Sua playlist no Spotify é bem variada? Está recheada de música boa dos mais diferentes estilos?
Por mais diversificado que seja o seu gosto musical, já parou pra pensar em tudo o que você pode estar perdendo? Talvez uma banda indie da Finlândia ou um artista do Togo seja exatamente o que seus ouvidos há anos procuram, em vão.
Suprir essa demanda é a missão da Magroove. A plataforma sugere recomendações musicais com base apenas em critérios idem, sem atentar ao apelo comercial de cada artista.
Produtor e engenheiro de áudio, o paulistano Vítor Cunha, 29, é o CEO e um dos sócio-fundadores da Magroove. Ele resume a ideia:
“Existe um gap muito grande entre o que é feito na cena independente e o que chega ao grande público. A gente queria fechar esse gap”
A bem da verdade, plataformas como Spotify e Deezer até se esforçam para apresentar aos usuários novos artistas e canções. Playlists que reúnem as mais tocadas da semana ou criam um mix das suas músicas preferidas com desconhecidas adequadas ao seu gosto pessoal já existem em boa parte dos streamings.
A questão, segundo Vítor, é que raramente essas listas incluem nomes mais underground ou fora do radar.
É aí que entra a Magroove. A startup tenta fazer essa ponte olhando, de um lado, para a satisfação de ouvintes cada vez mais exigentes, e de outro para os bastidores da música, onde ganhar renome ainda é tarefa dificílima.
Na juventude, aliás, Vítor buscou viver de música. Assim, ao empreender a Magroove ele já tinha noção dos perrengues que os artistas enfrentam num ambiente altamente competitivo.
“Quero ver as próximas gerações [de músicos] tendo oportunidades que eu não tive, com acesso a um player simples, direto e transparente, sem contratos obscuros”
A Magroove hoje tem, segundo Vítor, 500 mil usuários e 450 mil artistas cadastrados, vindos de 196 países. Com um crescimento de 150% no faturamento em 2022, a startup recebeu em abril um aporte de 8 milhões de reais da gestora de venture capital brasileira DOMO Invest.
Agora, Vítor pretende usar esse recurso para vencer um duplo desafio: tornar a empresa mais conhecida e atrair mais artistas (e usuários) brasileiros para a plataforma.
Apesar da ligação precoce com a música, Vítor acabou escolhendo outra faculdade e se formou em gastronomia. Por três anos, entre 2011 e 2014, chegou a tocar uma consultoria para negócios gastronômicos.
No início, seu currículo musical se resumia a fazer gravações independentes com amigos num estúdio caseiro. Logo, porém, Vítor se matriculou em cursos voltados à parte técnica do áudio.
No finzinho de 2013, ele começou a atuar como engenheiro de áudio e produtor musical (largando de vez a consultoria gastronômica poucos meses depois).
“Pela dificuldade de ter uma vida financeira estável e uma carreira na música, me distanciei dos palcos e me aproximei da indústria. Passei a fazer mesa [de som] em shows, do lado de lá da coxia”
Um momento transformador se deu quando ele quebrou a perna em 2015 e ficou um bom tempo imobilizado. Foi nessa fase que Vítor decidiu: queria mesmo era empreender no setor musical.
No mesmo ano, abriu, com alguns colegas, a Quadraphonia Audio; além de consultoria de áudio, passou a produzir caixas de som de alta qualidade acústica para o mercado especializado.
A ideia que se tornou o embrião para a Magroove surgiu no final de 2016, quando ele se juntou ao sócio Fabrício Schiavo, ex-colega de faculdade e atual CTO da empresa. Vítor relembra:
“Todo esse contato com a cena musical me levava a ver que existiam bandas incríveis, mas que jamais iam ser conhecidas porque não tinham maneira de veicular e não entendiam de marketing digital, habilidades essenciais para fazer o business acontecer”
A ideia de Vítor era fechar essa lacuna. E a formação tecnológica de Fabrício vinha a calhar: o sócio tem mestrado pela École Polytechnique de Paris e experiência em engenharia de software em companhias internacionais.
Assim, unindo essa expertise técnica de Fabrício ao conhecimento de Vítor a respeito das entranhas do mercado musical, os dois começaram a dar os primeiros passos no negócio.
Como outras startups, a Magroove nasceu com a proposta de ser o “Tinder” do seu próprio setor. No caso, o Tinder da música independente, gerando um match entre os usuários por afinidade musical.
A primeira versão do app saiu do papel em 2017. Naquele protótipo, desenvolvido em casa pelos sócios, o programa enviava ao usuário uma sugestão de música atrás da outra. Para dispensar, bastava deslizar para a esquerda; o gesto no sentido contrário significava guardar a faixa na sua lista pessoal.
O gargalo do negócio, porém, ficou óbvio logo de cara. Para criar um app de música independente seria preciso primeiro atrair músicos independentes.
