Quando seu projeto é sua vida, uma hora é preciso separar as coisas. Caio Dib conta como está fazendo

Luana Dalmolin - 7 ago 2017Educação se faz em círculo. Caio em um workshop da Caindo no Brasil, na escola UniÍtalo, em abril deste ano.
Educação se faz em círculo. Caio Dib em um workshop da Caindo no Brasil, na escola UniÍtalo, em abril deste ano.
Luana Dalmolin - 7 ago 2017
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Há um ano e meio, quando contamos a história de Caio Dib e de sua jornada de ônibus pelo país em busca de práticas educacionais inspiradoras, ele estava prestes a realizar uma mudança pessoal importante: morar sozinho. Aos 26 anos, hoje Caio se vê mais maduro, mais organizado e mais focado. Consequência natural, seu negócio, o Caindo no Brasil, parece ter seguido a mesma curva de aprendizado de seu fundador. O propósito segue o mesmo — dar luz a pessoas e projetos que fazem a diferença na educação brasileira —, mas a forma de apresentá-lo foi calibrada.

Contamos a história de Caio e do Caindo no Brasil em janeiro de 2016 (clique na foto para ler a reportagem).

Contamos a história de Caio e do Caindo no Brasil em janeiro de 2016 (clique na foto para ler a reportagem).

Atualmente, a agência de conteúdo especializada em educação brasileira atua na curadoria de conhecimento e na produção de conteúdo, com produtos mais claros e melhor estruturados. Caio fala do que motivou a mudança: “Havia uma confusão entre o negócio e a minha agenda como consultor e palestrante”. E foi atrás de maneiras de se organizar melhor.

“Busquei me aconselhar com profissionais de diferentes áreas, apresentando o Caindo no Brasil, e os feedbacks me diziam que o negócio tinha muitos tentáculos. Até projetos pessoais apareciam sob o guarda-chuva do Caindo no Brasil”, conta ele, que hoje faz um acompanhamento trimestral com a Artemisia, uma aceleradora de projetos de impacto social.

COMO SEPARAR O NOME DA PESSOA?

Foi preciso um mergulho interno, para buscar um entendimento mais claro entre o Caio, dono do negócio, e o Caio, consultor. Embora essas facetas se conversem o tempo todo, a reflexão sobre seus limites e papéis tem sido importante e o tem ajudado a fazer escolhas.

Hoje em dia, Caio dá menos ênfase à sua participação em palestras, por exemplo. Na época da publicação de nossa primeira reportagem, o jornalista-educador somava mais de 100 participações realizadas em eventos de referência de todo o Brasil sobre temas ligados à educação e inovação. O que mudou de lá pra cá? Caio responde:

“Hoje, penso muito melhor em como uso o meu tempo. Peso o quanto uma iniciativa vai ressoar e  meço o meu esforço versus o impacto daquilo pessoalmente e para o negócio”

Uma das decisões importantes deste ano é focar no B2C, no caso da Caindo no Brasil, na venda de produtos diretamente para professores e educadores. Caio percebeu uma brecha no mercado e desenhou um novo produto, o Drops. A partir de conteúdos curtos produzidos em vídeo, PDF ou podcast enviados semanalmente por WhatsApp, o Drops se propõe a ser uma microjornada de aprendizagem para que os professores possam se aprofundar em alternativas educacionais brasileiras.

CONTEÚDO FÁCIL, RÁPIDO E TRANSFORMADOR

Os conteúdos seguem sempre a mesma lógica: apresentar um conceito, boas práticas ligadas a ele e uma ferramenta mão-na-massa. Por exemplo, no Drops 1, o professor recebe um PDF que explica o conceito de um livro. No segundo, ele conhece uma escola que aplica a teoria desse autor e, no terceiro Drops, ele recebe uma ferramenta para que possa implementar esses conceitos na sua escola. Caio fala do modelo:

“Professores não têm tempo. Por isso, a ideia é que eles tenham acesso a conteúdos rápidos, mas não superficiais, que possam ser consumidos no caminho do trabalho, ou enquanto esperam pelo almoço”

O produto, que tem um tíquete baixo, pode ser comprado em dois pacotes. O Drops 1 custa 4,99 reais por mês e dá direito a um conteúdo por semana, acompanhamento de bate-papos online com especialistas e desconto de 15% na compra do livro Caindo no Brasil. Já o Drops 2, que custa 8,99 reais por mês, entrega dois conteúdos por semana, hangouts com especialistas, 20% de desconto no livro e oferece uma declaração de 30 horas de estudo em alternativas educacionais. Cada “gota” (drops, em inglês) leva de 2 a 8 minutos para ser consumido (lendo ou ouvindo). Criado em dezembro de 2016, o produto tem hoje 450 assinantes espalhados em mais de 100 cidades de 24 estados e do Distrito Federal, diz Caio.

