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Publicitário “numa vida passada”, ele empreendeu com uma ambição: transformar a cadeia de mobilidade elétrica no Brasil

Geoffrey Scarmelote - 11 fev 2025
Davi Bertoncello, cofundador da Tupi Mobilidade.
Geoffrey Scarmelote - 11 fev 2025
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O ano de 2024 foi o melhor ano da eletromobilidade no Brasil. Foram vendidos 177 358 veículos eletrificados, um crescimento de 89% em relação a 2023 (que já tinha sido considerado um período muito positivo para o setor).

Segundo a Autoesporte, publicação especializada no mercado automotivo, o título de carro elétrico mais vendido no Brasil em 2024 ficou com “o BYD Dolphin Mini, que garantiu quase 22 mil vendas ao longo dos 12 meses”.

Esse mercado parecia bem menos efervescente e promissor quando, em fins de 2019, o publicitário Davi Bertoncello resolveu dar um cavalo de pau na carreira e empreender a Tupi Mobilidade

A Tupi não fabrica nem vende carros. O que ela faz é desenvolver softwares para a gestão e operação dos carregadores dos veículos elétricos – conectando motoristas e donos de eletropostos.

PUBLICITÁRIO, ELE DESPERTOU PARA O POTENCIAL DO MERCADO DE ELETROMOBILIDADE APÓS UMA PESQUISA PARA A PORSCHE

Davi, 42, é formado em Publicidade e Propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e pós-graduado em Inteligência de Mercado pela Universidade de São Paulo (USP). 

“Fui publicitário numa vida passada [risos]. Fiquei em agências por quase nove anos e, por dois, trabalhei com o Washington Olivetto”

Em julho de 2011, deixou o cargo de copywriter sênior na WMcCANN e abriu sua primeira startup, a Hello Research, voltada à pesquisa de mercado. 

Passaram-se alguns anos. Em 2016, a Hello Research fez uma pesquisa para a montadora alemã Porsche. Esse trabalho embasou uma pesquisa maior, de 2018 para 2019, com apoio da prefeitura de São Paulo e citada na Organização das Nações Unidas.

“Quem trabalha com mobilidade elétrica não sonhava com isso quando pequeno, né? Você ‘acaba de paraquedas’ lá – e tem muito paraquedas bom caindo em mobilidade elétrica. O meu caiu, efetivamente, depois dessa grande pesquisa”

Havia uma pergunta na pesquisa que era a seguinte: se os donos de Porsche trocariam o ronco do motor por um carro silencioso e não poluente. “Nove em cada dez proprietários responderam ‘sim’. Aí, eu vi que ali tinha uma oportunidade.”

PARA QUE O SETOR PUDESSE FLORESCER, ERA PRECISO ALAVANCAR E CONSOLIDAR UMA REDE EFICIENTE DE POSTOS DE RECARGA

Essa oportunidade que Davi identificou estava ligada à falta de infraestrutura, que impedia o mercado de carros elétricos de decolar no Brasil. “É o que chamam lá fora do dilema do ovo e da galinha”, diz Davi. 

O que vem antes: o ovo ou a galinha? Em outras palavras, quem vem primeiro: o carro elétrico que demanda a existência de pontos de recarga? Ou os pontos de recarga que serão usados para abastecer os carros elétricos?

Os primeiros pontos de recarga no país, segundo Davi, foram inaugurados por iniciativa das próprias fabricantes de veículos, como um esforço de marketing, uma forma de seduzir os clientes:

“Você tinha, por exemplo, a BMW dizendo: ‘Galera, podem comprar meus carros aqui porque tem pontos de recarga para vocês…’ Isso era uma verdade, mas ao mesmo tempo, depois de dois anos ninguém ganhava com esse ponto, porque era pago por marketing”

Para que o mercado de mobilidade elétrica pudesse florescer, seria preciso alavancar de verdade a criação de uma rede de pontos de recarga – e ajudar os motoristas a encontrar aqueles pontos que já existiam.

EM PARCERIA COM UM EX-COLEGA DE FACULDADE, DAVI LANÇOU A TUPI COMO UM APP PARA APOIAR OS MOTORISTAS DE CARROS ELÉTRICOS

Em novembro de 2019, Davi se desligou da função de CEO da Hello Research, cargo que ocupava há oito anos (a empresa de pesquisa de mercado continuou operando até 2023, quando encerrou as atividades).

Assim, ele ficou livre para entrar de cabeça em sua nova empreitada. E recrutou um ex-colega do curso da ESPM:

“Chamei um amigo da faculdade, o Pedro Conti, que é publicitário mas tinha background de tecnologia. Não fiz nenhuma especialização nessa área. Nem sou engenheiro; sou, no máximo, engenhoso [risos]”

Pedro trazia na bagagem a experiência de empreender o Grubster, startup que na década passada fez sucesso viabilizando reservas e descontos em restaurantes.

