No escritório ou no home office, conversas e “panelinhas” entre colaboradores podem sabotar a comunicação interna e o senso de pertencimento do time.
Contornar esse desafio e otimizar a comunicação é a proposta da Dialog. A plataforma se assemelha a uma rede social corporativa, em que os colaboradores têm voz — mas suas mensagens ficam abertas (ou seja, nada de chat).
Nas palavras de André Franco, CEO, 42, uma diferença fundamental para concorrentes como o Workplace, do Facebook, é ser uma ferramenta que “agrega, e não segrega”, diz.
“Nessas ferramentas de redes sociais, quando a empresa publica algo, muitas vezes passa batido, porque tem muita conversa paralela rolando… Para o RH, isso é um tiro no pé: o RH quer se aproximar dos colaboradores, e na verdade está dando uma ferramenta para eles baterem papo. Ou seja, a empresa fica secundada na história”
A ideia é que todo mundo consiga, pela plataforma, entender o que acontece na empresa toda — e não só nas localidades (ou nas bolhas) onde cada pessoa trabalha.
“No [aplicativo] Dialog, como as pessoas não conseguem publicar apenas para ‘dois colegas verem’, elas publicam menos — mas publicam com mais qualidade, postam o que de fato acham que vai ser legal.”
O APP FUNCIONA COMO CANAL DE COMUNICAÇÃO E PORTAL DE SERVIÇOS
A plataforma prioriza, na timeline de cada usuário, conteúdos relevantes para aquele colaborador ou colaboradora, que pode interagir por meio de curtidas e compartilhamentos.
Quando a empresa publica comunicados e campanhas, diz André, a ferramenta privilegia a exibição desses conteúdos. “Assim, o RH de fato consegue fazer uma conexão maior para que as pessoas tenham uma visão de todo, e não só do núcleo onde trabalham.”
Pesquisas na plataforma ajudam a medir a opinião dos funcionários, a receptividade a campanhas internas (sobre prevenção contra a Covid na volta do escritório, por exemplo); há também uma pegada de gamificação, premiando com pontos os colaboradores que escrevem depoimentos para colegas.
Tudo isso ajuda a gerar engajamento, afirma o empreendedor.
“Nos canais atuais que as empresas grandes se comunicam com colaboradores, top-down, colando mural de parede, fazendo cascateamento de informação, existe uma distância muito grande entre como a empresa funciona e como o colaborador enxerga tudo aquilo”
Além disso, os clientes podem plugar na plataforma serviços e benefícios corporativos (como holerite, ponto digital, crédito consignado, aviso de férias) oferecidos por outros parceiros.
“A empresa não precisa usar a nossa solução de RH, por exemplo, ela pluga a que ela quiser. E para o colaborador, vira um portal de serviços: tudo acontece lá dentro.”
CRIADA DENTRO DO GRUPO IN PRESS, A STARTUP NASCEU DA DEMANDA DE UM CLIENTE
Em 2016, André liderava a operação brasileira da Critical Mass, agência de inovação que o Grupo In Press trouxe para o Brasil (em parceria com a canadense Omnicom).
O app Dialog nasceu nesse contexto, da demanda de um cliente do grupo. “A Pepsico tinha feito um diagnóstico e viu que o pessoal que trabalhava em escritórios de São Paulo, só por estarem em prédios diferentes, se sentia como se fosse de diferentes empresas”, diz André.
A constatação deixou a Pepsico intrigada, já que eles contavam inclusive com uma rede social interna. O time liderado por André foi investigar. A conclusão: a tal plataforma (assim como outras do mercado, diz o empreendedor) era na verdade uma ferramenta de produtividade ‘travestida’ de rede social.”
“A gente viu que era preciso fazer o oposto do que eles estavam fazendo. Em vez de criar silos [organizacionais], canais onde as pessoas montam seus grupos, começam um chat e fazem suas panelas virtuais, era preciso quebrar essas panelas — para que todo mundo sentisse que era da mesma casa”
Para trabalhar o senso de pertencimento, não bastava colocar todo mundo junto numa plataforma. Era preciso mudar a mentalidade e fomentar esse sentimento — quem sabe com a ajuda de um ambiente digital específico para essa mudança de chave.
CONVENCER O GRUPO A APOSTAR EM UM PRODUTO FOI UM DESAFIO À PARTE
O Grupo In Press tem mais de 30 anos. E seu negócio sempre foi baseado na venda de serviço. “Criar um produto lá dentro era um ‘bicho’ completamente diferente”, diz André.
Sem contar que, na época, afirma o empreendedor, o valor de uma boa comunicação interna ainda não estava estabelecido como hoje. Foi preciso convencer a liderança do grupo — e a Pepsico — a investir no desenvolvimento de uma solução tecnológica, sabendo que aquela aposta não daria retorno logo de cara.
Assim, aos poucos, o Dialog ia tomando forma — inicialmente com um produto da Critical Mass, gerado dentro do Grupo In Press e com a Pepsico como cliente único num primeiro momento.
“Foi muito duro no início, todo mês tinha uma pressão grande do financeiro… O Dialog quase morreu algumas vezes, por não dar lucro no início. Quando olhavam o bottom line no fim de cada mês, viam que a gente ia dar prejuízo”
André acreditava na solução e gastava saliva na missão de convencer o financeiro: gente, segura mais o fôlego, a gente precisa de escala para isso aqui dar dinheiro, e aí vocês podem ganhar muito mais dinheiro do que ganham hoje com o core business.
