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Quer aprender a fazer – e vender – doces deliciosos sem glúten, leite, ovos ou açúcar branco? A Plantlife School ensina como

Dani Rosolen - 2 ago 2023
Carolina Yamamoto (à esquerda) e Manoela Braghini, fundadoras da PlantLife.
Dani Rosolen - 2 ago 2023
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Leite, ovos, açúcar, farinha de trigo, fermento… Estes parecem ser os ingredientes básicos para fazer um pão de ló. Mas a receita não serve, por exemplo, para o número crescente de brasileiros que descobre restrições alimentares, como intolerância à lactose e ao glúten, sofre de diabetes ou adere ao veganismo.

De olho nas necessidades deste mercado, Manoela Braghini e Carolina Yamamoto fundaram em 2020 a Plantlife School, escola online de confeitaria inclusiva que ensina receitas de doces plant-based, sem glúten ou açúcar branco, com opções low carb e ainda baby friendly (adoçadas com frutas).

Mais do que isso, no entanto, a escola ensina as pessoas a criarem seus próprios negócios nesta área e viverem disso. Em três anos, mais de 2400 alunas (90% são mulheres)  já passaram pelos cursos da Plantlife. Algumas já estão faturando 10 mil reais por mês. E nesta toada, a escola vai bem: pretende fechar este ano com faturamento de 2 milhões de reais.

PIVOTAR SEMPRE FOI O LEMA DAS FUNDADORAS

Mudar os planos não é algo que amedronte a dupla. Manu, 33, cursou administração, começou a carreira em um fundo de venture capital, até sair para empreender uma marca de cerveja, a Selva. Concomitantemente, fundou, em 2013, junto com a amiga Luiza Vortmann, a Holy Nuts, empresa de produtos à base de castanhas, como cremes e farinhas.

Ela acabou saindo da cervejaria para se dedicar a esse segundo negócio e iniciou ainda outra empreitada com Luiza, a do Holy Café, cafeteria que servia como uma vitrine para os mais diversos usos dos produtos da Holy Nuts e funcionava na Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo. O Draft já contou essa história até aqui em outra reportagem.

Foi neste ponto que sua trajetória cruzou com a de Carol, 30, que também não foge de uma transformação. Ela cursou engenharia por cinco anos, mas já no meio da faculdade percebeu que não queria seguir aquele caminho. Durante a graduação, começou a fazer doces tradicionais e, faltando dois anos para se formar, desistiu do diploma.

Carol sabia que provavelmente um curso de confeitaria ou gastronomia faria mais sentido para ela naquele momento, mas não tinha como arcar com os custos e decidiu primeiro experimentar na prática se aquilo funcionaria. Começou a distribuir currículos em cafés, até conhecer Manu, que estava contratando alguém para o atendimento do Holy Café, recém-inaugurado em junho de 2017.

O CAFÉ ASSUMIU UMA PEGADA PLANT BASED  E CAROL APRENDEU A CRIAR, DO ZERO, VERSÕES PARA RECEITAS DE DOCES DE SUCESSO

No começo, a proposta do Holy Café era realmente mostrar os diversos usos dos produtos da Holy Nuts e, como esses itens geralmente faziam sucesso em lojas de produtos naturais, o estabelecimento também oferecia apenas receitas sem glúten.

Além disso, só usava leites vegetais, à base de castanhas (claro), mas quando Manu se tornou vegana, em 2018, todos os produtos de origem animal foram excluídos do menu.

Apesar de ter entrado no Holy Café para fazer atendimento, na primeira semana, Carol já estava na cozinha, porque a chef oficial precisou passar por uma cirurgia. E, aos poucos, a nova chef (e também gerente) começou a criar versões 100% vegetais e inclusivas, testando novas receitas que tivessem a mesma qualidade de texturas e sabores dos doces tradicionais. Ela lembra:

“Foi um desafio, porque todos os nossos bolos tinham ovo. E o que a gente encontrava de receitas na internet era em blogs gringos, com ingredientes pouco acessíveis. Além disso, eu queria uma versão de brigadeiro, por exemplo, que fosse igual a feita com o leite de vaca, com sabor, para poder chamar de brigadeiro, porque sou muito exigente”

As duas começaram a pesquisar, testar e criar receitas do zero do dia para noite. Manu teve receio da aceitação dos clientes, mas se surpreendeu: “Cerca 90% do nosso público não era vegano e, no nosso brunch, o ovo mexido fazia muito sucesso”, diz.

