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Saiba como o software de gestão de TVs corporativas fez a Screencorp ganhar 45 clientes em um ano

Daniela Paiva - 11 dez 2014
Thiago Braga levou um ano e meio para achar os sócios certos para a sua startup.
Daniela Paiva - 11 dez 2014
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Perdi as contas de quantas vezes Thiago Braga entrecortou nossa conversa de uma hora e meia com um “em paralelo, eu fiz…”. Aí, você pensa: lá vai mais uma pausa para o comercial. Não é bem isso. Thiago, 35, é idealizador e sócio-fundador da Screencorp, uma startup de gerenciamento de software para TV corporativa que em menos de um ano conquistou 45 clientes. E contando.

A previsão é a clientela aumentar para 50 até o final de dezembro. Hoje estão no portfólio da Screencorp empresas com Unimed, TetraPak, Habibs, Unidas Rent a Car, SEBRAE e Colégio Objetivo. Dias antes da publicação desta matéria, juntava-se ao grupo a Brasil Kirin.

Explica-se o “em paralelo” de Thiago: é que foram muitas atividades na trajetória dele até que a Screencorp decolasse. Desde que começou a se desgarrar dos empregos formais em 2010 ao montar o Studio Puri, uma fabriqueta de design gráfico situada em um pequeno escritório na Vila Madalena (São Paulo), as ideias de negócio não apenas brotavam: jorravam. E Thiago passou a focar os esforços na materialização do que observava como oportunidades de mercado, como ele diz:

“Minha estratégia era criar várias coisas que me interessavam e ver o que andava”

Assim, surgiram uma penca de ideias que acabaram não seguindo adiante. Por exemplo, o Collabora, plataforma cuja ideia era reunir e rankear pesquisas na internet e que teve curtíssima vida, com página no Facebook e algumas rodadas de apresentação em busca de investidores. Digamos que você quisesse saber tudo sobre mitocôndrias. Pelo Collabora, encontraria todos os links de pesquisas similares no mundo em tempo real organizadas por relevância. Uma economia preciosa de tempo nos dias de hoje.

Telas de TV corporativa

As telas estão nas empresas: a Screencorp torna a gestão desse conteúdo algo fácil e rápido.

Aí você pergunta: por que não foi para frente? Entre os fatores, estão a complexidade e a viabilidade do projeto, além da dificuldade de atrair investidores. É aquela história: se ficou difícil demais, às vezes a ideia brilhante pode ser partir para outra.

LIÇÃO NÚMERO UM: O SÓCIO PERFEITO

Outro ponto em que Thiago volta várias vezes é a importância de encontrar a pessoa certa (ou as pessoas certas, no caso dele) para dividir e compartilhar a tarefa de empreender. Ele acumula um bom punhado de sócios para os projetos que desenvolveu, ou quase desenvolveu. E aprendeu lições valiosas até encontrar as outras duas partes que hoje estão diretamente ligadas à Screencorp.

Thiago também destaca dois aspectos fundamentais. Um deles é que é preciso ter talento para vender sua ideia ou desenvolver essa característica antes de meter a cara na rua. Ele lembra que a todo momento o empreendedor tem que seduzir alguém com a sua história – seja o investidor, o mercado, o futuro sócio, a aceleradora. Não tem jeito. É necessário ter um bom traquejo nas palestras. “É importantíssimo para o empreendedor vender a visão dele de forma pragmática, e não como um sonhador”, diz.

Ele também acredita que não vai resolver o problema se você pensar que o primeiro a topar a parada é “o” cara. Thiago já teve sócio que pediu as contas, e também já teve que, delicadamente, pedir o divórcio de outro sócio. Só para a Screencorp, ele contabiliza um ano e meio de procura até firmar as bases definitivas da sociedade, com o designer gráfico Peter Hahmann e o consultor de sistemas André Barbosa em 2013. E que tal empreender sozinho, sem sócios? Ele é taxativo: “Sozinho não é possível. Você não vai conseguir fazer tudo.”

“O mais difícil é encontrar um sócio complementar, que tenha os skills necessários e esteja em um timing legal. Não adianta a pessoa estar superafim , mas não ter um perfil que vá ajudar.”

Thiago cursou Comunicação Social, mas rapidamente viu que sua praia era outra. Literalmente. No último ano da faculdade, em 2001, embarcou para uma viagem à Califórnia junto com amigos que, como ele, curtiam pegar onda e estavam intrigados com as aventuras do novo mundo da internet. “Gostava, era divertido, e tinha ideia de que aquilo pudesse crescer”, recorda.

AS SEMENTES DO EMPREENDEDORISMO

Ele participou de um curso de User Experience Design, em San Diego. Aqui tem um vídeo bacana sobre isso, mas em resumo abordava a estruturação e arquitetura de informação na web. Filho de pais empreendedores, fundadores do Colégio Argumento, na Zona Leste de São Paulo, ele teve incentivo da família na jornada. De volta, terminou a universidade e emendou Design Gráfico na Escola Panamericana de Artes. O empreendedorismo, porém, ainda era um objetivo distante.

“Na minha época, a gente não tinha essa educação empreendedora. Quando você saía da escola, pensava em vestibular, depois em fazer um estágio, trabalhar em uma empresa e só lá na frente empreender o que tinha na cabeça”, conta. E foi o que ele fez: trabalhou de 2001 a 2008 na Editora Abril como web designer para os sites da empresa – entre eles, as páginas eletrônicas de publicações como a Super Surf e a Playboy. Suas habilidades, principalmente na área de infografia digital, o levaram ao O Estado de S. Paulo, onde ficou até 2010.

