Muitos dos produtos que encontramos hoje no mercado, de gêneros alimentícios a cosméticos, utilizam em sua fórmula o óleo de palma, também chamado de óleo de dendê. Segundo dados da Aliança Europeia de Óleo de Palma, o consumo global desse insumo cresceu de 14,6 milhões de toneladas em 1995 para 61,1 milhões de toneladas em 2015. O óleo se tornou o mais utilizado no mundo, com a China, Índia, Indonésia e União Europeia no topo dos consumidores globais.
Para dar conta de toda essa demanda, é necessário plantar muito dendê. Hoje, dois países são responsáveis por quase toda a produção mundial de óleo de palma: a Indonésia, produzindo anualmente 33,5 milhões de toneladas, e a Malásia, com produção anual de 19,9 milhões de toneladas.
É uma expansão cara. O modelo padrão para abastecer as indústrias é a monocultura, o que significa o uso de gigantescas extensões de terra para fazer o plantio de uma única espécie de planta. Esse sistema de produção inclui o uso intenso de fertilizantes sintéticos e herbicidas, o que gera vários impactos ambientais e sociais.
Na Indonésia e na Malásia, milhões de hectares de floresta tropical nativa sucumbiram às plantações de monocultura destinadas à produção de óleo de palma (ou dendê), o que acarreta em uma drástica perda de biodiversidade, além do aumento de emissões de gás carbônico, um protagonista na intensificação do efeito estufa.
Consciente deste problema e movida por uma busca constante de estabelecer práticas mais sustentáveis em sua cadeia de suprimentos, Natura começou a fazer diferente e iniciou, em 2008, o projeto para o estudo do dendê em sistemas agroflorestais. Em parceria com a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) e a Embrapa, foram iniciados os estudos de campo para a criação do Sistema Agroflorestal Dendê, um novo modelo de produção sustentável desse produto que associa o cultivo da commodity com outras espécies agrícolas e florestais, além da adoção das práticas agroecológicas no manejo.
“Incentivamos as pesquisas com sistemas sustentáveis de produção, que geram matérias-primas vegetais de qualidade, promovem a conservação dos recursos naturais e a qualidade de vida dos agricultores” diz Débora Castellani, fitotecnista gerente do projeto. “A palma, ou dendê, é um dos principais ingredientes da indústria cosmética e por isso decidimos investir em uma produção agroflorestal que trouxesse maiores benefícios socioambientais para a cadeia produtiva.” O Sistema Agroflorestal (SAF) foi escolhido por promover a diversificação agrícola em uma mesma unidade de área, reduzindo os riscos de pragas e doenças, além de gerar muitos serviços ambientais. São benefícios similares aos encontrados na floresta, como a proteção do solo e a conservação da água e da biodiversidade. “A aposta não era apenas financeira, mas de inovação sustentável”, diz Débora.
O SAF, um sistema de cultivo conhecido mundialmente, busca imitar a estrutura e os processos biológicos do ambiente de uma floresta nativa. A presença de árvores é o principal elemento que garante uma série de benefícios. Plantas como cacau, açaí, ingá, jatobá e ipê, por exemplo, foram plantadas junto ao dendê.
Apesar da crença de que o dendê não poderia ser cultivado junto com outras plantas, sob a ameaça de que não teria bom crescimento e produção, a Natura foi em frente. Com as parcerias firmadas junto a CAMTA, Embrapa e Finep, foram implantados 18 hectares de unidades demonstrativas. Dois sistemas foram criados: o SAF Dendê Adubadeiras, com o dendê e outras espécies adubadeiras; e o SAF Dendê Biodiverso, composto por dendê junto a plantas frutíferas, madeiras e espécies adubadeiras. Esse último apresentou os resultados mais positivos. E os resultados foram inquestionavelmente positivos: ainda que o número de plantas de dendê por hectare seja menor no sistema agroflorestal, as palmeiras se mostraram mais saudáveis e produtivas, compensando a desvantagem numérica. Além disso, as outras plantas em volta do dendê também tiveram sua produtividade aumentada, o que chamou atenção de agricultores e pesquisadores.
Atualmente, as pesquisas realizadas e o sistema desenvolvido para a produção de dendê “amigo do clima” já têm atraído o interesse de grandes organizações internacionais, que se preocupam com os impactos negativos causados pela monocultura nas regiões tropicais e acreditam nos benefícios socioambientais e econômicos do SAF Dendê.
Por meio de uma parceria com o Fundo Americano de Desenvolvimento Internacional (USAID) e com o ICRAF (Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal), o SAF Dendê expandiu em 2018 e mais 11 novas unidades demonstrativas foram implantadas em Tomé-Açu (PA). A Embrapa também relata que a fertilidade do solo no SAF Dendê está aumentando e que esse sistema pode contribuir para o sequestro de carbono, e que o manejo agroecológico é fundamental para a redução das emissões dos gases de efeito estufa associados a cadeia produtiva do dendê.
Na Natura, a prosperidade do projeto certifica que o SAF Dendê é o caminho certo para a inovação sustentável, e que o óleo de dendê pode contribuir nessa trajetória.
Esse conteúdo pode ser encontrado no portal Natura Campus. Confira o site para ficar por dentro do que acontece no mundo da inovação cosmética.
Inovadora, a ação vai estimular a pesquisa de excelência e reconhecer os pesquisadores que estão abrindo os caminhos para o futuro em temas estratégicos do desenvolvimento tecnológico relacionados à Biodiversidade e à Sustentabilidade.