O Drops é uma entrega recorrente de conteúdo para professores, a um custo baixo (a partir de 4,99 reais mensais).

O Drops é uma entrega recorrente de conteúdo multiplataforma para professores, a um custo baixo (a partir de 4,99 reais mensais).

E o empreendedor quer mais, muito mais. Para ampliar a presença em estados fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, onde estão a maioria dos assinantes, fechou recentemente uma parceria com uma empresa de telemarketing, que somente em São Paulo, tem em sua base mais de 650 mil professores. Ele estima, porém, que o produto deva levar uns dois anos para emplacar. E fala de como é administrar ansiedades do tipo:

“Uma coisa que aprendi é escolher melhor os meus parceiros. Hoje, além de ter por perto aqueles que conversam com as intenções e os princípios do meu negócio, procuro parcerias técnicas que complementem a nossa expertise de produção de conteúdo”

A meta financeira para este ano é um faturamento de 230 mil reais, dos quais já garantiu 100 mil. Para chegar lá, Caio aposta no novo produto e nas curadorias para produtoras e eventos, como é o caso do festival Path, um dos maiores de educação e criatividade do Brasil. O Caindo no Brasil foi responsável por mapear entre educadores e projetos as histórias mais inspiradoras para o público do festival, nas edições de 2016 e 2017. “Este é um formato em que acredito muito. No fim das contas, o que queremos é espalhar boas histórias e promover uma troca potente e transformadora”, diz.

VESTINDO O CHAPÉU DO CONSULTOR

Se por um lado, ter uma estrutura enxuta — Caio trabalha de casa e conta com o apoio de apenas uma estagiária — ajuda a manter o negócio igualmente enxuto, atuar como consultor é uma das formas de continuar apostando no Caindo no Brasil.

Atualmente, ele tem um contrato de 30 horas com a agência Tellus, em um projeto que busca identificar e sistematizar boas práticas de professores de uma faculdade particular. Caio conta que também está trabalhando para uma escola de baixo custo, que está sendo criada. Ali, o papel dele é ajudar a estruturar o modelo de projetos que será usado pelos alunos em 2018. Outra novidade em andamento é um curso de desenvolvimento de professores que ele está elaborando em parceria com a Flowmakers e a Imagina Coletivo, a partir de encontros de imersão com educadores.

Educação se faz na rua. Caio Dib com seus alunos do colégio Santi em dia de intervenção na praça.

Educação se faz na rua. Caio Dib com seus alunos do colégio Santi em dia de intervenção na praça.

Fora isso, ele mantém um projeto, que já está em seu quarto ano, na escola Santi, onde estudou do maternal até a (antiga) 8ª série. A proposta, que já chegou a ser parte do guarda-chuva Caindo no Brasil, é que os estudantes identifiquem problemas ou possibilidades de melhoria no bairro do Paraíso, onde fica a escola, e encontrem soluções. Neste ano, os alunos do Santi, de 10 a 14 anos, se mobilizaram e conseguiram uma reunião com o prefeito regional, como parte de um projeto para melhorar as condições de uma praça do entorno.

“A Tellus hoje me ajuda a ter uma rotina mais organizada e também gosto de ter um lugar fixo, uma sala, uma equipe. Tive grandes aprendizados em empresas, mas sei que nunca vou conseguir ser 100% empregado de alguém. Acredito que estar envolvido em mais de um projeto traz dinamismo e uma riqueza de conexões”, diz.

Entre seus planos está a publicação de um novo livro. Desta vez, ele quer mapear boas práticas e ferramentas educacionais. Um livro “para gastar”, em suas palavras: “Quero uma publicação que seja interativa, que dê instrumentos para o dia a dia dos professores”.

Muito trabalho pela frente e também uma vontade de gerenciar melhor seu tempo, equilibrar a rotina, dar mais espaço para seus interesses pessoais e suas relações. Entre suas metas particulares está a de ter mais tempo para estar com as pessoas que mais admira. “Tudo com o que estou envolvido hoje me faz feliz. Me vejo como um empreendedor movido a propósito e na busca pela minha verdade. Preciso estar perto de pessoas e de equipes que acreditem nos seus projetos, no que estão fazendo. E é com elas que pretendo aprofundar minhas relações”, diz.

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