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Quem é o casal por trás do Capital Moto Week, megafestival de motocicletas e rock n’ roll que começa nesta semana em Brasília

Leonardo Neiva - 15 jul 2024
Pedro Franco e Juliana Jacinto, o casal à frente do Capital Moto Week.
Leonardo Neiva - 15 jul 2024
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Para quem curte o estilo de vida sobre duas rodas ou um bom e velho rock’n’roll, tem uma época do ano em que Brasília vira uma parada imperdível. 

Em 2024, esse período ocorrerá a partir da próxima quinta-feira (18) até o sábado (27) da outra semana. É nesse intervalo de dez dias que o Parque Granja do Torto receberá a 21ª edição do Capital Moto Week, considerado o maior festival a unir motos e rock na América Latina.

Com Sepultura, Raimundos, CPM22, Detonautas, Fernanda Abreu, Humberto Gessinger, Blitz e Call the Police como headliners, a programação deste ano soma mais de 100 shows no total, ocupando cinco palcos e um espaço total de 300 mil metros quadrados (as apresentações serão transmitidas ao vivo pela TV Globo Brasília e online pelo G1).

A expectativa dos produtores não é modesta. São esperados pelo menos 800 mil pessoas, 350 mil motos e representantes de mais de 1,8 mil motoclubes do mundo todo. Um salto incrível em relação às 10 mil pessoas presentes em 2004, ano da primeira edição. De lá para cá, sem dúvida muita coisa mudou.

O desenvolvimento do festival passa pelas mãos dos produtores Juliana Jacinto, 43, e Pedro Franco, 42. À frente do Capital Moto Week desde 2010, a dupla encabeça um ecossistema que hoje engloba cerca de 17 mil colaboradores diretos e indiretos. 

EM 2009, O FUNDADOR DO FESTIVAL VENDEU A MARCA PARA O CASAL DE PRODUTORES QUE HOJE ENCABEÇA O EVENTO

Nascido de um encontro de amigos motociclistas, o festival liderado até então por Sérgio Cruz alcançou em 2009 um público acima das 100 mil pessoas. 

Foi quando, sobrecarregado pela dimensão do evento, ele vendeu a marca para a dupla de produtores, de quem é amigo. 

Juliana lembra o que a motivou a aceitar a oferta:

“No meu caso, foi a proposta de um novo projeto, o desafio de embarcar nessa jornada e transformá-la em uma experiência incrível”

Mestre em administração, ela é a co-CEO da Capital Moto Week Entretenimento, empresa responsável pela organização do evento, ao lado do marido, Pedro, formado em publicidade e propaganda. 

Casados há 17 anos e com dois filhos, a dupla já atuava com a produção de eventos menores antes de assumir o Capital Moto Week. Até por isso, hesitaram no começo em topar seguir com um festival desse porte. Pedro afirma:

“Um festival de grande porte não aceita desaforo: ele suga tudo que você tem e mais um pouquinho. Se você errou, só no ano que vem pode consertar, porque ali na hora o máximo que pode fazer é colocar um band-aid na situação”

O curioso é que, até então, eles não tinham ligação com a cultura da moto. Até por isso e pelos inúmeros desafios atrelados, a primeira edição capitaneada pela dupla, em 2010, repetiu os moldes dos anos anteriores, como forma de entender o público e as principais dificuldades que o evento representava.

Além do festival em si, havia um desafio extra. Embora já trabalhassem com eventos, só em 2009 eles se tornaram de fato sócios nessa primeira empreitada, com todas as dificuldades incluídas em alinhar vida pessoal e profissional.

O saldo da primeira edição, diz Pedro, foi entender a necessidade de investir em áreas estratégicas para que o Capital Moto Week se tornasse escalável. “Naquele ponto, o festival estava com muita gente e não tinha mais espaço para crescer.”

“FESTA ESTRANHA, COM GENTE ESQUISITA”: NO INÍCIO FOI DIFÍCIL DESFAZER ESSA IMPRESSÃO E ATRAIR PATROCINADORES

De cara, a solução foi fazer investimentos em infraestrutura. O dinheiro saiu do bolso dos sócios, já que na época eles avaliaram que o evento não tinha ainda potencial de retorno financeiro. Logo na primeira edição sob nova direção, o orçamento dobrou.

O Moto Week também não gerava interesse para patrocínios mais vultosos, o que tornou necessário apresentar às marcas o potencial monetário de um público de motociclistas num festival fora do eixo Rio-São Paulo, mas que tinha alcance nacional, como lembra Juliana.

