A produção de cimento é responsável por até 5% das emissões de dióxido de carbono na atmosfera. E o Brasil é um dos maiores produtores mundiais: de 2005 a 2013, impulsionado pelos grandes eventos esportivos, o país saltou da 13ª para a 5ª posição do ranking, com 70 mil toneladas anuais de cimento.
A construção civil responde hoje por 8% do PIB nacional. “Temos um mercado com enorme consumo de cimento e não vemos o quanto isso prejudica o meio ambiente. Para cada tonelada produzida, são emitidos 900 quilos de CO2”, afirma Ricardo Straffaci, de 28 anos, sócio da Biomassa do Brasil.
Acelerada pelo Braskem Labs Scale 2017, a startup possui soluções que atendem de grandes construtoras a reformas residenciais.
O carro-chefe do portfólio é uma alternativa prática, econômica e sustentável ao cimento: uma argamassa polimérica pronta para uso em alvenaria de vedação, batizada com o nome da empresa. “Com a Biomassa, você não precisa mais daquela mistura do cimento, areia, cal e água”, diz Ricardo. “Na fabricação, não emitimos CO2 e utilizamos apenas água de reúso, então todo o ciclo é sustentável.”
A sacada surgiu em 2009. Na época, Ricardo cursava arquitetura e trabalhava na empresa de equipamentos industriais de seu pai. “O insight veio num papo com um cliente sobre o tanto de sujeira gerado pelo cimento na obra. Tivemos então a ideia: por que não desenvolver um produto literalmente pronto para uso?”, diz Ricardo. “Existem até cimentos industrializados que o pessoal considera ‘pronto’, mas que precisam da adição de água.”
Cinco milhões de m²
O cliente daquele papo era o químico Sérgio Alonso, que embarcou na empreitada e hoje é um dos sócios da Biomassa do Brasil, à frente de P&D (o pai e o irmão de Ricardo também têm participações na empresa). Foram dois anos de desenvolvimento em laboratório; nesse intervalo, Ricardo trocou a arquitetura pelo curso de administração, que na sua visão lhe permitiria agregar mais conhecimento.
O CNPJ saiu em 2011. Hoje, a startup contabiliza mais de 5 milhões de metros quadrados construídos. “Já atuamos em todo o Brasil. Temos trabalhos feitos no Mercosul, temos um trabalho com revenda na Guiana Francesa, parcerias com Chile, Colômbia…”, diz Ricardo. “Na Bolívia, vendemos para uma construtora, que usou nosso produto na construção de dois condomínios de 540 casas, cada, em Santa Cruz de La Sierra, um projeto equivalente ao ‘Minha Casa, Minha Vida’.”
Cerca de 75% das vendas se destinam a construtoras; o restante vai para revendas e o consumidor final, que pode encontrar a Biomassa, fornecida em bisnagas de três quilos (o preço gira em torno de R$ 20), em lojas como C&C e Leroy Merlin. Cada bisnaga rende o equivalente a até dois metros quadrados de parede. “Para cobrir os mesmos dois metros quadrados, seriam necessários 60 quilos da mistura cimento, areia, cal e água”, diz Ricardo.
Quando se contabiliza superficialmente, haveria empate de preço entre a Biomassa e as argamassas tradicionais, segundo o empreendedor. “Mas a nossa dispensa a necessidade de uma pessoa misturando o produto. E se você considerar que não tem mais gasto com energia elétrica de betoneira e que não precisa mais de tanto espaço para estocar sacos de cimento, e contando o ganho de tempo na obra… Contabilizando tudo, a nossa argamassa sai uns 40% mais barata.”
O ganho de tempo está relacionado à praticidade de aplicação, que teria sido crucial no case mais relevante do currículo da startup: atender o consórcio de empreiteiras encarregado da construção do Parque Olímpico dos Jogos Rio 2016. “Começamos a fornecer o produto no fim de 2014”, diz Ricardo. “No fim de 2015, todas as arenas já estavam praticamente prontas.”
Portfólio completo
Já nos primeiros anos da empresa, Ricardo e seus sócios perceberam que estavam imersos num mercado gigantesco e carente de soluções inovadoras e sustentáveis. Perceberam também que sobreviver a partir de um único produto seria complicado (o empreendedor estima que a alvenaria de vedação ocupa apenas 15% do tempo de uma obra). Era imperativo diversificar o portfólio.
“Lançamos em seguida nossa tinta para tratamento térmico, com nanotecnologia que proporciona a refletância dos raios UVA e UVB”, diz Ricardo. “Com duas demãos em paredes externas ou telhados, ela reduz a temperatura dentro do ambiente em até sete graus.” A redução implica em economia de energia elétrica no uso menos intenso do ar condicionado. Entre os espaços pintados com a tinta estão o Mercado da Lapa, em São Paulo, e o Shopping União de Osasco.
O know-how de produtos prontos para uso foi sendo refinado. A startup lançou um substituto do cimentcola para assentamento de pisos e azulejos, que dispensa a mistura de água e vem com uma espátula. O próximo alvo foi hackear o segmento de rejunte acrílico, desenvolvendo uma opção com propriedades fungicidas e bactericidas que preserva o aspecto original por mais tempo.
O portfólio é complementado por dois impermeabilizantes lançados em 2017: uma manta líquida ultraconcentrada que exige apenas duas demãos e um aditivo para impermeabilização de áreas molhadas, de reservatórios a piscinas. Ricardo explica que esse tipo de produto costuma ser vendido na forma de pó com um líquido para a mistura. “O diferencial é que o nosso pode ser misturado com qualquer tipo de cimento para alcançar o mesmo resultado, com menor custo e mais rendimento.”
Mudança de endereço
A inovação ajudou a Biomassa do Brasil a alavancar sua performance. Desde 2011, a startup manteve um crescimento médio de 45% ao ano, com um pico de 90% de 2015 para 2016. O desempenho foi refreado este ano, por conta da crise econômica que aos poucos o país começa a superar e também porque não há mais grandes eventos esportivos no horizonte; mesmo assim, a projeção para 2017 é manter-se estável, sem crescimento e nem queda, com faturamento anual de R$ 3 milhões.
Para comportar melhor sua estrutura, a empresa transferiu-se em janeiro da Zona Norte de São Paulo para uma nova fábrica em Guarulhos. Além da mudança de endereço, 2017 trouxe outra grande novidade: a participação da Biomassa do Brasil no Braskem Labs Scale 2017, entre junho e outubro.
“O auxílio que a Braskem nos deu foi de extrema importância. Enquanto startup, ainda temos diversas dores, e o Braskem Labs nos ajudou a entender muitos dos processos de cada setor dentro da empresa, colocando à nossa disposição gente do alto escalão, com alto grau de conhecimento para cada tipo de problema”, diz Ricardo. “A Biomassa já participou de diversos eventos de aceleração, e o Braskem Labs destacou-se de longe como o melhor.”
Agora, os desafios são reforçar o mercado interno e consolidar a presença internacional, ampliando o alcance de soluções que minimizam os impactos da construção civil e facilitam a vida de quem quer construir ou reformar sua casa.