O compartilhamento de receitas por WhatsApp durante a pandemia virou rotina para muitas pessoas, que impossibilitadas de sair para comer fora, decidiram se arriscar na cozinha – algumas obrigadas; outras surpresas por descobrirem novos dons.
Claudio Gandelman, 52, faz parte desse grupo. Embalado pela brincadeira entre amigos, no final de 2020, ele teve a ideia de usar uma tecnologia que estava testando na época para facilitar essa troca e ainda gerar receita – financeira –para quem sabe cozinhar, seja essa pessoa um chef profissional ou amador.
Assim, em maio de 2021, ele lançou o DeliRec, um misto de buscador de receitas e de rede social, onde cozinheiros podem monetizar esse talento de diferentes formas. De cara, o negócio chamou atenção do fundo Astella, que investiu 1,2 milhão de dólares em uma rodada pré-seed e mais 2,2 milhões de dólares, em uma seed.
Hoje, a plataforma, que pode ser acessada tanto pelo aplicativo quanto via web, conta com 50 mil receitas cadastradas em 14 categorias (como doces, lanches, molhos, massas, carnes, veganos etc.). E adivinha qual a receita mais acessada?
“São as que ensinam a fazer arroz… Por incrível que pareça, as pessoas não sabem fazer arroz”, diz Claudio. “Temos desde receitas muito básicas a mais rebuscadas. Mas a categoria mais buscada é a de doces e sobremesas.”
O DeliRec já soma 7 mil cooks — como são chamados os cozinheiros criadores de conteúdos, que compartilham o passo a passo das receitas acompanhado de fotos ou vídeos.
“Temos desde nomes estrelados como Janaína Rueda e Pedro Artagão até a dona de casa que sabe preparar algo especial e pode contar com a plataforma como forma de geração de renda”
Em termos de usuários, o DeliRec já está quase em 1 milhão de pessoas, que podem apenas espiar as preparações ou se inscrever para interagir, curtir, compartilhar, seguir e salvar as receitas. E claro, se quiserem, também virar cooks.
Esse crescimento relativamente rápido da base tem relação com as experiências anteriores de Claudio no mundo dos negócios. Na cozinha, diga-se de passagem, ele não é o melhor da família:
“Eu adoro pôr a mão na massa, mas na minha casa temos um problema sério. Somos em quatro irmãos, dos quais dois são chefs, então, eu sou o que cozinha pior”, diz Claudio. Mesmo assim, ele não se intimida em compartilhar algumas receitas em seu perfil na própria rede social.
Economista de formação, Claudio chegou a trabalhar no mercado financeiro, mas desde 1998 se dedica a empreender na internet. “Quando comecei, isso não era nem mato, era só terra, o mato não tinha crescido ainda. Vivi a primeira bolha, por isso não me assusto mais com nada”, diz.
Sua primeira empresa foi um classificado digital, o Keero, fundado em 2003, junto com Maurício Bastos, da área de tecnologia, que hoje também é fundador do DeliRec. Depois, Claudio se tornou sócio da Ágora, vendida para o Bradesco. Com a aquisição, a ideia era ficar no banco, mas recebeu uma proposta para se tornar presidente do Match.com da América Latina, dono de marcas como Tinder e Par Perfeito. “Brinco que sai do mercado financeiro para vender amor.”
Ele ficou no Match.com por cinco anos até que resolveu sair para montar um negócio que, na época, não tinha ideia, já era uma espécie de embrião do DeliRec. Mas, como gosta de dizer, “chegou cedo demais para a festa”:
“O Teckler era um negócio para criadores de conteúdo postarem fotos, vídeos e áudios e ganharem dinheiro com isso, só que em 2013 essa ideia era muito nova, não consegui investimento e quebrei”
Voltou a ser executivo, desta vez como VP de Marketing na Oracle, mas aí já era tarde: “Eu tinha sido picado pelo bichinho do empreendedorismo. Fiquei nove meses lá, não me adaptei à cultura e resolvi fazer investimentos-anjo, mas descobri que gosto mesmo é de operar empresas.”
Enfim, em 2018, ele montou outro negócio, também com Maurício, a Auti Books, plataforma de audiobooks, que continua em operação.
Com as experiências anteriores, em especial levando em conta a frustração com o negócio que não tinha dado certo (de compartilhamento de fotos, vídeos e áudios), Claudio acumulou aprendizados importantes para formular o modelo de negócio do DeliRec. E não apostou suas fichas em uma, mas em quatro formas de gerar renda para os cooks – os criadores de conteúdo – e, consequentemente, para sua empresa.
Na primeira delas, uma inteligência artificial conectada à plataforma mostra quais utensílios são utilizados na preparação apresentada pelos cooks e o usuário pode visualizar esses acessórios dentro da própria página da receita.
Se quiser comprar, ele é redirecionado para marketplaces parceiros, como Americanas e Mercado Livre – hoje são 160 e-commerces.
Se o usuário, de fato, efetuar a compra, o chef fica com 40% do que o DeliRec recebe pela transação. A segunda frente é a de ingredientes.
