Foi a partir de uma necessidade pessoal que o casal Thaís Almeida, 35, e Victor Ramos, 31, vegetarianos há sete anos, percebeu que faltava no mercado nacional uma ração que atendesse às necessidades de quem quer estender aos animais de companhia a preocupação com um estilo de vida mais saudável e natural. Há três meses, quatro anos após terem criado a VegPet, um e-commerce de produtos 100% vegetais, cruelty free (não testados em animais) e biodegradáveis para pets, eles lançaram o primeiro produto próprio: a Bicho Green, uma ração para cães e gatos totalmente vegetal.
Foi um acerto: a demanda existia e, já na primeira semana, o produto alcançou um volume de vendas de quase duas toneladas. Hoje, já representa 50% do faturamento da VegPet. Segundo Victor, a expectativa é fechar este ano com um faturamento 40% superior ao do ano passado, que foi de 1,2 milhão de reais. Se depender do crescente número de adeptos do vegetarianismo, Victor pode ficar tranquilo. De acordo com a Sociedade Brasileira Vegetariana, a cada semana duas mil pessoas se juntam aos mais de 30 milhões de brasileiros que se declaram vegetarianos, conforme dados recentemente divulgados pelo IBGE.
ELES ERAM SÓ DISTRIBUIDORES, ATÉ CRIAREM UM PRODUTO CONCORRENTE
Embora a Bicho Green só tenha chegado ao mercado recentemente, a busca do casal por uma ração vegetariana começou há bem mais tempo. Em 2013, depois de muita pesquisa, Victor encontrou, no interior de São Paulo, uma ração desse tipo para cães: a FriDog, produzida pela Trouw Nutrition. “Era, na verdade, uma fábrica de insumos para animais de criação, que tinha a ração vegetariana como um subproduto. Eles não estavam preocupados em distribuir, você podia ir lá e comprar, mas não encontrava em nenhum outro lugar”, conta.
Ele prossegue: “Fui até lá e comprei ração suficiente para alimentar meus dois cachorros por um ano. E como percebemos que, da mesma forma que nós, outras pessoas também podiam estar em busca desse tipo de produto, resolvemos criar um site para comercializá-lo”.
Nessa época, Victor, que é engenheiro de software ainda trabalhava em empresas de tecnologia e Thaís, que é bióloga, mas acabou fazendo carreira em bancos, atuava no setor financeiro de uma ONG. “A VegPet começou assim, como um e-commerce para distribuir a ração produzida por outra empresa. Investimos 1.800 reais para botar a plataforma no ar e, no final de 2014, já tínhamos uma média de 20 a 30 pedidos por mês”, conta o empreendedor. Em março de 2015, os dois decidiram abandonar suas outras atividade para se dedicar 100% à VegPet. “Foi um ano em que a gente estudou muito, fizemos cursos, entendemos o mercado, diversificamos o leque de produtos oferecidos no site e fechamos o ano com 400 mil reais de faturamento”, diz.
Percebendo o giro do produto, em 2015, eles propuseram um contrato de exclusividade com a Trouw Nutrition para distribuição da FriDog. “Com certeza, hoje o produto só é conhecido porque fizemos todo o investimento de marketing. A ração existia desde 1998 e foi desenvolvida por um veterinário chamado Walter Albuquerque, que hoje tem 92 anos. Ele foi muito visionário em prever essa mudança, 20 anos atrás.”
Após formalizarem a parceria, a dupla achou que era o momento de ir atrás de investimento para fazer o negócio crescer.
Eles montaram, então, um plano de negócios e acionaram todos seus contatos. “Foi aí que entraram dois sócios mentores no negócio, o Sandro Magaldi, que é super conhecido no mercado de startups, e o Benício José de Oliveira Filho, da Ravel. Além disso conseguimos captar 300 mil reais com nossa rede de relacionamento e com o Fundo Bossa Nova”, conta Victor.
Com a mentoria e o dinheiro na mão, os dois decidiram que era hora de colocar em prática todos os feedbacks e sugestões que os clientes tinham sugerido sobre a ração ao longo dos últimos anos para trabalharem no lançamento de um produto próprio aprimorado e que atendesse também aos gatos. E foi o que eles fizeram.
