“Os 60 de hoje são os 40 anos de ontem.” Cada vez mais é comum ouvir essa frase nos dias de hoje. Ouvir e sentir.
O holandês Emile Ratelband, um instrutor motivacional de 69 anos, travou uma batalha jurídica para mudar sua data de nascimento, de 11 de março de 1949 para 11 de março de 1969
Segundo ele acredita, ao fazer 69, ficou limitado, pois aos 49 poderia comprar uma casa nova, dirigir um carro diferente e trabalhar mais.
Além disso, a nova idade garantiria mais sucesso a ele na rede social para encontros amorosos, mesmo utilizando em seu perfil a sua foto atual. Ele garante que seu estado físico condiz com 20 anos a menos, de acordo com laudos médicos.
Cada vez mais frequente, essa lógica da nova idade tem alguns fundamentos que valem a reflexão.
Um deles é o “teste de força de mão” — aquele em que o médico pede ao paciente para que aperte sua mão, porque é um dos mais eficientes métodos de representar a força também da parte superior do corpo humano. E isso reflete a capacidade de longevidade das pessoas, segundo os especialistas.
Esse teste, nos dias de hoje, tem revelado que a força das mãos do ser humano saudável de 60 anos é equivalente à mesma força que tinha no passado, com 40. É daí que vem a expressão: os 60 hoje são os novos 40.
Mas, o fato é que estamos vivendo mais mesmo. O IBGE acaba de divulgar que a expectativa de vida dos brasileiros, que esteve em queda na pandemia, voltou a crescer e está em 75,5 anos hoje
Essa projeção reúne números absolutos da população, considerando a data de nascimento versus a de morte para extrair um retrato da longevidade no país.
A busca por um cálculo que relacionasse a velhice a uma necessidade de ajuda dos governos aconteceu inicialmente na Alemanha, que criou o primeiro fundo de pensão em 1889.
O conceito deu origem à fórmula chamada de “taxa de dependência da população”. Por ela, calcula-se a população que está em idade produtiva e que vai custear aquela outra parte que não produz e não contribui com o PIB e a economia, passando a ser custeada pelo estado.
Por esse conceito, as pessoas de 20 a 59 anos suportam aquelas de 0 a 14 anos e 60+. Daí, sai o cálculo da população que produz versus a que consome
Nesse modelo, a data de nascimento determina se ele é dependente ou se suporta a economia do país. O conceito foi evoluindo e, em 1990, passou-se a considerar o que produz e o que consome cada uma dessas populações.
A ONU adota esse conceito para saber a taxa de dependência de cada país. A mais usada é 65 anos. A partir dessa idade, em muitos países, uma pessoa já é considerada idosa.
O livro Prospective Longevity: A new vision of Population Aging (ainda sem tradução para o português), de Warren C. Sanderson e Sergei Scherbov, apresenta uma nova forma de pensar e calcular essa longevidade.
A proposta é inverter o cálculo de expectativa de vida, considerando não o que se vive, mas quanto ainda é possível viver a partir dessa taxa de dependência.
Essa conta considera uma idade vivida por país, que respeita condições de saúde, características de cada região etc. O filtro passa a ser o da “idade prospectiva”, que apura quantas pessoas vão levar 15 anos para morrer.
Assumir esse novo olhar para os cálculos no Brasil, por exemplo, poderia alterar políticas públicas. Hoje o pagamento de benefícios pelo governo é destinado no geral a quem tem mais de 65 anos.
Por esse conceito, esse pagamento cairia para cerca de 60% dessa população que recebe atualmente a aposentadoria. Essa conta também deveria ser considerada pelos planos de saúde que olham a população 65+ como um todo e não como oportunidade
Nesse conceito invertido, olhar para quanto ainda tem de vida útil, produtiva e com saúde ganha mais importância do que medir o quanto já passou.
E o mais importante nessa inversão é entender e se planejar para esse segundo tempo da vida. O que vamos fazer com essa prorrogação que a melhoria em saúde e condições de vida nos traz?
Com mais 20 ou 30 anos após os 65 é possível continuar produtivo, fazer uma nova faculdade e planejar uma nova profissão, uma nova carreira.
Fazer um vestibular que me permita somar todo meu conhecimento em uma nova jornada profissional, que pode ser tão longa quanto a da primeira parte da vida.
Isso nos move a cada vez mais buscar a renovação. Buscar novos caminhos, novos espaços e conhecimentos será fundamental porque é bem provável que não vamos repetir os últimos 30 anos
Tudo poderá ser diferente e já está sendo. Quantos e quantos profissionais já estão se recusando a pôr fim a suas carreiras apenas por conta da idade?
Quantas pessoas 50+ estão neste momento vivenciando a continuidade de carreira, contribuindo com a inovação, trabalhando a partir de novos conceitos de contratos que valorizem a experiência e o conhecimento construídos em uma trajetória?
Diante disso, as universidades vão precisar se preparar para receber mais esse público que quer continuar o segundo tempo do jogo da vida com uma nova formação. Olha só a economia se movimentando em tantos sentidos.
A sociedade vai precisar se livrar do etarismo e considerar produtiva essa parte da população que sequer está inserida no conceito de gerações, pois a mais antiga, a geração baby boomers, compreende os nascidos entre 1945 e 1964
Se procurarmos bem, as empresas e seus conselhos, as universidades, os órgãos públicos, o comércio, o setor de serviços, o empreendedorismo ainda conta com essa força de trabalho. Tem 75+, 80+ aí no mercado, no seu segundo tempo, marcando um gol atrás do outro. Invictos.
Quantos futuros esse conceito invertido de entender a longevidade de trás para frente pode mudar para uma geração que quer e que pode continuar a gerar mais receita que custo?
Planejar e começar o ano com essa dose de estímulo para uma nova vida só pode contribuir para aumentar ainda mais essa longevidade.
E aí? Você já sabe o que quer ser quando envelhecer?
Juliana Ramalho é CEO da Talento Sênior, empresa de Talent as a Service que atua na contratação de profissionais 45+ sob demanda, e sócia-fundadora do Grupo Talento Incluir, um ecossistema da diversidade e inclusão pioneiro no Brasil. Além das operações da consultoria, é responsável por inovação, tecnologia e expansão internacional.
Manter corpos congelados em câmaras criogênicas é ficção científica? Fernando Azevedo Pinheiro, da Tomorrow Bio, aposta na tecnologia como uma “ambulância para o futuro”, para driblar doenças hoje incuráveis e prolongar a vida humana.
Desde março, o combate ao assédio moral e sexual é uma obrigação de todas as empresas do país, mas a maioria das denúncias ainda fica sem punição. Entenda como as lideranças devem enfrentar este problema endêmico nas organizações.
Num mundo em constante mudança, saber abraçar o caos é essencial à inovação. Fernando Seabra, empreendedor, mentor e investidor, explica como atravessar esse “labirinto de complexidades” e aproveitar as oportunidades que ele oferece.