“Estamos testando esse modelo no Rio de Janeiro, com o supermercado online Zipp. As pessoas podem encomendar os ingredientes que precisarão para aquela determinada receita e, do mesmo modo, o chef fica com 40% do que a startup receber”
A ideia é expandir esse modelo para o resto do Brasil até o fim do ano. Já a terceira alternativa é a venda do produto “Meu Menu”, em que o usuário recebe um menu semanal (apenas as indicações de receitas) elaborado por nutricionistas para ajudá-lo na organização de suas refeições diárias, incluindo café da manhã, almoço e jantar.
Os menus são divididos em prático (menos de 30 minutos de preparo), econômico (com reaproveitamento de ingredientes e levando em conta itens da estação) e saudável (cardápios leves e equilibrados).
“A proposta do ‘Meu Menu’ é resolver aquela dor de cabeça de pensar o que vou cozinhar esta semana”, diz o CEO. Neste modelo, a receita fica integralmente com o DeliRec, pois o produto não tem relação com os cooks.
Por fim, a quarta frente é um modelo que, segundo Claudio, representa uma nova fórmula para as marcas se inserirem dentro da criação de conteúdo, diferente do que é ofertado hoje em plataformas como Instagram e TikTok.
“O que se vê nessas redes são publicidades pueris, de 15 ou 30 segundos e que morrem em 24 horas. Já no DeliRec, a marca ‘compra’ um determinado número de criadores de conteúdo e a gente repassa 80% do valor pago a eles.
A ideia, diz Claudio, é que esses cooks usem a marca e seu produto para fazer a receita. “A publicidade dura 30 dias e a receita fica para sempre na nossa plataforma.”
Os cooks também recebem um valor do DeliRec para comprar os ingredientes que usarão e incentivos extras, conforme o engajamento que suas postagens tiverem. O primeiro contrato deste tipo foi fechado em novembro com a Mil Frutas, de sorvetes. Foram escolhidos 15 cooks que tinham um perfil adequado para a proposta da marca e cada um ficou encarregado de desenvolver uma receita com um dos produtos da sorveteria.
A partir daí, surgiram preparações como crepe, cookie, brownie, coupe de frutas vermelhas e torta de sorvete. Todas elas levaram a marca d’água da marca patrocinadora e foram divulgadas nos perfis dos cooks, reunidas em um perfil exclusivo do parceiro, compartilhadas na newsletter da startup e em suas redes sociais. Neste mês, o DeliRec se prepara para começar outra campanha com a Pangeia, marketplace de produtos sustentáveis.
Pode parecer que o DeliRec não enfrentou dificuldades na sua trajetória ao captar logo de cara com um fundo como a Astella. Mas Claudio explica que não foi bem assim.
“Minha história com a Astella começou em 2010. Eu e Edson [Rigonatti, sócio do fundo] fazíamos parte do conselho de uma empresa da Endeavor. Em 2013, quando montei o Teckler, a Astella estudou investir, mas não rolou. Depois na Auti Books, também cogitaram fazer um aporte, mas como tínhamos muitos sócios, optaram por não investir. Agora, pode até ter parecido fácil, mas desde nosso primeiro contato, passaram-se dez anos!”
E se for falar de tropeços no caminho, o empreendedor diz que a lista é grande…
“Quando sai do Match, por exemplo, para fundar o Teckler, queria usar o estado da arte e contratei o mesmo advogado da multinacional para fazer o contrato social da minha startup. Só que a diferença é que a conta estava sendo paga do meu bolso…”, lembra. E complementa:
“Erramos muito quando somos funcionários e viramos empreendedores. A gente acha que o empreendedor é o dono do próprio nariz — mentira. Nosso chefe é o cliente e ele é muito mais duro que o próprio chefe, porque vai embora sem nem te dar tchau”
Pelo menos, os erros anteriores ajudaram a construir uma trajetória mais linear com o empreendimento atual, que acaba inclusive de se internacionalizar. A plataforma, web e app, foi traduzida no começo de novembro para outras cinco línguas – alemão, espanhol, francês, inglês e italiano.
Claudio está otimista e aposta que público não vai faltar, afinal, os idiomas podem até ser outros, mas o hábito de cozinhar, trocar receitas e se reunir em volta da mesa para comer e conversar cruza qualquer fronteira.
No ano passado, só a cidade de São Paulo registrou quase 450 mil casos de roubos e furtos. A startup Gabriel desenvolve câmeras e sistemas de monitoramento para identificar veículos irregulares e fornecer inteligência ao poder público.
A venda direta ainda engaja milhões de pessoas no Brasil, sobretudo mulheres. Com um aplicativo e centenas de produtos no catálogo, a Vendah fornece uma alternativa para quem busca complementar sua renda sem precisar sair de casa.
Tem dias em que as vendas vão mal. E se fosse possível oferecer esse estoque de outro modo, para um novo público? Saiba como a XporY facilita permutas de produtos e serviços entre empresas e indivíduos, de forma multilateral.