A Terra está ficando pequena. Ou melhor, as nossas terras estão ficando pequenas. Enquanto a população mundial não para de crescer (o mundo terá mais de 9 bilhões de habitantes em 2050), os espaços destinados aos cultivos agrícolas têm diminuído gradativamente. Os motivos são diversos: ampliação dos grandes centros urbanos, desmatamentos e até mesmo catástrofes naturais, como enchentes e tornados, que podem danificar plantações inteiras.
Para evitar que o planeta sofra com a escassez de alimento, em um futuro mais próximo do que imaginamos, não tem jeito: é preciso aumentar – e muito – a produtividade no campo.
Em outras palavras, a agricultura precisa produzir cada vez mais alimentos em áreas cada vez menores. E isso depende, diretamente, do desenvolvimento e aplicação correta de novas tecnologias.
Em 1960, o mundo tinha mais ou menos 3 bilhões de habitantes. Naquela época, cada hectare de terra – equivalente a um campo de futebol – produzia alimento para duas pessoas. Atualmente, esse mesmo espaço já consegue gerar o dobro. Porém, a expectativa é que, até 2025, um hectare consiga render alimento para mais de seis indivíduos.
Aqui no Brasil o assunto já faz parte da realidade. Aliás, há mais de 10 anos, nossa indústria tem estudado e testado os benefícios proporcionados pela modificação genética de sementes. Os resultados obtidos até o momento são animadores – não apenas para a economia, mas também para o meio ambiente.
OS INVESTIMENTOS AJUDAM NA PRODUTIVIDADE
Um estudo realizado recentemente pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), comprova: o Brasil se tornou referência global em produtividade.
O relatório divulgado na pesquisa Perspectivas Agrícolas OCDE FAO 2015-2024 diz que o Brasil “é o país que mais melhorou sua produtividade total de fatores (PTF) agrícolas”. O PTF nada mais é do que um cálculo (total de alimento produzido X total de insumos) utilizado para medir a produtividade. Diz o relatório:
“Os investimentos a longo prazo nas pesquisas agrícolas, que permitiram ao Brasil desenvolver tecnologias de ponta para a agricultura tropical, estão entre os fatores que estimularam o crescimento da produtividade.”
Em outro trecho, o estudo aponta que o mercado brasileiro se tornou mais competitivo com a adoção de inovações tecnológicas. “A melhoria da produtividade nos últimos 15 anos no Brasil se beneficiou de reformas econômicas que permitiram a realocação de recursos e a restruturação da agricultura e dos setores associados”.
ALGODÃO, SOJA E MILHO: OS CAMPEÕES DE PRODUTIVIDADE NO BRASIL
De acordo com uma outra pesquisa feita recentemente pela Céleres (uma das principais empresas de consultoria agrícola do país), graças ao melhoramento genético aplicado no Brasil, a produtividade do algodão, soja e milho tem mantido altos índices de crescimento.
Entre as safras de 1996/1997 e 2013/2014, o aumento em produtividade foi de 48% (se somarmos os resultados conquistados das três culturas analisadas). Em termos financeiros, o faturamento chegou a 29,3 bilhões de dólares – 70% soja, 25% milho e 5% algodão.
No mesmo período, a margem de lucro nas sementes transgênicas também foi maior do que nas convencionais. No caso do milho modificado geneticamente, por exemplo, cada um R$ 1 investido pelo agricultor resultou, em média, em um retorno de R$ 2,60.
Quando o assunto é saúde, a evolução biotecnológica também pode trazer benefícios. “Os alimentos transgênicos podem ser mais nutritivos do que os normais. Primeiro, porque as propriedades nutricionais não são perdidas no processo de desenvolvimento. E, em segundo lugar, porque podemos eliminar no laboratório as partes ruins como, por exemplo, as propriedades que atraem as pragas na lavoura. Isso otimiza o uso de agrotóxicos”, afirma Edson Kemper, Gerente Científico da Monsanto e especialista em biotecnologia.
A ECONOMIA JÁ AGRADECE. E O MEIO AMBIENTE TAMBÉM
A conta é bem simples: se a produtividade no campo aumenta, os custos operacionais caem. E muito. Os estudos da Céleres apontam que a adoção de ainda mais tecnologia na produção do algodão, soja e milho vai trazer, nos próximos 10 anos, um benefício econômico que ultrapassará 80 bilhões de dólares.
Isso significa mais rentabilidade para o setor – principalmente, para os pequenos produtores rurais que ainda dependem de processos manuais – e preços mais acessíveis para o consumidor. Sim, os preços de alguns alimentos devem cair consideravelmente até 2025.
Só para se ter uma ideia, a não adoção desses avanços tecnológicos exigiria um adicional de área de 19,54 milhões de hectares para alcançar esses mesmos números de produção.
Além disso, os avanços biotecnológicos trarão benefícios socioambientais intangíveis para o Brasil. Entre eles, a economia de recursos naturais e a redução na emissão de poluentes.
Veja só alguns índices estimados para a próxima década:
1) Economia de 137 bilhões de litros de água doce nas lavouras. Com essa quantidade daria, por exemplo, para abastecer as cidades de Recife e Porto Alegre durante um ano.
2) Redução de quase 3 milhões de toneladas do que é emitido de CO₂ na atmosfera. Um volume que, para ser compensado, precisaria de quase 22 milhões de árvores.
3) Mais de 1 bilhão de litros de combustível diesel economizados. Uma quantidade suficiente abastecer cerca de 470 mil caminhonetes.
4) Menos 127 mil toneladas de defensivos agrícolas.
Apesar das perspectivas serem positivas, o desenvolvimento da agricultura brasileira também dependerá, diretamente, da evolução de outros mercados. “O Brasil ainda precisa evoluir bastante em questões de logística e distribuição. Não adianta nada a agricultura evoluir a produtividade nas lavouras e, depois, esses alimentos não chegarem na residência das pessoas”, diz Kemper.