“Mas a gente percebeu que foi uma bandeira que fez muita gente se identificar com o Holy. Pois vários clientes queriam ter uma alimentação mais natural, saudável ou tinham alguma intolerância alimentar” 

E aos poucos, quem ainda tinha preconceito sobre essa pegada mais inclusiva foi provando as criações do Holy Café, muitas também sem açúcar branco e low carb, e quebrando barreiras, com o brunch self service aos sábados mantendo-se como um sucesso total.

Biscoitos e chocolate veganos e sem glúten.

Durante a semana, apesar de ter salgados à disposição, o forte do Holy Café era a vitrine de doces. O sucesso e a demanda com o estabelecimento fizeram Manu abrir mão da Holy Nuts e, em consenso com Luiza, elas venderam a empresa, em 2018, para a Mais Mu, com a qual o negócio já tinha um colab em uma pasta de amendoim que levava o whey protein da startup. Na ocasião, Luiza também deixou de participar da sociedade na cafeteria.

JÁ ERA HORA DE UMA NOVA MUDANÇA: A PANDEMIA FEZ O CAFÉ PASSAR A VENDER DOCES E BOLOS CONGELADOS

O Holy Café ia bem até a chegada do coronavírus no Brasil, quando Manu decidiu que era melhor funcionar a portas fechadas, mesmo antes da pandemia ser decretada oficialmente no país. Na ocasião, lembra Manu, o estabelecimento já tinha vendido 300 ovos de Páscoa.

“Decidimos ir só nós duas lá entregar, de máscara. A gente não tinha noção do que estava acontecendo, mas sabíamos que precisaríamos daquele dinheiro”

Ela antecipou as férias dos funcionários (na época eram dez pessoas) e, para não ficarem paradas, junto com Carol, começou a oferecer doces e bolos congelados para a freguesia. “A Manu já tinha antecipado que aquilo não iria durar só 15 dias, ia ser um ano pelo menos de quarentena”, diz Carol. A ideia dos congelados era algo que já estava no radar antes, segundo Manu:

 “Eu queria aumentar o ticket do Holy, porque às vezes as pessoas vinham aqui tomavam um café e passavam à tarde inteira usando o wifi. Isso não era sustentável.”

A empreendedora criou então uma lista de transmissão pelo WhatsApp e começou a oferecer bolos e docinhos em porções menores, pensando em quem queria comemorar uma data especial no isolamento, só com quem estava em casa.

Para se adaptar a essa realidade e demanda, o cardápio do Holy Café foi reduzido bem como sua equipe, que além de Manu e Carol, passou a contar com apenas mais duas pessoas na cozinha.

“Em questão de quatro meses com os produtos congelados, a gente já tinha o mesmo faturamento de quando a cafeteria estava aberta – e com muito menos dor de cabeça”, diz Manu.

COM TEMPO SOBRANDO, ELAS COMEÇARAM A INVESTIR EM UM CURSO ONLINE. ASSIM, NASCEU A PLANTLIFE

Antes da pandemia, Carol chegou a oferecer alguns workshops presenciais de confeitaria inclusiva no Holy Café. “Eram turmas pequenas, com cerca de dez pessoas e duração de um dia”, afirma.

A dupla chegou inclusive a criar e-books e transformar uma sala de reunião em um estúdio improvisado, onde gravou algumas aulas para um curso que ficou pronto no comecinho de 2020. “Naquela época a gente decidiu gravar, mas nem sabíamos o que estávamos fazendo e não se vendia praticamente nada de cursos online”, conta Manu.

Aí, quando veio a pandemia e, com mais tempo sobrando, já que com os congelados, a cozinha e a gestão do estabelecimento demandavam menos, a dupla resolveu focar nisso.