Lançada em duas versões, uma para cachorros (29,90 reais) e outra para gatos (39,90 reais), a Bicho Green não possui corantes ou antioxidantes artificiais em sua fórmula e é feita totalmente com proteína vegetal. Leva ômega 3 e 6, vitaminas, pré e probióticos, milho, arroz quebrado, levedura, linhaça, beterraba, urucum e farinha de algas. Já a versão felina contém aminoácidos como taurina, metionina e lisina, essenciais para esses animais e sintetizados a partir de proteínas vegetais. Nos dois casos, farelos de trigo, soja e arroz substituem a quantidade de nutrientes encontrados nas versões tradicionais, feitas a partir de vísceras e restos de carne. “No ritmo que estamos, a gente espera, até o final do ano, recuperar o investimento feito para desenvolver o produto. Existe um mercado gigante pra esse nicho e precisamos conseguir manter essa posição de liderança”, diz Victor. Ele ainda afirma:
“Sabemos que somos uma referência e isso faz com que outros queiram copiar nosso negócio, mas estamos nos preparando para ter concorrência”
Aliás, mesmo tendo lançado um produto concorrente da primeira ração que inicialmente deu origem ao negócio, Victor conta que a relação com Trouw Nutrition continua boa: “Ainda vendemos a FriDog no site e não pretendemos deixar de vender”. Segundo ele, a empresa atende outros mercados e ainda considera o segmento pet como um subproduto, não sendo esse o core business do negócio.
NOS PLANOS FUTUROS, UM ESPAÇO FÍSICO E FORMAÇÃO PARA PET SHOPS
Com produtos de alimentação, comportamento, cuidados e higiene, a VegPet tem hoje dois canais de venda: o e-commerce, voltado para o consumidor final, e a distribuidora, que vende para lojas e petshops. São quase 6 300 usuários cadastrados no e-commerce e mais de 60 lojas revendedoras.
Victor fala que a plataforma vende exclusivamente produtos que, na concepção do casal, são saudáveis e ecológicos, ou seja, feitos a partir de uma fonte vegetal e biodegradáveis. A seleção dos fornecedores passa pela avaliação dos sócios, mas também pelos pets do casal, Rufus e Frodo. “Se eles não gostarem, a gente não vende.”
Atualmente a operação é toda online, mas Victor tem planos de abrir uma loja física no futuro. “A gente pensa em uma loja conceito”, diz. Os planos incluem ainda um clube de assinaturas, que deve ter um modelo até o final do ano, e uma plataforma de inbound marketing voltado para o mercado B2B, prevista para ser lançada mês que vem.
“Nossa ideia é trabalhar com o conceito de educação nessa área de marketing, com dicas de como organizar o pet shop, como precificar os produtos, e criar uma estratégia para as lojas e as revendas, focando em um conteúdo que possa ajudar o negócio deles.”
Embora a VegPet trabalhe apenas com produtos de origem vegetal, Victor conta que o público da loja não se restringe apenas a veganos e vegetarianos. “A maioria dos clientes são pessoas que se preocupam com a saúde e o bem-estar dos animais e tem essa preocupação com um processo de humanização do pet.” Ele continua:
“Vegetarianos e veganos automaticamente simpatizam com a marca, mas queremos atrair pessoas que, de forma geral, se preocupam em consumir produtos saudáveis e querem expandir esse mesmo estilo de vida para seus pets”
Olhando para trás, Victor comemora as conquistas dos últimos quatro anos, mas já consegue ver com clareza o que teria feito diferente. “Se eu estivesse começando um negócio, hoje eu não construiria algo em que eu ficasse na mão de um único fornecedor, pois tivemos muitos desafios por conta disso no começo. Da mesma forma, eu não ficaria refém de um único cliente grande responsável por quase todo o faturamento. São coisas que fragilizam demais o negócio”, diz.
Para quem está pensando em empreender, Victor dá um conselho: “Tenha foco e não descuide do operacional, pois é isso que vai ditar o dia a dia. Você pode ter uma ideia excepcional, um produto único, mas se você não conseguir dar conta o operacional, trazendo receita, o negócio não se sustenta”. Agora, já com todos esses aprendizados em mãos, ele e a sócia seguem firmes pensando em como satisfazer ainda mais os pets (e seus humanos).
Nossa vida ultraconectada gera uma montanha de lixo eletrônico. Diante desse cenário, Rodrigo Lacerda criou a Händz, que produz cabos, carregadores, fones e caixas de som com materiais como algodão, bambu, cortiça e grãos de café.
Os irmãos Bruno e Thiago Rosolem queriam levar mais brasilidade ao mercado plant-based, mas não sabiam como. Até que um hit de Alceu Valença trouxe a resposta: aproveitar uma matéria-prima desprezada pela indústria, a fibra do caju.
O luto ainda é um grande tabu. Para ajudar tutores a superar a morte de seus pets (ou mesmo mães e pais que lidam com a perda de um filho), a artesã Malu Límoli cria delicadas “joias afetivas” que encapsulam e eternizam amostras de DNA.