“Nesse momento, pivotamos o negócio e saímos em busca de artistas. Decidimos criar um serviço com o objetivo de captar essa galera, montar o material e eventualmente voltar para o conceito do app original”
Entre 2017 e 2018, eles deram essa guinada e pivotaram o projeto para ser um negócio de distribuição digital — um movimento até ali incerto, já que os sócios não tinham certeza se poderiam voltar atrás, caso a estratégia desse errado.
O rumo foi ficando mais claro quando os Vítor e Fabrício perceberam que, para subir músicas em streamings como Deezer e Spotify, qualquer artista precisa do apoio de um intermediário que tenha um contrato ativo com as plataformas. Assim, a Magroove passou a prestar esse apoio.
Inicialmente, a startup não cobra nada para realizar o serviço, mas recebe um valor de até 5 dólares por ano em cima dos royalties totais vindos do desempenho do álbum ou single nas plataformas.
“Se, em um ano, você fizer 3 dólares, a gente fica com os 3. Se fizer 7 ou 1 mil, a gente só fica com 5”, diz Vítor.
Seguindo essa fórmula, na virada de 2019 para 2020, a Magroove já contava, segundo Vítor, com um portfólio de uns 30 mil artistas. Foi quando veio o primeiro aporte: 100 mil reais da Baita, aceleradora de Campinas.
Até então, a startup era um trabalho paralelo para os sócios. O investimento foi o momento-chave que consolidou de vez o projeto.
No final do ano, a Magroove recebeu um segundo aporte, da Samsung.
Desta vez, o investimento de 250 mil reais veio acompanhado de uma mentoria de oito meses, uma oportunidade para finalmente desenvolver o app que os sócios tinham visualizado lá no início da jornada.
“Usamos esse período para conversar com executivos e especialistas de Inteligência Artificial dentro da empresa”, diz Vítor. “Aquela nossa ideia original voltou muito mais sólida, agora com a proposta de ser uma plataforma de recomendação musical por IA.”
O app funciona assim: o usuário pesquisa qualquer música que curte; a IA avalia e seleciona uma lista de recomendações musicalmente similares àquela; depois, ele pode escutar 30 segundos de cada uma — o app não é um streaming, mas sim uma plataforma de recomendações —; e, por fim, seleciona as que gosta.
“O ouvinte recebe recomendações tanto de artistas gigantes quanto independentes, um lado a lado do outro. É uma plataforma bem democrática porque para a gente não faz sentido diferenciar. Se a música é relevante para o fã, é um conteúdo que deve ser recomendado”
O aplicativo foi lançado há cerca de um ano de forma gratuita. Agora, a empresa vem elaborando um modelo premium, com valor a ser definido.
A ideia é incluir funcionalidades extras que compensem pagar pelo serviço. Entre elas, a sincronização das escolhas musicais com streamings e a possibilidade de voltar atrás quando o usuário rejeita alguma música sem querer.
AGORA, O OBJETIVO É CANALIZAR O INVESTIMENTO PARA ATRAIR MAIS USUÁRIOS NO BRASIL
Segundo Vítor, a Magroove hoje já “faz a diferença” no mercado de música independente global.
Como exemplo, ele menciona um artista do Togo (o nome, segundo a empresa, não pode ser citado por questões jurídicas) que, por meio das produções que a Magroove subiu nos streamings, fatura cerca de 20 vezes o valor do salário mínimo de seu país, localizado na África Ocidental.
“Estou numa posição incrível de poder presenciar casos como esse. Não é à toa que ele procurou a gente, em vez de ir atrás de um concorrente, onde teria que pagar por esse serviço”
Embora todos os 100 colaboradores da Magroove sejam brasileiros, boa parte deles atuando no escritório em São Paulo, a maioria dos músicos e ouvintes na plataforma vêm de fora. Uma realidade que o CEO pretende equilibrar a partir do investimento feito pela DOMO.
Se 50% dos usuários estão nos Estados Unidos, apenas 0,5% vem do Brasil. Vítor diz que por enquanto pouca gente sabe que a startup é brasileira (as redes sociais, o site e o app da Magroove estão em inglês).
A nacionalidade da empresa, aliás, foi um desafio no começo. Na visão de Vítor, existe “bastante pé atrás” em relação ao Brasil:
“Sentíamos isso na pele. Era comum recebermos emails de gente falando que ficou com medo de entrar na plataforma por sermos daqui. Existia um pré-julgamento sobre o Brasil antes de termos a chance de nos mostrarmos”
Se o Brasil era só um dentre os muitos países que a empresa atendia, o objetivo agora é focar esforços tanto em divulgação quanto na atração de artistas do mercado nacional.
“Somos todos daqui e temos interesse em ver esse mercado evoluindo. Hoje, se você perguntar para qualquer músico brasileiro sobre a Magroove, ele não vai reconhecer a gente. Este ano, estamos prontos para reverter esse cenário.”
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