Quantas startups existem no Brasil enquanto você lê esta matéria? Difícil precisar, mas segundo o último levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), pelo menos 10 mil.
Mais de 70% delas têm até 3 anos de operações. De todo o montante, 45% já participaram de programas de aceleração ou incubação. E como foi para quem começou a caminhada bem antes, desbravando esse mercado?
Maurício Fragoso, co-founder da Checklist Fácil, sabe dizer. O negócio se consolidou em 2013. Começou quando ele ainda era desenvolvedor e tocava uma agência que criava sites e sistemas personalizados.
“Um cliente nos contratou para resolver um problema relacionado a checklist em sua ampla rede de lojas”, lembra. Daí, nasceu a solução.
As inscrições para Ocyan Waves Challenge 2020 estão abertas. Conheça os desafios!
Maurício Fragoso, co-founder da Checklist Fácil
Com a solução em mãos — ainda um rascunho —, Maurício e seus sócios, Rafael Laguna e Raul Zambelli (que aliás é pai de Rafael) partiram para as vendas. “A expertise do Raul foi decisiva, porque ele já tinha muita maturidade profissional e uma postura agressiva para os negócios”, pontua.
“Era uma fase intensa, eu virava a noite desenvolvendo. Quando começamos, não existiam programas de inovação e desafios para startups. A gente ia vender nossa solução de porta em porta”.
O empreendedor frisa que, antes, era muito mais difícil acessar um potencial cliente. E é por esse motivo que o co-founder da Checklist Fácil, que hoje opera em 16 países e tem mais de 500 clientes ativos, é entusiasta dos programas de inovação.
“Venho percebendo essa movimentação de 2018 para cá, e isso é muito positivo. Se existissem antes, com certeza a gente teria crescido mais rápido”.
A startup de Maurício participou da edição de 2019 do Ocyan Waves Challenge, programa de inovação da Ocyan, uma das maiores prestadoras de serviços no setor de Óleo & Gás do Brasil.
A empresa estava em busca de startups parceiras para ajudar a resolver suas dores ligadas à ineficiência da gestão de tempo, ausência de visibilidade das informações nos documentos de bordo e tratamento de dados de inspeções.
A solução oferecida pela Checklist Fácil é um software que pode ser utilizado nos tablets e smartphones da equipe, sem necessidade de conexão com a internet (acredite, o sinal é bem limitado no meio do oceano!) compilando dados em tempo real.
A startup tinha seus próprios desafios junto aos da Ocyan, como fazer com que os funcionários se engajassem e aderissem à plataforma.
Os resultados nos três meses da fase de projetos piloto (ou Proof of Concept, ou apenas POC) foram muito melhores do que o esperado: o número de acessos semanais foi 7 vezes maior do que o previsto. Além disso, o resultado em ganho de produtividade foi o dobro do aguardado.
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“A nossa plataforma é flexível e atende bem todos os segmentos, mas ainda não tínhamos clientes offshore. Participar do desafio nos proporcionou uma abertura de visão e novos insights de negócios”, relata Maurício.
Para ele, em desafios como esse, mesmo quem “perde” ganha. Uma solução pode até não ser selecionada, mas um retorno consistente sobre o porquê disso vai ser dado, até mesmo para ajuste de rota.
“Lá atrás, a gente levava muito não na cara, mas não tinha um feedback qualificado. Quando isso existe, a maturação da solução é muito mais ágil”.
Há outra questão crucial que faz com que a participação em programas de inovação seja tão positiva para as startups, de acordo com Maurício. “Existe um sponsor, um responsável interno da empresa dedicado a fazer dar certo. É uma estrutura favorável”, opina.
Leonardo Camacho, diretor da SocialBase
“Você deve olhar para o desafio e se perguntar: o meu propósito é resolver esse problema? Se sim, mergulhe”.
Assim aconselha Leonardo Camacho, diretor da SocialBase. A startup também participou do Ocyan Waves Challenge em 2019, no desafio “Comunicação com funcionários offshore”. “Para nós, Ocyan é um cliente desafiador e complexo, então é uma enorme oportunidade de aprendizado”, comenta.
Leonardo acredita que, se uma startup identificar que sua solução pode sanar as dores da empresa, deve investir na sua participação mesmo que o produto não esteja pronto.
“Sua equipe pode ser pequena, sua empresa pode ser jovem. Se tem conexão, confie no processo. Você vai encontrar parceiros para se desenvolver.”
Essa não é mais a realidade da Social Base, que hoje tem mais de 80 clientes, mas foi um dia. Idealizada por Radamés Martini, criou sua primeira versão da solução em 2012, chegando a participar do programa de aceleração Plug and Play, no Vale do Silício (EUA).
Leonardo comenta que o entendimento por parte das organizações quanto à importância da comunicação interna foi sendo refinado aos poucos. “Ainda são raras as empresas que compreendem que isso bate direto no bolso, no lucro”, defende.
“Organizamos informações e conhecimentos relevantes para que as pessoas gerem mais valor. Queremos engajá-las para atingirem o máximo de sua produtividade”, resume Leonardo. Ele acredita que a comunicação na empresa deve ser multilateral.
“É sobre a equipe não apenas receber informação, mas criar. Há um primeiro nível de dor, o da acessibilidade. Um segundo, quando isso é garantido, é promover engajamento. Um terceiro é entender as informações para trabalhá-las de forma preditiva”.
Como 65% do corpo de colaboradores da Ocyan trabalha embarcado, o portal interno apresentava dificuldades de acesso e pouco alcance. Na fase POC, a expectativa de adesão à plataforma da SocialBase foi superada em 63%.
Quem participou do Ocyan Waves Challenge de 2019 está, hoje, mudando a realidade operacional em plataformas offshore como esta
O programa que contou com a adesão das startups de Maurício e Leonardo no ano passado abre espaço para novas parcerias em 2020. As inscrições estão abertas até 15 de maio. Mais uma vez a Ocyan, em conjunto com a Innoscience, quer se conectar com esse ecossistema de inovação.
Os desafios deste ano são:
• Sistema Inteligente de Gestão de Alarmes: busca por solução que traga significado e inteligência para alarmes de equipamentos, que são conectados em sistemas supervisórios por automação em suas plataformas de perfuração offshore, apoiando na manutenção e predição de falhas.
• Digital Twin do BOP (Subsea Blowout Preventer): procura uma solução que integre todas as informações do BOP em um só lugar, através de uma cópia digital do mesmo (digital twin), para que suas informações operacionais e críticas sejam acessadas de forma visual e amigável.
• Análise de fluidos do BOP em tempo real: busca uma solução que consiga medir a integridade e qualidade do fluido do BOP na saída do tanque e antes de chegar ao equipamento, permitindo seu monitoramento em tempo real.
• Predição de Falhas e Gestão de mangueiras do Topdrive: o objetivo é encontrar uma solução que consiga inspecionar de forma preditiva as mangueiras da embarcação, dando ao time operacional informações para manutenção eficiente e preditiva.
• Autoatendimento em almoxarifado: o desafio procura uma solução que automatize o almoxarifado para que cada pessoa possa acessar o espaço, de forma controlada, encontrar o que precisa e realizar a saída dos materiais sem a necessidade do apoio de um atendente e que seja integrado de modo automático ao sistema de gestão de inventário.
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