Diante do balanço que vou fazendo da vida, à medida que avanço por ela, é inevitável encontrar o sentimento de que dava para ter feito mais, contribuído mais, construído mais.
Nesses momentos, me pergunto se, em termos profissionais, fui um homem de negócios capenga para o criativo que havia em mim, um agente meia-boca para o artista que sempre quis ser – ou se, ao contrário, não fui maior, não cheguei mais longe, não voei mais alto, por não ter sido o escritor, o homem de criação, o editor que sonhei me tornar, por não ter conseguido entregar ao business developer, ao diretor comercial que representei para mim mesmo, o melhor material a ser trabalhado junto ao mercado.
(Talvez seja um pouquinho de cada coisa. Mas o mais provável mesmo é que eu esteja apenas sendo bastante ingrato com a sorte que tive.)
De todo modo, minha trajetória profissional tem sido a busca por transformar o que mais gosto de fazer num modo de vida
Tornar aquilo que acho que faço melhor num ganha-pão. Aquilo que eu faria mesmo sem ganhar nada por isso numa atividade capaz de me render o sustento.
(O que é a definição clássica, aqui no Draft, de um empreendedor da Economia Criativa.)
***
Essa tem sido minha carreira até aqui, tanto como executivo quanto como empreendedor: um diálogo constante, intenso, tensionado, entre o artista e o homem de negócios.
Mas você não precisa ter uma pretensão artística ou autoral para seguir comigo nessa conversa.
Basta identificar, no seu próprio painel de controle, a distância que há entre aquilo que você mais gostaria de fazer, a atividade que mais lhe permitiria obter satisfação com seu trabalho, e aquilo que você efetivamente precisa fazer para ganhar a vida.
Se você já teve de lidar em algum momento com essa distância entre o sonho e a realidade, então talvez já tenha tido a chance de se surpreender com o fato de que às vezes aquilo que você almejava fazer (ou imaginava que queria muito fazer) não era algo tão bacana assim.
(Sim, sonhos às vezes são enganos. Miragens. Pasteis cheios de vento.)
Na mão contrária, talvez você também já tenha tido a oportunidade de constatar que aquilo que considerava só obrigação não era, na real, uma coisa tão ruim assim – e se percebeu até pegando gosto por uma atividade que temia ou desprezava
(Pois é, às vezes a gente julga as coisas sem conhecê-las direito, e se convence de que não gosta de um certo tipo de comida antes mesmo de prová-la.)
***
Aqui no meu quintal, muitas vezes quis ser apenas artista: viver de escrever (a minha arte), me dedicar inteiramente ao mundo das letras.
Mas também queria da vida os confortos que ela pudesse me dar – e que essa atividade muito provavelmente não teria condições de me proporcionar.
Então me transformei, também, num business man.
Desenvolvi competências como gerente de marca e de produto, como diretor de marketing, como líder de projeto, como head de empresa, em nome de poder desfrutar das coisas boas da vida que requerem dinheiro – inclusive a melhor coisa que a grana pode proporcionar, que é não precisar se preocupar com ela.
Foi assim que construí minha carreira. Buscando encontrar equilíbrio entre uma atividade que tivesse significado, que me trouxesse felicidade, e que também oferecesse prosperidade. Porque só grana não resolve – mas a falta de grana atrapalha muito
Sempre cuidando para que o homem de negócios não sufocasse o artista. E também para que o artista não sabotasse o homem de negócios. (De novo, acho que um pouquinho disso acabou acontecendo, de parte a parte.)
***
Como resultado desse cabo-de-guerra, acabei desenvolvendo três carreiras até aqui. E cada uma delas gerou condições para que a outra pudesse acontecer.
Primeiro, fui executivo.
Revisteiro na Editora Abril. Editor sênior da Exame. Diretor de marketing do Grupo Exame. Diretor de redação da Superinteressante. Diretor do Núcleo Jovem da Abril. (Conto a história desses anos de reinado na mídia impressa em A República dos Editores.)
Depois fui para a TV Globo aprender a fazer televisão. Chefe de Redação do Fantástico, no Rio. (Conto os bastidores desse duro período de aprendizagem na mídia eletrônica em Treze Meses Dentro da TV.)
Hoje, sou empreendedor.
Em 2008, me lancei no empreendimento com a Spicy Media, trazendo o Gizmodo (e, depois, o Jalopnik e o Kotaku) ao Brasil. Atuei na blogosfera e testemunhei o nascimento do mercado de comunicação digital no país.
(Compartilho tudo o que vi e vivi naquele momento de consolidação dos negócios de internet no Brasil, em que as redes sociais estavam surgindo, em “Por Conta Própria: do desemprego ao empreendedorismo – os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40”, livro que será lançado neste mês — e cujo exemplar você já pode reservar aqui.)
Em 2014, depois de vender a Spicy Media, lancei o Projeto Draft, que você conhece bem, já com a The Factory.
