Os cariocas Victor Coutinho e Lucas Angi estudaram juntos no colégio durante apenas sete dias, em 2012, antes que Victor trocasse de escola. Foi o bastante para darem início a uma amizade — e, mais tarde, a uma empresa.
Victor e Lucas, mais o sócio Álvaro Freire, estão à frente do Aarim, uma plataforma de vendas online que funciona dentro de aplicativos de trocas de mensagens — leia-se: WhatsApp e Telegram.
Aarim é também como os sócios batizaram o chatbot, personificado na imagem de um robozinho com turbante de gênio das Mil e Uma Noites. Em vez de esfregar a lâmpada, o usuário saca o celular do bolso. Lucas, 24, CFO da startup, explica:
“Basta adicionar o número do Aarim à lista de contatos do telefone. O passo seguinte é dar um oi ao personagem via Whatsapp ou Telegram e pronto. A conexão se estabelece e a pessoa pode começar a fazer pedidos”
Depois que o usuário inicia o contato, o gênio-chatbot se apresenta e mostra um menu que dá acesso a compras em restaurantes, mercados, padarias, lojas de conveniência, farmácias e petshops. Há até passagens aéreas, fruto de uma parceria com a MaxMilhas.
ENTENDA COMO FUNCIONA O CHATBOT
Uma das vantagens da ferramenta, segundo os sócios, é que as pessoas não precisam perder tempo navegando em sites e nem baixando aplicativos (que ocupam a memória do telefone) para realizar suas compras.
Na primeira vez que usa o Aarim, o consumidor cadastra o cartão de crédito por meio de um link externo. A partir daí, qualquer interação se dá pelo WhatsApp ou Telegram. O usuário pode incluir produtos no carrinho, salvar listas de compras, receber cardápios de restaurantes…
Sem paciência para digitar? Segundo os sócios, você pode enviar mensagens de áudio e o Aarim identifica palavras-chaves, dando retorno por texto à sua busca.
“Na comunicação com o chatbot, as pessoas não querem ter que pensar muito em uma palavra que o software compreenda. Um dos nossos maiores desafios é aperfeiçoar a inteligência artificial para a conversa fluir com cada vez mais naturalidade”
Caso o estabelecimento precise entrar em contato com o comprador para substituir itens ou tirar dúvidas a respeito dos pedidos, o meio sugerido pela startup também é a própria plataforma de mensagens.
AINDA EM ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL, ELES BRILHARAM EM LISBOA
Antes de empreender o Aarim, os sócios flertaram com outras ideias de negócio. Uma delas era um aplicativo para acessar o cardápio de restaurantes, dividir a conta e realizar pagamentos. Tudo de forma digital. “Naquele tempo, isso era novidade”, diz Lucas.
No fim de 2018, um executivo da CM Corp – empresa de soluções em tecnologia que pertence à família de Victor e onde Lucas trabalhava na época – deu a dica: por que não fazer algo para Whatsapp?
A CM Corp investiu no projeto, e os jovens foram em frente e desenvolveram o chatbot. Para humanizá-lo, precisavam de um nome. Cogitaram “Abelardo” (em referência à Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, onde fica o escritório), antes de se decidirem por “Aarim”. Um nome de sonoridade árabe vinha a calhar para um chatbot com cara de gênio da lâmpada.
“Descobrimos em uma pesquisa que Aarim quer dizer ‘presente divino’ e achamos que isso tem tudo a ver com um marketplace. Para completar, possui duas letras A no início, o que garante uma posição privilegiada na agenda do telefone”
Em 2019, eles inscreveram a solução no torneio de pitches do Web Summit de Lisboa, uma das maiores conferências de tecnologia do mundo. Das mais de 2 mil empresas inscritas, cerca de 170 foram selecionadas para a competição — e o Aarim se classificou entre as 18 melhores na categoria “alpha startup”.
O roteiro do pitch de 3 minutos foi traçado pelo terceiro sócio, Álvaro Freire. Aos 26 anos, mais distante do dia a dia operacional, ele hoje se divide entre o trabalho como roteirista para a Netflix e as reuniões de Conselho da startup.
