Há um ano e meio, quando contamos a história de Caio Dib e de sua jornada de ônibus pelo país em busca de práticas educacionais inspiradoras, ele estava prestes a realizar uma mudança pessoal importante: morar sozinho. Aos 26 anos, hoje Caio se vê mais maduro, mais organizado e mais focado. Consequência natural, seu negócio, o Caindo no Brasil, parece ter seguido a mesma curva de aprendizado de seu fundador. O propósito segue o mesmo — dar luz a pessoas e projetos que fazem a diferença na educação brasileira —, mas a forma de apresentá-lo foi calibrada.
Atualmente, a agência de conteúdo especializada em educação brasileira atua na curadoria de conhecimento e na produção de conteúdo, com produtos mais claros e melhor estruturados. Caio fala do que motivou a mudança: “Havia uma confusão entre o negócio e a minha agenda como consultor e palestrante”. E foi atrás de maneiras de se organizar melhor.
“Busquei me aconselhar com profissionais de diferentes áreas, apresentando o Caindo no Brasil, e os feedbacks me diziam que o negócio tinha muitos tentáculos. Até projetos pessoais apareciam sob o guarda-chuva do Caindo no Brasil”, conta ele, que hoje faz um acompanhamento trimestral com a Artemisia, uma aceleradora de projetos de impacto social.
COMO SEPARAR O NOME DA PESSOA?
Foi preciso um mergulho interno, para buscar um entendimento mais claro entre o Caio, dono do negócio, e o Caio, consultor. Embora essas facetas se conversem o tempo todo, a reflexão sobre seus limites e papéis tem sido importante e o tem ajudado a fazer escolhas.
Hoje em dia, Caio dá menos ênfase à sua participação em palestras, por exemplo. Na época da publicação de nossa primeira reportagem, o jornalista-educador somava mais de 100 participações realizadas em eventos de referência de todo o Brasil sobre temas ligados à educação e inovação. O que mudou de lá pra cá? Caio responde:
“Hoje, penso muito melhor em como uso o meu tempo. Peso o quanto uma iniciativa vai ressoar e meço o meu esforço versus o impacto daquilo pessoalmente e para o negócio”
Uma das decisões importantes deste ano é focar no B2C, no caso da Caindo no Brasil, na venda de produtos diretamente para professores e educadores. Caio percebeu uma brecha no mercado e desenhou um novo produto, o Drops. A partir de conteúdos curtos produzidos em vídeo, PDF ou podcast enviados semanalmente por WhatsApp, o Drops se propõe a ser uma microjornada de aprendizagem para que os professores possam se aprofundar em alternativas educacionais brasileiras.
CONTEÚDO FÁCIL, RÁPIDO E TRANSFORMADOR
Os conteúdos seguem sempre a mesma lógica: apresentar um conceito, boas práticas ligadas a ele e uma ferramenta mão-na-massa. Por exemplo, no Drops 1, o professor recebe um PDF que explica o conceito de um livro. No segundo, ele conhece uma escola que aplica a teoria desse autor e, no terceiro Drops, ele recebe uma ferramenta para que possa implementar esses conceitos na sua escola. Caio fala do modelo:
“Professores não têm tempo. Por isso, a ideia é que eles tenham acesso a conteúdos rápidos, mas não superficiais, que possam ser consumidos no caminho do trabalho, ou enquanto esperam pelo almoço”
O produto, que tem um tíquete baixo, pode ser comprado em dois pacotes. O Drops 1 custa 4,99 reais por mês e dá direito a um conteúdo por semana, acompanhamento de bate-papos online com especialistas e desconto de 15% na compra do livro Caindo no Brasil. Já o Drops 2, que custa 8,99 reais por mês, entrega dois conteúdos por semana, hangouts com especialistas, 20% de desconto no livro e oferece uma declaração de 30 horas de estudo em alternativas educacionais. Cada “gota” (drops, em inglês) leva de 2 a 8 minutos para ser consumido (lendo ou ouvindo). Criado em dezembro de 2016, o produto tem hoje 450 assinantes espalhados em mais de 100 cidades de 24 estados e do Distrito Federal, diz Caio.