POR MEIO DO APP, O CLIENTE CONHECE SEUS INFLUENCIADORES INTERNOS
Rolou um processo de aculturar o mercado para comprar esse tipo de solução, diz André. A venda, em média, demorava um ano. Mas aos poucos, o pessoal do financeiro foi se tranquilizando.
“O Grupo comprou a ideia, investiu no projeto e deu certo: em 2020 o Dialog se tornou um negócio sustentável”, diz.
Clientes, hoje, são 23, a maioria do segmento enterprise, incluindo marcas como BRF e Via Varejo. O foco está nas empresas com 500 ou mais. A startup cobra em torno de 3 reais mensais por funcionário, e mais uma taxa (que varia entre 30 mil e 40 mil reais) para configurar a versão white label da plataforma, com a marca e as cores da empresa.
A Pepsico usou a ferramenta para criar avatares humanizando seus departamentos (a Lia do RH, por exemplo) e identificar influenciadores dentro do quadro de funcionários.
“Analisando comentários e curtidas dos colegas, a empresa viu que uma pessoa do Jurídico era quem mais gerava engajamento, quando publicava na plataforma… E a empresa nem sabia que essa pessoa era um influenciador interno”
O colaborador ganhou visitas às fábricas e o título de “embaixador”, com prerrogativa de maior visibilidade de suas postagens na plataforma.
A COMUNICAÇÃO INTERNA COMO FERRAMENTA PARA ALAVANCAR VENDAS
Com o Carrefour, outro cliente, André diz que vem testando como usar a comunicação interna e o engajamento dos colaboradores para alavancar vendas no varejo.
“Eles começaram divulgar para os colaboradores, dentro do Dialog, vouchers de desconto para o e-commerce, habilitando a funcionalidade do compartilhamento e incentivando que os funcionários mandassem para amigos e parentes nas redes sociais, por WhatsApp etc.”
Os cupons digitais têm códigos rastreáveis, de forma que a empresa pode identificar a origem de cada um., e medir os resultados.
“A comunicação interna nunca teve papel direto na geração de resultado de empresa, a não ser ao tentar baixar turnover, essas coisas…”, diz André. “Gerar negócio é inédito. E nesse caso, você ainda mensura: sabe quem compartilhou aquele cupom que gerou uma venda.”
NOS PLANOS, USAR AS MÉTRICAS PARA AJUDAR A REDUZIR O TURNOVER
O Dialog não é uma ferramenta de produtividade, esclarece o empreendedor. “Inclusive a gente recomenda que as empresas contratem o Slack, contratem o Teams… E usem um canal apartado para engajamento, como o nosso.”
Ele diz que já chegou a perder clientes que pediram a inclusão de chats e grupos na ferramenta, para que esta pudesse ser usada para engajamento e produtividade.
“Queremos escalar, mas com empresas que entendam esse posicionamento, de que a gente quer resolver uma dor específica.”
Usar as métricas geradas pela plataforma como subsídio para decisões estratégicas, porém, é sim um dos objetivos pela frente. A intenção é impactar cada vez mais o negócio dos clientes por meio da ferramenta da startup:
“Queremos mapear comportamentos do usuário dentro da plataforma para predizer se aquela pessoa tem uma propensão maior de estar com produtividade baixa ou de pedir demissão — e indicar isso para que a empresa atue antes que seja tarde”
Para seguir nessa direção, André busca investimento; a meta é captar entre 3 milhões e 4 milhões de reais. Apesar de a startup já ter um “um tamanho que nos permitiria ir para uma [rodada de] Série A”, sua opção foi buscar investidores anjo. E explica o porquê:
“Nosso foco são empresas grandes, em que faz diferença ter uma boa entrada”, afirma. “Investidores-anjo, além de colocarem o capital financeiro, também trazem o capital intelectual e conexões que nos ajudam a encurtar o ciclo de vendas.
PARA SEGUIR CRESCENDO, ELE INVESTIU E FEZ DO DIALOG UMA SPIN-OFF
O Grupo In Press ainda tem uma participação, mas André agora é o sócio majoritário da startup.
“Quando a gente fez a spin-off, 100% do time da Critical Mass veio comigo e virou time Dialog”, diz André. “Agora, estou crescendo esse time, trazendo outros executivos.”
Ao todo, a equipe tem 17 pessoas — a ideia é fechar o ano com 20. Desde junho, a startup faz parte do ecossistema do Cubo, mas por conta da pandemia está todo mundo em home office.
O empreendedor decidiu de investir do próprio bolso (formando uma dívida de cerca de 1 milhão de reais com o Grupo In Press) por sentir que essa mudança de rota era necessária para buscar capital de risco e acelerar o crescimento da empresa.
“Fomos pioneiros, lançamos nossa solução inclusive antes da solução do Facebook e de outras no mercado… Mas vínhamos num crescimento orgânico, e na arena de produtos fica muito difícil competir. Tem muitos players crescendo. Se a gente não conseguir desenvolver a plataforma com uma agilidade maior, novas funcionalidades, vamos ficar para trás”
A concorrência, porém, não assusta. André diz que, em vez de competidor, vê o WorkPlace, ferramenta do Facebook, como uma “alavanca”, abrindo caminho entre potenciais clientes.
“Estamos deixando o Facebook fazer esse trabalho de convencimento”, diz. “Depois, a gente vai no cliente, quando ele já tiver o budget, e oferece uma solução mais em conta.”
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