“No início foi bem complicado, porque as pessoas enxergavam o Moto Capital como ‘uma festa estranha, com gente esquisita’. Então teve todo um trabalho de desconstruir essa imagem, mostrar que não era um estilo de vida barato, geralmente de pessoas com 35 anos ou mais que viviam na motocicleta”

Os sócios evitam revelar o valor exato investido no começo, mas o principal investimento, segundo Pedro, foi acontecendo ao longo do tempo em questões como estrutura e conteúdo. 

Em primeiro lugar, houve uma mudança para um espaço que pudesse acomodar um público maior. A escolha do Parque Granja do Torto permite desde a busca por um hotel no entorno até a possibilidade de alugar e dormir em um motorhome (o festival disponibiliza uma área para os veículos, sob locação) ou acampar no evento.

Também foi preciso dar maior atenção à parte artística, convidando músicos conhecidos do público geral, e à comunicação, já que mesmo os brasilienses pareciam desconhecer a existência do festival. Segundo Pedro:

“As pessoas falavam: ‘mas a cidade está diferente, cheia de motos…’ Isso é loucura: tem 100 mil pessoas a mais na cidade, em torno de uma mesma coisa, e os moradores não sabiam muito bem o que estava acontecendo!”

Além de ampliar a infraestrutura e tornar o evento mais atraente e conhecido, eles também passaram a cobrar ingresso (o acesso, nos primeiros anos, era gratuito). Hoje, os valores por dia giram em torno de 180 reais a inteira ou 120 reais com a doação de 1 quilo de alimento não perecível ou de lixo eletrônico para reciclagem.

AO ESTICAREM A DURAÇÃO, OS PRODUTORES TORNARAM O FESTIVAL MAIS ATRAENTE PARA OS MOTOCICLISTAS DE FORA DA CIDADE

Durante os primeiros anos, os sócios precisaram estruturar toda uma organização interna que ainda não existia, formulando áreas como RH e comercial, e montando uma empresa para gerir essa organização. 

(A Capital Moto Week Entretenimento inclusive já integrou a realização de outro evento, o Festival Rock Popular Brasileiro, também em Brasília.)

Outra questão central foi a duração. Inicialmente se estendendo por apenas três dias, os sócios ampliaram esse número para cinco já em 2011. Mas não foi suficiente. Pedro afirma: 

“A pessoa ficava dois dias na estrada para vir, mais dois para voltar, e tinha cinco dias de evento. Então não tinha espaço, não tinha tempo”

Por demanda do público, o Moto Week passou, em 2016, a ter dez dias, incluindo dois finais de semana em vez de um. Com isso, diz Pedro, não só a duração mudou como o evento passou a integrar as listas de “Bike weeks” — festivais de grande porte realizados pelo mundo afora com as motocicletas como centro, e que duram ao menos sete dias.

Essa alteração influiu no nome do festival. Até então chamado de Moto Capital, ele se tornou o Brasília Capital Moto Week (durante a pandemia, outro rebranding derrubou o Brasília do título, segundo Pedro, para não ficar redundante).

COM UMA PROPOSTA LIGADA A “ESTILO DE VIDA”, O CAPITAL MOTO WEEK HOJE DESPERTA O INTERESSE DE UM PÚBLICO MAIS DIVERSO

Hoje, segundo os sócios, as empresas patrocinadoras investem cerca de uma e meia a duas vezes o valor do patrocínio direto em experiências para o público dentro do festival, seja em ativações de marca, na aquisição de uma roda gigante, na instalação de bungee-jump e tirolesa, entre outras atrações no local. 

“Isso reforça muito o que a gente passou a entender nos últimos seis anos, uma virada de chave no posicionamento”, diz Pedro. E continua:

“Hoje, entendemos que, muito mais do que só asfalto, motor e óleo, o Capital Moto Week é um festival de estilo de vida – e, além disso, uma plataforma que conecta marcas e pessoas por meio de experiências”

A porcentagem de marcas que retornam neste ano ficou acima dos 80% em relação à última edição, quando o festival reuniu 14 empresas com cotas de patrocínio ou apoio e outras 48 com cotas de exposição. Entre os apoiadores de 2024 estão Globo, Honda, LS2, Michelin, Pepsi, Claro, Spaten, Suhai e Sebrae.

O investimento na realização do Moto Week também aumentou. O valor chegou a 20 milhões de reais neste ano, incremento de cerca de 20% em relação a 2023.