“A gente resolveu melhorar esse curso, regravando todas as aulas, mudou o cenário, comprou outra câmera e foi estudar como vender esse novo produto. Assim, nasceu a Plantlife”

Entre equipamentos (alguns elas já tinham) e reformas, elas calculam que o investimento inicial no novo negócio, que foi sendo tocado em paralelo ao café, foi de 10 mil reais. O primeiro curso lançado, a Formação Plantlife, é focado em quem quer ter o próprio negócio de confeitaria com produtos plant-based, sem glúten, sem açúcar branco, com opções baby friendly (adoçadas com frutas) e low carb.

Nos 18 módulos, as alunas aprendem desde teorias essenciais sobre todos os ingredientes da confeitaria inclusiva (mix de farinhas, substitutos de ovos, frutas para adoçar, leites vegetais, tofu, aquafaba etc.), os equipamentos adequados até as receitas em si.

“Eu sabia que gostava de cozinhar, mas com os cursos, percebi que também gostava de ensinar e conseguia fazer com que as pessoas entendessem o que eu estava querendo dizer, porque isso eu acho que é o mais difícil, né?” 

São mais de 300 criação de bolos, doces de festa, tortas, cookies e biscoitos, sobremesas e sorvetes. Há ainda um bônus, um minicurso de pães. Toda essa parte fica por conta de Carol, que leva para as alunas muitas das receitas que já faziam sucesso no Holy Café, como o pão de melado e a banoffee.

MAIS DO QUE SABER FAZER RECEITAS, É PRECISO ENTENDER COMO VENDÊ-LAS E ADMINISTRAR UM NEGÓCIO

O curso não fica só na parte das receitas. Durante os anos de funcionamento do café, as empreendedoras já tinham passado por um negócio com portas abertas, feito coffee break para empresas, delivery, tido uma food bike no estacionamento de um prédio, enfim, “passado por muitas experiências”, como resume Manu:

“A gente percebeu que quem queria trabalhar com isso não fazia a menor ideia de por onde começar, tanto na parte de receitas quanto na de vendas. Então, às vezes, a pessoa ia lá no café falar que ia abrir uma marca, começar em casa mesmo e se a gente topava conversar”

Assim, Manu resolveu colocar essa parte de gestão, sua especialidade, dentro do curso de formação, trazendo ferramentas para as alunas estruturarem e administrarem um negócio lucrativo.

As gravações trazem conteúdo sobre branding e posicionamento, fotografia de produto, redes sociais, atendimento ao cliente e vendas, precificação, gestão financeira, tabela nutricional e rotulagem, entre outras questões.

O curso de formação, que este ano foi credenciado pelo MEC como uma extensão universitária através da Faculdade de Brasília, custa 12 parcelas de 146 reais. Mesmo as aulas não sendo ao vivo, as alunas podem mandar suas dúvidas e interagir com as professoras na própria plataforma da Hotmart, onde as aulas estão hospedadas.

MUITAS EX- ALUNAS JÁ CRIARAM O PRÓPRIO NEGÓCIO E ALGUMAS ESTÃO FATURANDO 10 MIL REAIS POR MÊS TRABALHANDO DE CASA

Carol conta que 40% das alunas que começam a formação já trabalham com confeitaria e 40% querem trabalhar e, por isso, iniciam o curso.

A Plantlife tem alunas do Brasil inteiro que já conseguiram largar o emprego para se dedicar à confeitaria, algumas já estão faturando 10 mil reais por mês trabalhando sozinhas da própria casa, segundo as fundadoras. Carol cita como um desses casos a empreendedora da Piná Vegana, de São Paulo, que começou seu negócio há cerca de um ano.

“A Graci Palma trabalhava como advogada e não estava muito feliz. Na pandemia, ela foi demitida e acabou entrando no curso. Depois, montou uma cozinha separada para o negócio dentro do apartamento dela e esses dias me mandou uma foto mostrando que já está com quatro ou cinco geladeiras”

Segundo Manu, muitas alunas dão o pontapé em seus negócios com um capital de 5 mil reais. “A gente sempre fala que dá para começar com um liquidificador simples. Depois, elas vão nos atualizando dos equipamentos profissionais que compraram e a gente fica super feliz. A Graci é um exemplo disso.”