Ano passado lançamos Future Health, um Draft inteirinho dedicado a cobrir a inovação e o empreendedorismo no setor de Saúde.
E ainda há outros pãezinhos a tirar do forno nesse voo empreendedor que tanta recompensa e sentimento de realização tem me proporcionado.
***
Dê play para saber mais sobre o novo livro de Adriano Silva.
À minha frente, em algum lugar do futuro, há uma terceira carreira.
Finalmente, o voo artístico. A dedicação frontal à literatura. A resposta direta e inequívoca ao chamado que ouço, e que trago comigo, desde o começo da vida.
Tenho já pavimentado essa estrada ao longo dos anos. Não só em minha atividade principal – que, com raras exceções, sempre esteve de algum modo ligada à criação e ao texto –, mas também como atividade paralela.
Não por acaso, Por Conta Própria é meu décimo livro. Ao virar escritor em tempo integral, já terei uma obra com uma dúzia ou mais de títulos publicados.
Essa é uma sensação boa. De não ter me negligenciado. De não ter soterrado minhas melhores ambições, meus sonhos mais fundantes e definitivos, em nome de outros ganhos e interesses.
O salto pode ter demorado um pouquinho. Mas ele jamais foi esquecido.
E aqui lhe digo: não se abandone. Não importa quão distante esteja sua realidade atual do sonho que você acalenta para si mesmo. Continue regando a plantinha. Continue levando-a em consideração em seus planos. Sua rota de voo só lhe conduzirá àquilo que você mais deseja se você não tirar o desejo do seu plano de voo
De minha parte, tenho construído o trampolim para minha carreira de escritor com disciplina e paciência. Inflexões de vida importantes não caem do céu. E nem vão dar certo só porque são a coisa certa a fazer.
Você precisa gerar condições, inclusive financeiras, para — em algum momento, num futuro próximo ou distante — poder se dedicar exclusivamente a fazer aquilo que você sempre quis fazer.
***
Encerro compartilhando com você algumas aprendizagens recentes nessa estrada.
Primeiro: nada é reto na vida. Existir é um processo cheio de curvas. As escolhas profissionais são um exercício constante de autoconhecimento. (Nunca nos sabemos suficientemente. Sempre nos surpreendemos com aspectos que não conhecíamos sobre nós mesmos. Inclusive porque mudamos nossos interesses mais rapidamente do que nossa capacidade de assimilar e aceitar isso.)
Então, há surpresas pelo caminho. Esses dias, por exemplo, me dei conta do tanto que curto a rotina de negócios. Do tanto de sonho e de criatividade que cabem na condução de uma empresa. Do tanto que desenvolver projetos para clientes pode ser um espaço para sentir felicidade e para gerar felicidade. Do tanto de satisfação que há em gerar uma solução, entregar um bom trabalho, montar um bom time, e ser reconhecido por isso.
A arte é um exercício de expressão individual – mas o mundo dos negócios também lhe permite imprimir sua marca no mundo, por meio do seu talento, e assim exprimir sua visão de mundo, construir uma obra autoral, gerar um legado
E em ambas as frentes é possível fazer diferença, tocar as pessoas, fazer sentido em suas vidas, impactar o mundo ao redor, encontrar um propósito para o trabalho e um significado para a sua própria existência.
Essa é a principal razão pela qual vocês ainda me verão por algum tempo na trincheira do empreendimento. É muito divertido e gratificante.
***
Por fim: sempre fui uma pessoa presa entre a ambição de obter alguma grandeza artística, alguma relevância entre os criadores e produtores do meu ofício e do meu tempo, e a angústia de não ter dinheiro suficiente para pagar o supermercado ou o condomínio no fim do mês.
Aprendi que essa angústia não pode atrofiar aquela ambição dentro da gente. E que aquela ambição pode, em algum momento, de alguma forma, contribuir para que pacifiquemos essa angústia dentro de nós.
Adriano Silva é fundador da The Factory e Publisher do Projeto Draft e do Future Health. É autor de dez livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores, e está lançando seu mais novo título: Por Conta Própria: do desemprego ao empreendedorismo – os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40.
Alê Tcholla começou a trabalhar aos 16, no departamento financeiro da TV Globo, mas sabia que seu sonho era outro. Foi desbravando novos caminhos até fundar a blood, agência que cria experiências de marca em eventos presenciais e online.
Bruna Ferreira trilhava uma carreira no setor financeiro, mas decidiu seguir sua inquietação e se juntou a uma amiga para administrar um salão de beleza. Numa nova guinada, ela se descobriu como consultora e hoje ajuda empresas a crescer.
Filha de missionários, a colombiana Lina Maria Useche Kempf veio viver em Curitiba aos 12 anos. Ela conta como cofundou a Aliança Empreendedora para impulsionar a prosperidade por meio do estímulo a microempreendedores de baixa renda.