Segundo os sócios, o público hoje é mais amplo e diverso do que no início, englobando famílias e experiências para diversos perfis e idades, tendo como base essa abordagem de estilo de vida. 

As diferentes possibilidades de hospedagem, shows, parque temático, experiências gastronômicas e atividades, delas em parceria com as marcas, ajudam a gerar essa multiplicidade. Segundo Juliana:

“Para nós, nenhum espaço, nenhum lugar no Moto é feito só por ser feito. Tudo que criamos dentro daquela imensa cidade tem o propósito de ser uma experiência”

Pedro defende que essa variedade de experiências também deve abraçar diferentes linguagens, seja em espaços do festival como o Lady Bikers, voltado para economia criativa e empreendedorismo feminino, ou em outros como o Moto Kids, para as crianças, e bares temáticos como o Saluma e o Moto Bar.

“Precisamos entender que, se vamos trabalhar o mesmo conteúdo para um público feminino, a linguagem tem de ser um pouco diferente para atender e acolher esse público também.”

O evento também reserva espaços para alguns dos motoclubes que recebe todos os anos; essas áreas podem variar de 36 a 800 metros quadrados, dentro dos quais ocorrem programações independentes. Pedro afirma:

“São 230 eventos dentro de um único festival. E essa talvez seja a parte mais legal da experiência: que a gente não cria, só oferece o ambiente para que ela aconteça”

Segundo ele, o fluxo de turistas durante os dez dias movimenta cerca de 60 milhões de reais na cidade.

“CAVEIRAS DO BEM”: O FESTIVAL BANIU O USO DE ISOPOR E COPOS DESCARTÁVEIS, E HOJE COMPENSA SUAS EMISSÕES DE CARBONO

Uma novidade é que, nas edições mais recentes, o evento vem investindo cada vez mais em sustentabilidade. 

O movimento, que o festival apelidou de Caveiras do Bem, já zerou as emissões de carbono, compensando tudo o que é gerado durante o festival com o plantio de árvores na região.

Edição 2023 do Capital Moto Week (foto: Vitor Brandão).

O Moto Week também baniu desde 2019 o uso de isopor, copos descartáveis e outros materiais não recicláveis — o evento é reconhecido oficialmente como Lixo Zero desde 2023. 

“Além do nosso time, que envolve as empresas de limpeza, temos um consultor e um técnico, uma equipe grande para gerir toda a logística e o processo pelo qual os resíduos vão passar”, afirma a sócia.

Os produtores também vêm tomando ações para ampliar a acessibilidade, oferecendo acesso e estacionamento gratuitos para pessoas com deficiência, rotas e instalações acessíveis, e também suporte personalizado.

A PANDEMIA FOI O PERÍODO MAIS DESAFIADOR, MAS A SINTONIA ENTRE PEDRO E JULIANA AJUDA O FESTIVAL A SEGUIR EM FRENTE

Nesses anos de trabalho, o casal foi buscando fazer a parceria funcionar, evitando grandes colisões entre a vida pessoal e a profissional. Juliana diz:

“Fomos construindo uma forma de dar certo, porque o Moto acaba sendo um projeto de vida, não é só o nosso trabalho”, diz Juliana. “Até quando a gente está de férias, viaja e vê alguma coisa legal, a gente pensa no Moto.”

Ajuda muito, segundo a produtora, a relação de confiança e admiração mútuas entre ela e o marido. Assim, conseguem dividir tarefas sem que um interfira no organograma do outro e sem gerar uma confusão de comandos:

“Não dá para fazer um evento – por menor que seja – sozinho. O propósito é o grande protagonista. A entrega de um entretenimento qualificado, de excelência, é o que permite que a gente avance a cada ano”

A pandemia, que inviabilizou o festival em 2020 e 2021, foi o maior desafio desde que assumiram o Moto Week. O período, porém, permitiu um tempo para avaliar o que não vinha funcionando, investir em pontos estruturais e em novas atrações. 

Em 2022, o Capital Moto Week voltou quebrando recordes de público, com 834 mil pessoas, cerca de 100 mil a mais que na edição anterior (em 2019). Essa marca voltou a ser superada em 2023, quando a 20ª edição recebeu 846 mil visitantes. 

“A nossa expectativa é sempre superar a edição anterior em questão de estrutura, bandas, logística, atendimento e experiências”, diz Juliana. E esse planejamento dura o ano todo. “Nesses dez dias [de evento] a gente já está construindo 2025.”

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