HOJE, A PLATAFORMA RECEBE 2 MIL PEDIDOS POR MÊS
A startup entrou em operação para valer no início de 2020.
Lembra do gênio da história do Aladim, que concedia apenas três desejos? Esqueça. Com a alavanca da tecnologia (e um empurrão gigante na demanda gerado pela pandemia), os números da startup rapidamente se multiplicaram, conta Lucas:
“Desde março, vimos aumentar 30 vezes nosso número de usuários. Atualmente, são dois mil pedidos por mês e 25 mil clientes que já deram oi para o Aarim nas plataformas de mensagem, com um tíquete médio geral de 166 reais. Contando somente passagens aéreas o tíquete é de 746 reais”
No mesmo período, segundo os sócios, a empresa gerou mais de 5,1 milhões de reais em receita para cerca de 2 500 estabelecimentos parceiros, clientes da plataforma. Esse portfólio inclui as redes Bob’s, Spoleto, AmPm (lojas de conveniência) e Viva Mais (drogarias), além da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Rio de Janeiro, seguido de Minas Gerais e São Paulo, são os estados com o maior número de estabelecimentos que usam o Aarim para vender seus produtos. Há clientes também no Mato Grosso do Sul, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
A STARTUP COBRA TAXAS MENORES DO QUE OUTROS MARKETPLACES
Uma das pedras no sapato da startup são os cupons promocionais oferecidos por aplicativos de entrega, como iFood, Rappi e UberEats, que servem de forte atração para os usuários dessas plataformas.
A disputa por preços dirigidos ao consumidor final é uma briga que o Aarim não deseja comprar. Por outro, os sócios afirmam que cobram taxas menores (sobre o valor da compra) dos estabelecimentos parceiros em relação àquelas praticadas por marketplaces tradicionais — no caso do Aarim, esse percentual é de 4% para farmácias e mercados, e 6% para restaurantes.
Lucas afirma que a startup gera valor para os usuários e empodera os estabelecimentos para não se sintam “reféns” dos aplicativos de entrega:
“Há casos em que uma loja sai do radar de um aplicativo e fica sem ter como entrar em contato com o cliente… No Aarim, compartilhamos com os parceiros o e-mail e o telefone dos consumidores. Queremos dar liberdade para os parceiros criarem experiências que acreditam ser as melhores para o seu próprio negócio”
Nessa linha, um ajuste de estratégia deve ganhar força em 2021. A startup prepara um modelo white label, dando aos clientes a opção de customizar a ferramenta conforme a personalidade da sua marca, com logo e identidade visual própria.
O AARIM QUER QUE EM BREVE VOCÊ COMPRE ROUPAS PELO WHATSAPP
Com ou sem white label, a meta é chegar a 20 mil estabelecimentos até o fim do ano que vem — ou seja, um aumento de oito vezes em relação ao número atual.
Para escalar, a startup está em fase de captação, conversando com fundos de venture capital e empresas de setores como gastronomia e meios de pagamento (os sócios não revelam os nomes desses potenciais investidores).
Em breve, dizem os empreendedores, será possível comprar também passagens rodoviárias pela ferramenta. Eles miram ainda o setor de vestuário, aperfeiçoando o relacionamento entre o chatbot e os usuários.
Segundo Lucas, a ideia é que a inteligência artificial da plataforma seja capaz de “captar as intenções” do comprador e gere dados úteis para agilizar a compra e agradar o cliente. Mas como?
“No futuro, o consumidor poderá informar o tipo de roupa que procura, seus gostos pessoais e até a ocasião em que vai usar o produto, como trabalho, academia ou casamento. Baseado nessas informações e utilizando o conhecimento que possui em relação às lojas, o Aarim recomendará os itens que melhor se encaixam no que a pessoa procura”
Quer chamar o Aarim? Manda um zap. O telefone é (21) 9 6744-6767.
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