A sucessão de descobertas que levaram a brasiliense Camila Sallaberry, 29, ao mundo do empreendedorismo foram tão naturais que dão a impressão de que ela não poderia estar fazendo outra coisa da vida. De um home-office colorido, climatizado e cheio de recordações em imagens que são o seu próprio negócio, ela conduz sozinha os passos mais sólidos da Fotoploc, no início de um 2015 cheio de novas ideias para a empresa. Mas a forma como narra sua trajetória, cheia de brilho no olhar e força nas palavras, não esconde as etapas de descobertas e incertezas que ela vivenciou até entender o que de fato queria fazer da vida.
Camila entrou na Universidade de Brasília para estudar Engenharia Mecatrônica. Depois de dois anos, percebeu que seu curso não estava indo tão bem quanto o dos colegas. “Todo mundo se engajou em projetos megalomaníacos e eu sempre ficava com a parte mais relacionada a marketing e criatividade dos trabalhos. Conversei com um professor que me disse que eu não tinha o perfil da Engenharia”, conta Camila. Depois de um período de dúvida, ela mudou o curso para Economia. “Queria sentar em uma mesa de bar e conseguir falar sobre taxa de câmbio, coisas assim. Não queria estudar algo que mais ninguém compreendesse”, diz.
Com um perfil altamente comunicativo, Camila passou dois anos trabalhando como voluntária para a Aiesec, organização de estudantes cujo objetivo é promover a paz mundial por meio do intercâmbio – com uma rede de colaboradores famosa por ter gente extremamente talentosa. Lá, ocupou o cargo de vice-presidente de relações externas, o que lhe proporcionou contato próximo com membros do alto escalão de grandes empresas e entidades internacionais. “Eu negociava diretamente com presidentes de companhias, discutia sobre dinâmica do mercado, enfim, era uma posição de alta importância para uma estudante. Saí de lá maravilhada com o mundo dos negócios”, conta.
Camila também trabalhou como gerente de gestão por categoria da rede de supermercados Super Maia, em Brasília. O posto de grande responsabilidade –gerenciava as bancadas de 15 lojas – lhe conferiu experiência e ajudou a que desenvolvesse várias competências durante quase três anos. Até que começou a sentir falta de usar a criatividade. “Decidi tirar seis meses sabáticos. Fiz um mochilão pela Ásia e África do Sul, pesquisei, li, meditei e vi todos os filmes que queria ver.” Em julho de 2012, ainda durante o período de “férias”, resolveu fazer um presente para o namorado em comemoração aos dois anos de relação.
“Sempre valorizei muito presentes manuais, artesanais. Antes de começarmos a namorar, eu e o Paulo trocávamos figurinhas do álbum da Copa de 2010. Com a viagem que fizemos, juntamos muitas e muitas fotos. Então pensei: vou fazer um álbum de figurinhas com as nossas fotos”, lembra Camila. Nascia assim a ideia inovadora que seria o alicerce de seu negócio, a Fotoploc.
DA GRANDE IDEIA AO NEGÓCIO, UM LONGO CAMINHO
Camila foi a papelarias especializadas em Brasília e em São Paulo buscar alguém que a ajudasse a fazer o presente do namorado. Mas ninguém entendia o que ela queria. “Queria transformar a foto em adesivo, com um número no verso, exatamente igual a um álbum de figurinhas. Para mim era muito óbvio, mas os vendedores me diziam que isso não existia.” Ao perceber a dificuldade das pessoas em entender o conceito, Camila percebeu que aí existia uma oportunidade de negócio.
O primeiro álbum foi um sucesso absoluto, tanto que ela recebeu muito apoio dos pais e dos amigos. Camila comprou uma gilhotina, aprendeu a usar o Photoshop (em tutoriais do Youtube) e fundou um blog chamado Ideias que Colam. Inventou nomes para os tipos de álbuns que faria, criou a logomarca e começou a receber encomendas. “Quando mandei o blog para os meus contatos, ele teve mais de 2 mil vizualizações em 48 horas. Lembro que ficava eufórica dando F5 no computador, o coração a mil. Nunca tinha me sentido assim antes”, conta.
