A trajetória de André Fonseca, 38, gira em torno da tecnologia e do empreendedorismo. Envolve uma oportunidade de estudar nos Estados Unidos, viver alguns anos trabalhando no Vale do Silício até voltar ao Brasil para empreender em sua própria startup e se tornar um dos principais parceiros de marketing do gigante Facebook. Dito assim, parece até um sonho, cheio de vitórias e realizações, mas o roteiro da vida real é diferente, passa por suor — e um pouco de sorte. Desde 2013, ele, Daniel Belintani e Fernando Strabelli criaram a Bornlogic, uma empresa focada em simplificar os processos de criação, análise e otimização de campanhas sofisticadas no Facebook, que hoje é a maior plataforma de social ads do Brasil.
A história começa no Rio de Janeiro, onde André cursou Engenharia de Computação na PUC. Durante os estudos, ganhou uma bolsa do IBEU, curso de inglês que frequentava, para terminar a faculdade nos Estados Unidos, na University of Idaho. Ele foi, e quando as férias de verão (as mais longas no Hemisfério Norte) chegaram, os amigos disseram que ele deveria tentar se inscrever para fazer um primeiro estágio em alguma empresa bacana, que ele admirasse. É o que eles chamam por lá de Summer Internship. Esses estágios durante o recesso das aulas são programas com o objetivo identificar talentos que estão cursando boas Universidades e MBAs, para uma experiência de oito a 12 semanas em áreas estratégicas das companhias. Ao final do período, candidatos em potencial serão considerados para posições full time ou preparados para serem colaboradores da companhia num futuro próximo.
O André foi aceito para o estágio de verão na Sun Microsystems, no Vale do Silício. “Estagiar lá foi uma experiência incrível. Eram doze pessoas vindas de algumas das universidades mais prestigiadas dos EUA, exceto eu. Naquela época a Sun era a empresa de tecnologia mais inovadora do Vale, tipo o Facebook daquela época. A empresa criou o Java, uma das linguagens de programação mais famosas do mundo. Éramos 200 pessoas trabalhando na Javasoft todos os dias. Fazer parte daquela cultura era algo espetacular. Eu nem acreditava que estava sendo pago pra desenvolver código, que era minha paixão”, conta André.
Depois de se formar, foi efetivado e ficou na Sun por mais três anos até surgir uma nova oportunidade. “Saí com o meu chefe e o chefe dele para montarmos a Picotent, uma startup focada em Serviços de Televisão Interativa. Dali para a frente, criar tecnologia para mudar a vida das pessoas se tornou minha nova paixão”, diz.
Ao todo, foram 13 anos trabalhando na Meca da tecnologia mundial. Até que um papo despretensioso mudou a rota dessa história: “Um grande amigo do Vale do Silício veio trabalhar no Facebook do Brasil e uma conversa abriu minha cabeça para o mundo de Ad Technology. Estudei o assunto e poucos meses depois nascia o conceito da Bornlogic”.
A Bornlogic opera desde meados de 2013. André, Daniel e Fernando, todos com raízes no mercado de mídia digital, desenvolveram uma empresa focada na simplificação dos processos de criação, análise e otimização de campanhas sofisticadas no Facebook. “Não basta conhecer seu cliente, onde ele mora, o que ele precisa e quando ele tem uma necessidade. Você precisa ir mais longe e levar em conta, por exemplo, o impacto que o custo de vida local pode ter no comportamento de compra antes de elaborar uma oferta”, afirma André, que é o CEO da Bornlogic.
Com uma carteira de clientes que tem praticamente dobrado a cada seis meses, a startup oferece soluções para clientes como Movile, Blinks e Skina. André conta que na hora da concepção da startup ele se inspirou na estratégia do então candidato Barack Obama, em 2008, usando testes A/B e mídias sociais para arrumar mais cadastros, mais voluntários e receber mais doações em dinheiro para sua campanha. “Ali eu vi que a estratégia de marketing certa consegue até eleger o homem mais poderoso do mundo”, diz.
