimento econômico e desenvolvimento sustentável quando sua matéria-prima principal é o plástico?
Antes de mais nada, explica Carlos André Carvalho, Gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Grendene, é preciso olhar especificamente para o tipo de plástico usado e os desdobramentos desse uso antes de julgá-lo apenas como vilão do meio ambiente.
No caso da Grendene, a matéria-prima é, mais especificamente, o PVC. Segundo Carlos:
“Uma das vantagens do PVC é que ele é quase 100% reciclável de forma mecânica: pode ser triturado, moído e reutilizado de diversas formas”
Há também desvantagens, claro. Do ponto de vista da produção, o grande problema é o fato de esse polímero ser fabricado à base de petróleo.
E pela perspectiva do descarte, trata-se de um material que leva mais de 100 anos para se decompor — assim, fazer uma boa gestão de resíduos é imperativo.
NOVOS MODELOS SÃO FEITOS COM ATÉ 82% DE MATERIAL RECICLADO
Hoje, a Grendene utiliza, no ciclo fechado de produção de calçados, até 30% de material reciclado.
Ou seja: consegue fabricar um novo calçado misturando o plástico “novo” com o reciclado sem perder qualidade.
Isso já vem sendo acontecendo, por exemplo, no programa de inovação sustentável Rider R4, que possui quatro modelos de calçados produzidos com até 82% de material reciclado e a partir de resíduos da própria fábrica e de garrafas PET.
Segundo Carlos, 97,8% de todo o plástico usado na linha de produção é reciclado dentro da própria operação. Isso inclui as aparas e também os reciclados pós-consumo.
Aqueles resíduos industriais que não são reaproveitados, como fivelas, são encaminhados para parceiros, respeitando uma política interna de aterro zero.
COM COLETORES NAS LOJAS MELISSA, A MARCA FOMENTA A LOGÍSTICA REVERSA
A Grendene vem conseguindo mitigar o impacto do descarte. Desde 2013, a fabricante já reduziu em 57% sua geração de resíduos. E vem abraçando a jornada da reciclagem.
Um dos desafios da marca é que parte do processo de descarte fica nas mãos do consumidor, ou seja, depois que compra o calçado é ele quem escolhe descartar no lixo comum, enviar para reciclagem ou reutilização.
A fim de melhorar esse processo, a Melissa deu início em 2019 a um programa de logística reversa, com a instalação de coletores nas lojas próprias, onde os consumidores podem entregar seus calçados das marcas Melissa, Rider e Nuar.
De lá, esses calçados podem seguir dois caminhos: voltar para a fábrica para compor um novo calçado ou seguir para recicladores homologados. Segundo Raquel Scherer, Gerente Geral da Melissa:
“A ideia é, através de uma iniciativa da marca, trazer esse olhar de conscientização do descarte correto de qualquer item que as pessoas tenham [em casa]”
Hoje, a empresa disponibiliza 347 coletores. Desde 2019, foram recolhidos 4 mil pares.
UM PROJETO EMBRIONÁRIO QUER ESTIMULAR A TROCA DE PRODUTOS USADOS
Outra aposta, ainda em desenvolvimento, é atuar no mercado de venda de produtos usados.
Como o plástico é um material de alta durabilidade, os calçados podem ser doados ou vendidos em brechós — algo que já é feito espontaneamente por consumidoras da marca Melissa em clubes de troca ou sites de venda de produtos usados, como o Enjoei.
E a ideia da marca é fazer parte desse ecossistema. Por ora, a iniciativa ainda está em fase embrionária. Raquel explica:
“Estamos desenvolvendo um projeto em parceria com o nosso lab, o Bergamota Works, para nos apropriar desse canal de reuso e conversar com essa ação que já existe espontaneamente das nossas consumidoras. A gente quer incentivar e criar esse canal de second hand”
O Bergamota Works é o laboratório de inovação da Grendene, onde soluções mais sustentáveis são testadas. De lá saiu a plataforma Nuar, um espaço virtual lançado em conjunto com a marca de mesmo nome.
“Releitura” da primeira sandália lançada pela Grendene na década de 1970, a Nuar é feita com 30% de material reciclado na composição e 10% de de matéria-prima de fonte renovável (oriunda de óleos vegetais e casca de arroz, e sem uso de solventes).
Em fase de MVP, a Nuar terá, neste primeiro momento, apenas 3 mil pares disponíveis para venda.
CASCA DE ARROZ E CANA-DE-AÇÚCAR HOJE SÃO MATÉRIA-PRIMA DE SANDÁLIAS
Pesquisar e utilizar fontes renováveis como matéria-prima também está no projeto de Desenvolvimento Sustentável da Grendene.
No longo prazo, o plano é ter um produto 100% feito a partir de fontes renováveis. Hoje, a empresa possui algumas iniciativas que vão nesse sentido.
A marca Ipanema, por exemplo, tem o uso certificado pela TUV Áustria de 20% a 40% de matéria-prima renovável em sua composição.
No caso da Melissa, o modelo Sun, lançado em 2021, usa de 15% a 20% de material de origem vegetal, como casca de arroz e cana-de-açúcar.
Lidar com um novo material exige pesquisas e análises que vão além de sua simples composição.
“Existem questões importantes para o negócio que ainda nos limitam tecnicamente, como aspecto de produto, o brilho, o cheiro, a flexibilidade, o conforto… Mas temos total interesse em aderir cada vez mais a esse movimento em prol de materiais de fontes renováveis”
Para isso, explica Melissa, é preciso entender melhor o impacto dessa matéria-prima no design, na cor, na linha de produção e também no meio ambiente.
A EMPRESA NÃO UTILIZA MAIS NENHUM INSUMO DE ORIGEM ANIMAL
Em 2019, a Grendene conquistou o selo da Vegan Society, instituição do Reino Unido que certifica com o selo Vegan.
Mas plástico já não é um material vegano? Sim, porém a produção fazia uso de dois insumos de origem animal: um lubrificante e um agente de expansão à base de sebo. Essas matérias-primas foram substituídas.
Hoje, a Grendene afirma que não faz mais negócios com fornecedores que utilizam matéria-prima animal ou usam cobaias em testes de insumos. Segundo Raquel:
“A Melissa trouxe a provocação sobre o que faltava para sermos veganos. E a Grendene abraçou a ideia, o que já nos levou, inclusive, a tomar decisões sobre produtos que não vamos lançar”
A gerente conta que a empresa havia cogitado um novo produto para o público infantil que poderia ser customizado com canetinhas. A ideia foi descartada porque, segundo Raquel, todos os fabricantes de canetinhas no Brasil fazem testes em animais.
O posicionamento vegano hoje permite parcerias importantes, como a collab com a marca vegana Rombaut. E abre as portas para a Grendene ingressar num mercado em forte crescimento. “Certamente é algo que agrega valor para a marca globalmente”, diz Raquel.
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