Nos negócios, não é preciso ser inteligente.
Não é bom abraçar a complexidade. É melhor ser prático.
Quem pensa muito acaba se apaixonando pelo problema. E em negócios é preciso se apaixonar pela solução.
Gente de negócios não problematiza. Gente de negócios simplifica.
Deixe de lado as grandes reflexões. Será muito mais relevante aprender a atuar com o instinto. Identificar o cheiro do sangue. E voltar para casa com a caça.
Empresa não é lugar para gente que fica a todo momento buscando uma entrelinha, um segundo sentido, uma nova leitura. É preciso rodar bem; ficar reinventando a roda é contraproducente
Não é desejável voar a grandes altitudes, com amplitude de visão. Faz mais sentido manter o voo rasante, com pleno descortino do terreno, de olho onde estão as caças e os predadores, os penhascos e as fontes de água.
Não é bom sofisticar. É mais importante fazer o simples bem feito.
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Em negócios, você não precisa ser genial. O que você precisa é resolver problemas para alguém que esteja disposto a pagá-lo por isso.
Trata-se daquela velha proporção: 5% inspiração, 95% transpiração. Você também já ouviu isso antes: uma ideia brilhante mal executada vale muito pouco perto de uma boa ideia executada excepcionalmente. Pois é. É tudo verdade.
Então não é preciso ser esperto. É preciso enxergar o óbvio.
E é preciso agir. Negócios são o ambiente de quem faz. Não de quem apenas sonha, imagina, planeja, pondera – mas sim de quem realiza.
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A autoconfiança é uma qualidade muito mais decisiva para o empreendedor do que a capacidade de analisar dialeticamente a situação.
No empreendimento, a resiliência também será um pré-requisito. A capacidade de ouvir um bocado de nãos, incorporá-los à caminhada e seguir acreditando. (Tanto na empresa quanto em você mesmo.)
Não dá para parar a toda hora para (se) questionar. É preciso aprender sempre, claro. Mas com um vetor claro de ir adiante, superar obstáculos, manter-se em movimento. (Inclusive para não precisar pensar muito.)
Em negócios é preciso tomar gosto por tomar riscos. Aprender a viver no desconforto, na incerteza, na incompletude. Será preciso mostrar todo dia para o medo quem é que manda.
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Negócios são o reino da antifilosofia. Trata-se de entregar o que lhe pedem sem questionar muito.
Em negócios, não é bom ter opinião sobre um bocado de assuntos. Há que jogar o jogo do seu cliente. Saber relevar aqui, ignorar ali, engolir acolá. Às vezes fingir que não ouviu ou que não está vendo. E ponto.
Sim, negócios oferecem, muitas vezes, terreno para o cinismo, e não necessariamente para a coerência ou a autenticidade.
Negócios são o castelo da antipoesia. Importam os resultados. Então não tem gol feio, feio é não fazer o gol. Valem mais cinco gols ordinários, que garantem os três pontos, do que um gol de bicicleta espetacular que não ganha o campeonato
Não à toa, as empresas são medidas por seu faturamento e por sua margem de lucro, e não exatamente pelo modo como essas receitas e essa rentabilidade são geradas. Nem pelo rastro de felicidade ou de loucura, de alegrias ou de destruição, que deixam atrás de si.
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Negócios são o território do básico que funciona, do bom-bonito-e-barato, da melhor relação custo-benefício. O território da regularidade, da confiabilidade, da previsibilidade, da ordem cumprida, da entrega realizada, da meta batida.
Não é preciso ser brilhante. As empresas, em sua grande maioria, nem conseguem compreender gente diferente. Muito menos absorvê-las, contabilizá-las, liderá-las, estimulá-las.
A vida executiva parece muitas vezes mais afeita aos obedientes, aos estrategistas sociais, aos caráteres flexíveis. O mainstream é generoso com quem não incomoda. E com quem não se incomoda com os absurdos que por vezes erupcionam no escritório, no meio de uma tarde qualquer
No mundo corporativo, de modo geral, é preciso pertencer, se encaixar, seguir o fluxo, fazer a sua parte – nem a menos, nem a mais. E é sempre preferível não ser notado a ser notado demais.
Fazer negócios é também a arte de saber se colocar. É preciso aprender a ficar quieto. E a dizer o que as pessoas querem ouvir. Ou o que desejam que você diga. Na hora certa, do jeito certo. (Executivo sincero, vai por mim, não vai longe.)
Às vezes será preciso também participar de um complô, para não ficar de fora das patotas certas. (Ou, ao menos, calar diante de algumas injustiças.) Além de puxar um saco aqui e um tapete acolá.
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Navegar o mundo dos negócios é saber surfar a onda certa, e caminhar na ponta dos pés sobre a massa d’água selvagem, sem cair.
E trocar de onda na hora exata. Você não precisa ter uma causa, uma bandeira, um propósito – nada disso lhe garantirá a sobrevivência no mundo dos negócios tanto quanto desenvolver um bom senso de oportunidade. E saber movimentar suas peças no tabuleiro.
Em negócios, importam os resultados. Ficar à tona. Sem culpa. E sem dó.
Trata-se de um filme a que se assiste de trás para frente. Reconhecendo a força que move o mundo. Aprendendo a viver por essa régua maluca. Pegando gosto por se entregar a essa corrida cega.
Capitulando a tudo isso. E vendo todo o resto – sua família, sua saúde, você mesmo – se transformando lentamente em ruído. Em conversinhas que não geram conversão*.
Pessoalmente, não defendo metade das coisas que descrevi aí em cima. Mas, me parece, com a dose de fel que há em cada verdade admitida, que esse é um retrato muito próximo do mundo dos negócios como ele é, e não como gostaríamos que ele fosse
Ou como ele tem sido.
Como o nosso ambiente de negócios será daqui para frente, bem, isso dependerá de cada um de nós.
Não teremos outra oportunidade como essa, que desabou sobre nossas cabeças em 2020, para mudar o jeito como temos feito as coisas em nossas vidas, em nossas carreiras e em nossas empresas.
(* Ouvi esse ótimo trocadilho assistindo a uma aula do Romeo Busarello.)
Adriano Silva é fundador da The Factory e Publisher do Projeto Draft, Founder do Draft Inc. e Chief Creative Officer (CCO) do Draft Canada. É autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores.
A nossa atenção determina a forma como experimentamos o tempo e a realidade. Por que, então, deixamos que as empresas tratem um recurso tão vital como mera mercadoria? Kim Loeb alerta para os perigos da Economia Extrativista da Atenção.
Ao longo da vida, vamos colecionando papéis sociais que “definem” quem somos – mas só na superfície. Quando foi a última vez que você se despiu dessas personas e se viu no espelho? Ou enxergou de verdade quem estava ao seu lado?