Atualmente a Bornlogic conta com 25 colaboradores em escritórios no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba além dos três sócios responsáveis pelas áreas de Tecnologia, Vendas e Estratégia e três advisors, um para a área Jurídica, um de Algoritmos e outro fixo no Vale do Silício.
“Nossa tecnologia é nosso diferencial. Nosso DNA do Vale do Silício nos permite focar em velocidade de inovação. Fomos os primeiros a trabalhar na America Latina com Local Awareness Ads, Leads Ads e outras funcionalidades que nossos clientes precisam para escalar os resultados do marketing. Outro diferencial é estar no Brasil, um dos maiores mercados de social media, e mesmo assim termos contato diário com os times de vendas e de engenharia do Facebook. Desde 2013, trabalhamos como um Facebook Marketing Partner (FMP) para definir estratégias, novos produtos e conseguir não somente achar o melhor custo por aquisição (CPA) e return of investment (ROI), mas também escalar o volume de resultados”, diz.
Os serviços são comercializados em pacotes de assinaturas mensais, tipo SaaS (Software as a Service), de ferramentas gerenciadas pelos próprios clientes ou recursos administrados pela Bornlogic, no Facebook e agora também no Instagram.
A Bornlogic foi selecionada como um dos seis parceiros mundiais do Facebook a lançar anúncios no Instagram ainda na fase beta. “Nesses dois meses, vimos campanhas com boa qualidade criativa de vídeo e fotos entregar resultados incríveis. As pessoas usam o Facebook e o Instagram por motivos diferentes, os canais se completam e a facilidade de criar campanhas facilita a inclusão de ambos na estratégia de mídia, aumentando o potencial de sucesso”, diz.
Na opinião de André o momento da economia brasileira é ideal pra quem tem uma visão de longo prazo e está capitalizado. “Agora está mais barato alugar um escritório e mais fácil achar talentos. Esta é uma boa hora de investir e com o dólar valorizado aumentam as chances de se captar investimentos fora do Brasil”. Ele conta ainda que fizeram duas rodadas de investimento na empresa (seed e anjo), ambas vindas através do seu networking com investidores. E completa:
“A crise acelera a busca por performance. Nós criamos tecnologia para otimizar a performance do marketing, então pra nós esta é uma época boa”
Falando assim parece fácil, mas só parece mesmo. André conhece bem as dificuldades e as responsabilidades de ter seu próprio negócio. “A startup é uma máquina de testes e errar faz parte. Nessas horas, os sócios e a família são as pessoas que te ajudam a passar por esta montanha russa emocional”, diz.
DO RIO PARA O VALE, DO VALE PARA O RIO
Casado há 14 anos com a Anna Moura e pai de Erick, de 8 anos, e Pedro, de 5 anos, André voltou ao ponto de partida, o Rio de Janeiro, depois da aventura no Vale. Aqui, diz ele, reencontrou um cenário bem diferente: um ecossistema empreendedor mais vibrante e uma sociedade aprendendo um novo jeito de viver e consumir.
“Hoje temos exemplos de grandes empreendedores brasileiros tomando conta de empresas globais. Vemos um amadurecimento dos anjos e dos fundos de venture capital no Brasil. Eles estão pensando mais em agregar valor para as startups investidas e não somente em se aproveitar do talento criativo. Vemos os brasileiros usando smartphones para comprar ingresso, vender suas coisas usadas, pedir taxi, assistir episódios de suas séries favoritas, e ano após ano, vemos a explosão das mídias sociais e do e-commerce a cada Black Friday”, conta.
E o futuro? Como essa história vai se desenrolar? “Toda a minha energia está direcionada para minha família e a Bornlogic. Daqui a cinco anos, quero poder olhar para trás e ver que nossa tecnologia está melhorando a vida de um grande número de pessoas”, diz ele. Tem sua lógica, André.
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