A excitação tinha motivo: era a primeira vez que Camila levava uma de suas ideias adiante com o seu próprio nome, sem estar trabalhando para alguém. Ela entendeu o que queria fazer da vida: empreender, ou seja, viver desta adrenalina. “O primeiro álbum que vendi foi para uma amiga da minha prima, que faria um intercâmbio na Espanha. A cada desafio que ela vencia na nova vida, como achar um apartamento ou fazer o primeiro amigo espanhol, recebia mais um pacote de figurinhas do grupo de amigos que ficou no Brasil”, diz Camila.
Começaram, então, a chegar pedidos de pessoas que ela não conhecia. Em alguns meses, Camila já passava o dia inteiro criando os álbuns, que tinham de 150 a 200 fotos cada. Em meados de 2013, um amigo se interessou pela ideia e propôs uma sociedade com um valor simbólico: 20 mil reais. Juntos, alugaram uma sala, contrataram dois estagiários e seguiram com as encomendas – até que Camila foi pedida em casamento, começou a construir a casa onde ia morar, e precisou colocar a Fotoploc on hold até julho de 2014.
E chegou a Copa do Mundo: uma imensa oportunidade de retomar a Fotoploc. Camila lançou um álbum temático e contratou uma amiga para trabalhar com ela, ganhando bolsa paga por outro amigo investidor-anjo. O álbum Fotoploc da Copa do Mundo era vendido por 147 reais, mesmo valor cobrado pelo álbum Especial de Natal. Sempre, as fotos são de melhores momentos do cliente nesses eventos.
A ajuda externa rendeu frutos, e Camila pôde dar vazão a outras ideias, como o Instaploc – projeção e impressão em ímã de fotos que seguem a hashtag de um evento (40 unidades de fotoímãs saem por 87 reais). “Fechamos uma parceria com o Banco do Brasil para 12 eventos que vão até fevereiro, trabalhamos com o pessoal do Picnik (um dos principais eventos de gastronomia e cultura de Brasília) e fizemos festas comemorativas de grandes empresas, como o Centro Universitário UniCeub”, conta.
EM 2015, NOVA TURBINADA E REDIRECIONAMENTO DO BUSINESS
Todo o faturamento foi reinvestido na empresa, que já recebia cerca de 20 pedidos por mês só de álbuns, além dos eventos. Em dezembro passado, Camila decidiu que era hora de alavancar o seu negócio, que ainda era muito artesanal. Assim, reuniu quatro entusiastas da empresa, que queriam investir na Fotoploc, e fez um evento de planejamento que durou um fim de semana inteiro, com programação hora a hora e objetivos a serem alcançados.
“Decidimos formar uma sociedade em que cada um investiria uma certa quantidade de dinheiro e de tempo na empresa. Traçamos metas para o ano, missão da Fotoploc, valores e o nosso manifesto por um mundo PLOC: presente, livre, ousado e criativo.”
Há também uma negociação em curso com um grupo de investidores. Mesmo que esses investimentos ainda não tenham se concretizado, Camila tem hoje segurança para recebê-los, pois agora sabe exatamente onde o dinheiro deve ser aplicado.
A chave do sucesso, para os sócios, está na mudança de foco da empresa, que está em fase de configuração: em vez de ser uma loja virtual, a Fotoploc passará a ser uma ferramenta online de criação de álbum de figurinhas. Isso quer dizer que Camila não fará mais o trabalho manualmente, mas o próprio usuário acessará o site, construirá virtualmente seu álbum personalizado e pagará pelo produto no final. Só assim a empresa conseguirá crescer e produzir em larga escala.
Camila ainda não vive da Fotoploc – ela conta com o apoio dos familiares, mas considera os dois anos anteriores um teste bem-sucedido do modelo de negócios e do mercado existente. “Na nova etapa que começa agora, previmos uma ajuda de custo para quem é exclusivamente dedicado à empresa e as retiradas dos sócios em intervalos regulares. Temos quase 100% de respostas positivas do público ao nosso produto e um grande espaço de crescimento”, afirma a empreendedora.
Camila também pensa mais longe: como boa ex-integrante da Aiesec, quer ganhar o mundo e expandir a Fotoploc para outros países ainda em 2015. “Vamos estudar se será pelo modelo de franquias, representação comercial ou sociedade, mas sei que a empresa tem plena capacidade de se espalhar pelo mundo. Em todas as minhas pesquisas, não achei quem faça algo igual por aí”, conta. O prazo parece curto, mas se depender da persistência e confiança da empreendedora no projeto, vai colar.
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