Lembra quando você era criança e plantava feijõezinhos num algodão? Parecia simples, né? Em mais ou menos três dias, a raiz começava a aparecer e estava feita a felicidade da pequena jardineira ou do pequeno jardineiro.
Mas na prática não é tão fácil cultivar uma planta ou uma horta, ainda mais na cidade, em espaços fechados como apartamentos. Ou a gente coloca água demais, ou de menos. Falta sol, ou a iluminação acaba sendo em excesso…
São essas variáveis que a Brota Company quer ajudar a “controlar”, permitindo que qualquer um consiga plantar em casa, sem gastar muito tempo ou ter conhecimento prévio.
A horta inteligente e autônoma da startup parece uma caixinha de plástico com seis compartimentos onde são inseridas cápsulas com as sementes das plantas.
O produto foi lançado em junho — um timing oportuno já que, com mais tempo em casa devido à pandemia, as pessoas estariam mais interessadas em jardinagem. Até aqui, em quatro meses, foram 8 mil unidades vendidas para diversos cantos do Brasil.
AS PESSOAS QUEREM PLANTAR EM CASA, MAS…
A ideia surgiu na cabeça do estudante de Engenharia Rodrigo Farina, 22, hoje CEO da Brota, no fim de 2019, quando ele participou do TechCrunch Disrupt, festival de inovação e tecnologia realizado em São Francisco, na Califórnia.
Um dos temas discutidos no evento era a mudança no processo de produção de alimentos com o crescimento da agricultura urbana, que é tendência por lá.
De volta ao Brasil, Rodrigo se reuniu com dois amigos do curso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bruno Arouca e Juan Correa, ambos de 22 anos.
“Começamos a nos questionar se o Brasil estava caminhando na mesma direção”, diz Rodrigo. “A gente não sabia a resposta e decidiu realizar um estudo com consumidores e agentes desse ecossistema.”
Em novembro do ano passado, após ouvirem mais de 500 pessoas por meio de uma pesquisa online, os estudantes descobriram que a maioria tinha interesse em cultivar uma horta urbana. Para 73%, a falta de tempo era motivo para adiar a ideia; 61% afirmavam não ter habilidade para isso; e 54% não tinham espaço suficiente.
“Eu era uma dessas personas da pesquisa que gostaria de plantar, mas não tinha nenhum conhecimento sobre o que fazia e acabava matando as plantas. Já o Juan sempre teve o hábito de cultivar em casa por ser vegetariano, mas dizia que gastava muito tempo da rotina com isso — e mesmo assim não dava tão certo”
O trio decidiu então criar uma solução tecnológica que incentivasse as pessoas a plantarem em casa. Assim, a Brota começava a germinar.
COMO FUNCIONA A TECNOLOGIA POR TRÁS DA HORTA INTELIGENTE
Rodrigo conta que a primeira questão a que os sócios se dedicaram foi como resolver o aspecto do tempo exigido pela horta.
“A rotina das pessoas é muito corrida, então às vezes elas acabam não priorizando algumas tarefas, como lavar a louça… Só que as plantas, diferentemente dos pratos, não podem ficar esperando muito tempo para receber água.”
Os sócios aproveitaram a tecnologia natural da planta, de “saber” nivelar a quantidade de água de dentro e de fora dela, para criar um filtro de algodão que mantém o ritmo de irrigação.
Com isso, o “agricultor urbano” só precisa colocar água na sua Brota a cada 25 dias (há um indicativo do nível de água para o cliente saber até onde encher).
Em seguida, diz Rodrigo, o trio de empreendedores focou em como simplificar o processo.
“O principal exemplo que tínhamos de praticidade é a cápsula de café. Transferimos isso para o nosso produto, colocando em um espaço compactado um pedaço de solo ideal, com proporções calculadas de terra, nutrientes, oxigenação, pH e sementes selecionadas — sem pesticidas, fungicidas ou hormônios”
Ao criar um solo personalizado para cada semente, os empreendedores acabaram entregando também um sistema que permite à planta crescer, em média, cinco vezes mais rápido.
“Uma semente geralmente demora 14 dias para nascer. Mas em três dias, com a Brota, ela já está germinando.”
Por fim, para resolver a questão da falta de espaço, os sócios investiram no design do produto, com uma pegada minimalista e decorativa. A Brota é feita de plástico reciclado, com 20 centímetros de comprimento por 20 de largura e 8 cm de altura.
“Geralmente uma horta tradicional ocupa um lugar muito periférico da casa, uma beirada da janela, por exemplo. Mas pensamos em construir um produto tão bonito a ponto de ocupar um espaço decorativo. Hoje nossos clientes colocam a Brota em cima da mesa da sala, ou em uma estante… E a horta passa a ocupar um local de destaque.”