E o empreendedor quer mais, muito mais. Para ampliar a presença em estados fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, onde estão a maioria dos assinantes, fechou recentemente uma parceria com uma empresa de telemarketing, que somente em São Paulo, tem em sua base mais de 650 mil professores. Ele estima, porém, que o produto deva levar uns dois anos para emplacar. E fala de como é administrar ansiedades do tipo:
“Uma coisa que aprendi é escolher melhor os meus parceiros. Hoje, além de ter por perto aqueles que conversam com as intenções e os princípios do meu negócio, procuro parcerias técnicas que complementem a nossa expertise de produção de conteúdo”
A meta financeira para este ano é um faturamento de 230 mil reais, dos quais já garantiu 100 mil. Para chegar lá, Caio aposta no novo produto e nas curadorias para produtoras e eventos, como é o caso do festival Path, um dos maiores de educação e criatividade do Brasil. O Caindo no Brasil foi responsável por mapear entre educadores e projetos as histórias mais inspiradoras para o público do festival, nas edições de 2016 e 2017. “Este é um formato em que acredito muito. No fim das contas, o que queremos é espalhar boas histórias e promover uma troca potente e transformadora”, diz.
VESTINDO O CHAPÉU DO CONSULTOR
Se por um lado, ter uma estrutura enxuta — Caio trabalha de casa e conta com o apoio de apenas uma estagiária — ajuda a manter o negócio igualmente enxuto, atuar como consultor é uma das formas de continuar apostando no Caindo no Brasil.
Atualmente, ele tem um contrato de 30 horas com a agência Tellus, em um projeto que busca identificar e sistematizar boas práticas de professores de uma faculdade particular. Caio conta que também está trabalhando para uma escola de baixo custo, que está sendo criada. Ali, o papel dele é ajudar a estruturar o modelo de projetos que será usado pelos alunos em 2018. Outra novidade em andamento é um curso de desenvolvimento de professores que ele está elaborando em parceria com a Flowmakers e a Imagina Coletivo, a partir de encontros de imersão com educadores.
Fora isso, ele mantém um projeto, que já está em seu quarto ano, na escola Santi, onde estudou do maternal até a (antiga) 8ª série. A proposta, que já chegou a ser parte do guarda-chuva Caindo no Brasil, é que os estudantes identifiquem problemas ou possibilidades de melhoria no bairro do Paraíso, onde fica a escola, e encontrem soluções. Neste ano, os alunos do Santi, de 10 a 14 anos, se mobilizaram e conseguiram uma reunião com o prefeito regional, como parte de um projeto para melhorar as condições de uma praça do entorno.
“A Tellus hoje me ajuda a ter uma rotina mais organizada e também gosto de ter um lugar fixo, uma sala, uma equipe. Tive grandes aprendizados em empresas, mas sei que nunca vou conseguir ser 100% empregado de alguém. Acredito que estar envolvido em mais de um projeto traz dinamismo e uma riqueza de conexões”, diz.
Entre seus planos está a publicação de um novo livro. Desta vez, ele quer mapear boas práticas e ferramentas educacionais. Um livro “para gastar”, em suas palavras: “Quero uma publicação que seja interativa, que dê instrumentos para o dia a dia dos professores”.
Muito trabalho pela frente e também uma vontade de gerenciar melhor seu tempo, equilibrar a rotina, dar mais espaço para seus interesses pessoais e suas relações. Entre suas metas particulares está a de ter mais tempo para estar com as pessoas que mais admira. “Tudo com o que estou envolvido hoje me faz feliz. Me vejo como um empreendedor movido a propósito e na busca pela minha verdade. Preciso estar perto de pessoas e de equipes que acreditem nos seus projetos, no que estão fazendo. E é com elas que pretendo aprofundar minhas relações”, diz.
Desconstruir mitos e fórmulas prontas, falando a língua de quem vive na periferia: a Escola de desNegócio aposta nessa pegada para alavancar pequenos empreendedores de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo.
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