Outros casos de ex-alunas mencionados pelas empreendedoras da Plantlife são o de Victoria Na lon, do Sababa, também de São Paulo, “que também era advogada e começou na cozinha da casa onde vivia com a família, e este ano foi para um espaço separado, com bancada de inox, geladeira, tudo bem organizadinho” e o de Maíra Normande, do Moa Cozinha Natural, de Maceió.

“A grande maioria das alunas que a gente tem contato trabalha de casa. Muitas conseguem fazer essas adaptações, alguns investimentos em freezer, por exemplo, e a maioria quer continuar de casa, porque têm filhos, não quer ter que abrir um estabelecimento todo dia”, diz Manu. Ela acredita que o direcionamento dado no curso leva as alunas a escolher esse caminho:

“Sabemos, por experiência própria, que ter uma loja significa estar de portas abertas aos fins de semana. Muitas alunas chegam no curso idealizando uma cafeteria, mas mudam de ideia e vão para essa parte dos congelados, de ter menos perda, de fazer os produtos para eventos e conseguir ter uma programação mais tranquila, qualidade de vida”

As próprias empreendedoras da Plantlife abriram mão do Holy Café em agosto do ano passado, depois que a escola engrenou e sobrou pouco tempo para Carol se dedicar à cozinha do estabelecimento e Manu à gestão. Elas entregaram o ponto na Vila Madalena e alugaram uma casa, em Pinheiros, que serve de escritório e estúdio de gravação.

ALÉM DA FORMAÇÃO, ELAS OFERECEM UMA VERSÃO PARA AMADORES, CURSOS AVULSOS, LIVES E PLANEJAM UMA VERSÃO DO CURSO EM INGLÊS

Como nem todo mundo quer se profissionalizar e criar o próprio negócio, as empreendedoras também oferecem uma versão mais enxuta do curso, o Plantlife Amador, sem as aulas de gestão, planilhas de precificação, informação nutricional, controle de encomendas e gestão financeira. Apesar de incluir um certificado digital, a versão amadora não conta com o certificado do MEC. O custo é de 12 vezes de 98 reais.

Bolo de maçã e nozes.

Caso o interesse da aluna seja ainda mais específico, ela pode comprar cursos avulsos, como o Plantlife Baby (com receitas de doces baby friendly), que sai por 12x 73 reais. E agora, em agosto, elas devem lançar o Plantlife Zero, apenas com receitas zero açúcar.

Além disso, todas as quartas-feiras, Carol apresenta uma live com uma receita nova, que fica disponível por 24 horas no canal do YouTube da Plantlife e depois é adicionada aos cursos de formação e amador, atualizando o conteúdo.

“A gente fica de olho nas demandas das alunas ou se surgiu um ingrediente novo. Entendemos também que acontecem mudanças no mercado, por exemplo, antes todo mundo queria receitas com xilitol, agora ninguém mais quer, então vamos estudando e testando outras receitas”

Elas também aproveitam essas lives para atender demandas de receitas vindas de alunas ou captar novas interessadas no curso. No momento, diz Manu, essa é a meta: aumentar a visibilidade da escola, alcançando mais pessoas.

“E, futuramente, talvez, a gente pense em gravar algo em inglês, para começar a atingir o mercado de fora, mas provavelmente o modelo de negócio vai se manter digital”

Escola física, a princípio, não é mais uma opção: “Para a gente é melhor assim em termos de rotina, de custos fixos e até para as alunas. Quando, num curso presencial, elas iriam conseguir aprender 300 receitas? Seria impossível!”

DRAFT CARD

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  • Projeto: Plantlife School
  • O que faz: Escola de confeitaria inclusiva online
  • Sócio(s): Carolina Yamamoto e Manoela Braghini
  • Funcionários: Apenas as sócias
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2020
  • Investimento inicial: cerca de R$ 10 mil
  • Faturamento: R$ 2 milhões (previsão para 2023)
  • Contato: [email protected]
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