OS CLIENTES PRECISARAM ACREDITAR NA IDEIA PARA QUE ELA SE MATERIALIZASSE
Os sócios conseguiram desenvolver, junto com uma bióloga e uma engenheira de alimentos, um protótipo em impressão 3D e testá-lo com consumidores beta. Mas ainda não tinham dinheiro para produzir em escala industrial.
Decidiram então oferecer a Brota em um sistema de pré-venda por meio de uma campanha de crowdfunding no Catarse.
A meta era que, em 45 dias de campanha (lançada em 1º de junho), fossem vendidas 650 Brotas por 179 reais.
Em apenas três dias, eles já tinham superado essa projeção, alcançaram 446% da meta inicial. Ao final dos 45 dias, foram 3 mil Brotas vendidas, totalizando 535 842 reais.
“Com o dinheiro, pudemos alugar nosso galpão [o imóvel fica em Santo Cristo, no Rio], desenvolver nosso processo produtivo e ganhar escala”, conta Rodrigo.
Assim, as Brotas começaram a ser produzidas por injeção a plástico e entregues aos compradores em setembro, junto com seis opções de cápsulas escolhidas pelo cliente. Após o crowdfunding, a horta inteligente e as cápsulas passaram a ser vendidas em um e-commerce por 225 reais (depois da compra, a entrega é feita em 15 dias úteis).
São 12 versões à venda, cada uma com um tipo de semente: alecrim rosmarinho, alface baby leaf, camomila-húngara, cebolinha verde, coentro português, hortelã, manjericão italiano, orégano bravo-europeu, pimenta calabresa, rúcula rokita, salsa hortense e tomilho serpilho.
Ao fim do ciclo de cada planta (o alface e a rúcula duram duas colheitas; os temperos, cerca de quatro meses), o consumidor precisa trocar a cápsula.
Não é necessário comprar uma nova estrutura de plástico — apenas o refil, com a terra compactada, que vem no formato de uma pedra e se dissolve quando colocada na estrutura da Brota junto com água. O kit, com três refis, custa 10 reais.
E SE A BROTA NÃO BROTAR?
Seguindo o passo a passo — ou seja, encaixando as cápsulas na Brota, regando a cada 25 dias e mantendo a horta em um local com sol em abundância –, o agricultor urbano não precisa fazer mais nada. Apenas esperar a plantinha crescer.
Rodrigo alerta, porém, que pode sim acontecer de a semente não vingar:
“Risco sempre existe, afinal a planta é um organismo vivo e pode acabar não se desenvolvendo por motivo desconhecido… O que a gente faz é minimizar a chance de erro por fatores externos”
Além de a tecnologia ajudar nesse controle de variáveis, a Brota oferece um suporte técnico com 11 pessoas que tiram dúvidas de clientes por e-mail, Instagram e WhatsApp.
Em caso de emergência, por exemplo se o seu pet derrubar a Brota no chão (ou o seu coelho comer a plantinha, como aconteceu com um cliente…), a startup envia um kit SOS com sementes extras para dar uma segunda chance à horta.
A COVID ACELEROU O CULTIVO EM CASA — E ESSE DEVE SER O “NOVO NORMAL”
Rodrigo acredita que o isolamento social acelerou o interesse das pessoas por plantarem seu próprio alimento. Seja pela busca de alternativas mais sustentáveis e saudáveis de consumo, seja apenas como um hobby.
Por outro lado, criar o negócio em meio à pandemia foi desafiador. “Desenvolver uma indústria do zero sem poder estar presencialmente na fábrica e tendo que fazer testes de interação com o cliente de forma remota foi bem doloroso”, diz.
O trio da Brota crê que o interesse pelas hortas urbanas só tende a crescer, mesmo quando a Covid-19 estiver superada. Os sócios preveem lançar mais duas cápsulas ainda em 2020: uma de tomate cereja e outra de sálvia. Segundo Rodrigo:
“Atingimos menos 1% do que somos capazes com o nosso investimento em marketing, de 120 mil reais. Nossa meta é que, no próximo ano, possamos alcançar dez vezes mais. Para isso, queremos captar cerca de dez vezes o valor que já investimos”
Os planos vão além. A ideia é conquistar uma presença mais forte no prato dos consumidores.
“Hoje ocupamos um espaço acessório, mas pretendemos assumir cada vez mais protagonismo na alimentação, com novos tipos mais robustos de hortas indoor e outdoor“, diz Rodrigo. “Assim, queremos promover a independência alimentar, permitindo às pessoas plantarem tudo o que consomem.”
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