No coração do Vale do Café, entre Vassouras e Morro Azul, no Rio de Janeiro, está localizada a sede da empresa Pindorama, uma produtora brasileira de cachaça artesanal que chega com a proposta de aliar produto de alta qualidade e uma produção sustentável, que cumpre a agenda ESG. Para começar, a família proprietária da Fazenda das Palmas investiu R$ 3 milhões na revitalização de um alambique histórico e no plantio de cana em um sistema agroflorestal.
“Após adquirir a propriedade, descobrimos que o alambique das Palmas foi o terceiro comercial do Estado do Rio e o único que temos conhecimento que hoje em dia ainda está em funcionamento da época colonial. Ele ficou abandonado por 110 anos até decidirmos retomar a produção artesanal de cachaça”, conta Rafael Cunha Daló, sócio e diretor criativo da marca.
O peso histórico do lugar foi fundamental para os novos proprietários da cachaçaria pudessem traçar os rumos da empresa com um olhar voltado para uma gestão moderna e ligada aos pilares ESG.
“Se vamos ser uma cachaça com resquícios do Império, do Brasil colônia; se vamos trabalhar com uma planta que veio da África, que foi domada com ajuda dos povos originários, cultivada pela mão-de-obra escrava; se vamos trabalhar dentro de uma casa que tem toda essa história, então precisamos fazer de alguma forma que ressignifique isso tudo. Caso contrário, estaríamos fazendo tudo errado de novo”.
O primeiro passo foi batizar a empresa com o nome Pindorama em homenagem ao Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, que fala da situação do Brasil antes da chegada dos colonizadores e da exploração, quando os indígenas viviam em uma sociedade matriarcal.
O segundo foi rejeitar totalmente a ideia da monocultura e investir pesado em um sistema agroflorestal, que é uma forma de uso do solo que combina, em uma mesma área e em um determinado tempo, o cultivo de espécies arbóreas ou arbustivas, frutíferas, madeiráveis ou adubadoras.
A fazenda que abriga o alambique da marca possui 170 hectares hoje e destina cerca de seis deles para a plantação da cana. “Ao redor temos várias áreas menores com outras espécies em diferentes estágios de desenvolvimento. São cerca de 10 espécies diferentes entre árvores de madeira de lei, frutíferas e café. Como elas crescem em estágios diferentes, protegem umas às outras e mimetizam o que acontece em uma floresta original.”
UM MODELO SOCIOAMBIENTAL
A marca também investe em outras ações importantes no quesito sustentabilidade. “Praticamos o reflorestamento da área com espécies nativas da Mata Atlântica, trocamos a caldeira do alambique por uma que funciona por biocombustão, utilizamos o vinhoto, que é o resquício da produção, como fertilizante e o bagaço para cobrir o canavial e proteger a plantação em fase de broto”, explica Daló.
A plantação da cana também está localizada próxima ao alambique e, com isso, menos combustível é gasto para o transporte. “Além de diminuirmos a poluição com a emissão de CO2, conseguimos extrair um produto mais fresco e aumentar a qualidade e pureza da cachaça”.
DESTAQUE NO MERCADO INTERNACIONAL
Apesar de toda a conexão com a história do Brasil, foi na Europa que a cachaça Pindorama ganhou destaque no mercado. “Fizemos nossa estreia no em 2017 em Portugal por conta das facilidades iniciais oferecidas pelo país. Hoje estamos presentes no Reino Unido, Portugal, Alemanha, Áustria e em breve no norte da Itália”, revela Daló.
A burocracia para o engarrafamento e rotulagem fizeram com o que o Brasil demorasse um pouco mais para receber a cachaça artesanal. Somente em 2021 a Pindorama conseguiu todas as licenças para atuar no país e, finalmente, oferecer o produto premium no mercado nacional.
Atualmente a distribuição acontece apenas em São Paulo e no Rio, mas a previsão é de chegar logo a mais Estados. Para isso, a marca pretende aumentar a produção de forma audaciosa: em 2023 quer chegar na marca de 50 mil litros e em cinco anos chegar aos 100 mil litros anuais.
“O mercado da cachaça tem muito a crescer, tem uma grande demanda por um produto de qualidade no Brasil e mundo afora. E queremos mostrar o potencial da bebida e sua versatilidade, mas sempre priorizando a forma artesanal de produção e as práticas ESG”.
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