E assim, com os dois amigos pilotando o novo negócio, a Tupi nasceu (batizada de “Tupinambá”; a grafia abreviada veio depois) como um aplicativo gratuito para que os motoristas pudessem localizar pontos de recarga. 

Hoje, pelo app, os motoristas podem encontrar eletropostos próximos, traçar rotas de viagem com recomendação de postos de recarregamento no caminho e verificar se o plugue e o conector disponibilizados são compatíveis com o seu carro. 

Segundo a empresa, a ferramenta tem 142 mil usuários (motoristas), sendo 62 mil ativos, e mais de 1 000 pontos de recarga cadastrados, que somam 56 mil recargas registradas mensalmente. “Nosso aplicativo lidera o mercado, com mais de 1GWh transacionado por mês”, diz Davi. 

A STARTUP DESENVOLVEU TECNOLOGIAS PARA DIGITALIZAR A RECARGA E FACILITAR A OPERAÇÃO DOS ELETROPOSTOS

É da frente B2B que a startup extrai sua receita. A Tupi se propôs a solucionar um problema do setor: unificar a questão da recarga.

“Antes, cada rede de carregadores operava de forma isolada, o que criava dificuldades para os motoristas”, afirma Davi. “Era necessário baixar diversos aplicativos, criar múltiplos cadastros e lidar com diferentes formas de pagamento.”

O pioneirismo, segundo o empreendedor, foi integrar essas múltiplas redes de recarga numa só plataforma, fornecendo tecnologia para garantir funcionalidades como pagamento, reservas, monitoramento remoto e interoperabilidade:

“Nosso papel é digitalizar a experiência de recarga, tornando-a mais acessível e eficiente. Fazemos isso conectando diferentes fabricantes de carregadores e operadores de eletropostos em uma única plataforma

Assim, a empresa desenvolveu a ferramenta Tupi Conecta CPMS para atender os operadores de eletropostos, conhecidos no jargão da indústria como CPOs (Charge Point Operators).

“O CPO pode ser uma empresa de energia, como a Raízen Power, que é nossa cliente e tem os carregadores dela… Então, a Tupi embarca a tecnologia para que o usuário consiga carregar nesses carregadores da Shell. E aí, a Shell é quem me paga.”

A Tupi Conecta CPMS permite gerenciar e conectar os carregadores, assegurando a operação eficiente das estações. A startup cobra mensalidades dos donos de eletropostos, que podem variar de 99 a 299 reais, conforme os serviços prestados, além de um taxa de comissão que gira em torno de 10%.

ALÉM DO BRASIL, A TUPI JÁ OPERA NA ARGENTINA E NO PARAGUAI, E AGORA VISLUMBRA OUTROS MERCADOS LATINO-AMERICANOS

Atualmente, dos cerca de 12 500 pontos de recarga públicos existentes no país, presentes em ruas, rodovias, postos de gasolina, shoppings e supermercados, aproximadamente 1 mil são gerenciados pela plataforma da Tupi. 

A empresa tem sob a sua gestão 25% dos carregadores rápidos (DC) do Brasil (a maioria concentrada no Sudeste, sobretudo em São Paulo), que fornecem recarga de alta potência em cerca de 30 minutos.

A startup também vende sua tecnologia com uma envelopagem white label para fabricantes de carros elétricos. Davi dá um exemplo:

“Hoje, quando você compra um carro da BYD no Brasil, ele já vem com a tecnologia da Tupi embarcada no dashboard do automóvel. Isso significa que você nem ao menos precisa estar ali com um aplicativo no seu celular. Você consegue fazer isso diretamente no dashboard”

De olho no potencial da startup, em 2022 a Raízen fez um investimento minoritário de 10 milhões de reais na Tupi, que segue sob o controle dos fundadores. “Essa estrutura nos dá liberdade para continuar inovando.”

A equipe é formada por 70 pessoas. Metade delas integra o time de tech e dados; 15% estão em produto e o restante, alocado em Operações, Marketing, ESG, Comercial, Pessoas e Finanças. A cadeira de CEO está com Pedro Paulo Moraes. Davi liderou a operação até julho de 2024, quando assumiu o cargo de Chief Corporate Affairs Officer (CCAO).

A Tupi já opera na Argentina e no Paraguai, com mais de mil usuários únicos e 60 MWhs transacionados em 2 500 sessões de recarga. Agora, avalia outros mercados, como México e Colômbia.

Lançando um olhar para o retrovisor, Davi celebra a trajetória percorrida até aqui e a evolução da infraestrutura de eletropostos no país: 

“De  2019 para 2020, me perguntavam onde a mobilidade elétrica no Brasil estaria dali a cinco anos. Eu dizia que teríamos 10 mil pontos de recarga. Demorou quatro anos e meio. Sinal de que estamos no planejamento certo.”

 

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