Depois se formar em Design Gráfico na Panamericana em 2005, Thiago engatou uma pós-graduação de Administração de Marketing no Ibmec de 2007 a 2009. Em paralelo à formação e ao dia a dia como funcionário, Thiago fazia trabalhos como freelancer de design.

Thiago com o filho Theo. A gravidez da esposa Raíssa o fez decidir: empreender ou não? Empreender.

Em 2010, o empurrãozinho chegou com o anúncio da gravidez de sua mulher, Raíssa. “Pensei: ‘ou eu mudo agora, ou não mudo mais’”. Thiago alugou uma sala perto de casa e montou o escritório de design Studio Puri. Trabalhava sozinho e recrutava outros frilas de acordo com os projetos que chegavam. E deixava as ideias fluírem.

Uma delas transformou-se em um primeiro ensaio de como é empreender com startups e negócios escaláveis. Thiago desenvolveu uma série de aplicativos de jogos colaborativos para uma mesa touchscreen. O objetivo era tornar o ensino mais divertido dialogando com a febre dos games. Chamava-se Projeto Educcativa.

Para formatar o produto, chegou a importar uma tela touchscreen da China. A ideia era boa, mas na ponta do lápis revelaria-se inviável para o sistema escolar brasileiro por conta dos altos custos. Um equipamento não sairia por menos de 4 mil reais, sem contar os 2 mil dólares só da tela touchscreen.

Ele perdeu dinheiro, mas valoriza demais a experiência. “Foi uma puta experiência porque desenvolvemos (ele tinha um sócio à época) um produto. Passávamos horas fazendo aquilo por prazer. Tínhamos interesse, os alunos adoravam.”

Em 2012, Thiago resolveu desbravar o empreendedorismo moderno na fonte: o Vale do Silício. Lá, na Universidade de Stanford, fez um curso chamado “Start Startups – The Company is the Content” (algo como “Comece uma Startup – A empresa é o conteúdo”). Essa era a fase do Collabora, abandonado após o curso porque enfrentaria muita dificuldade para dar certo.

Aquele ano marcaria ainda mais três paralelos na vida de Thiago. O primeiro deles, a criação do site Boa Nota, espécie de crowdfunding para alunos pedirem doações para completarem seus estudo, no ar até hoje, mas que não dá nenhum retorno financeiro. “Não fazia sentido cobrar mensalidade. O objetivo é ajudar as pessoas”, afirma.

O outro “paralelo” seria também o embrião da Screencorp. Uma solução de TV Corporativa para um cliente que reclamava do valor cobrado pelas empresas maiores do segmento e também demandava o controle sobre o conteúdo, algo fora da prática do mercado. Em geral, a agência contratante ou a fornecedora ficam com essa função. Thiago desenvolveu o projeto de forma bem simples, registrou, vendeu, lançou um site e o deixou de lado, esquentando em fogo brando, com dois clientes em formato “beta” e o telefone de contato direcionado para o seu celular pessoal.

Por fim, o emprego no Discovery Channel como Head de Mídias Sociais. Thiago aceitou trabalhar no Discovery por alguns motivos: estava cansado de aturar sozinho as pendengas da clientela, o tema do canal o seduzia, e o trabalho parecia interessante o suficiente. Durou nove meses por lá, até que foi atraído pelo desafio da Predicta, empresa de tecnologia de publicidade, em 2013.

TV corporativa não é sinônimo de escritório e elevador: lojas também podem se beneficiar do serviço.

TV corporativa não é sinônimo de escritório e elevador: lojas também podem se beneficiar do serviço.

Seu papel era como gerente de produto da Siteapps, startup de aplicativos que podem melhorar a performance de um site de negócios. “Tive a oportunidade de entender como é a metodologia de desenvolvimento de produto, processo. O grande ganho foi trabalhar no ambiente de startup”, conta.

QUANDO AS PONTAS SOLTAS FAZEM SENTIDO

Em 2013, depois de ter amargado algumas sociedades que não deram certo para a Screencorp, Thiago lembrou-se de Peter, um frila recrutado para o Projeto Educcativa, aquele da tela touchscreen. Era o “start” que faltava. André se juntaria ao grupo e, em outubro de 2013, Thiago pedia as contas da Predicta. No final de novembro, o trio lançou o produto final da Screencorp. Ou melhor: o produto inicial.

O diferencial da Screencorp, que atua em um mercado de marcas consolidadas como a Elemídia, é a possibilidade de controle da empresa contratante em relação ao conteúdo. Dispensa-se, digamos, um atravessador pois o gerenciamento é fácil e de simples customização. Para isso há um leque à disposição – por exemplo, notícias produzidas pelo UOL e iG – e também é possível incorporar material produzido internamente.

Thiago relata que o investimento inicial que saiu do bolso foram 3 mil reais, lá atrás, usados no desenvolvimento do que viria a ser o protótipo da Screencorp.

Em 2014 a empresa participou de dois programas de aceleração, e aí veio uma segunda injeção de grana, bem mais robusta. Um deles foi a Wow Aceleradora, uma das primeiras do gênero na região Sul do país e que conta com o financiamento e apoio de cerca de 50 investidores-anjo. Pela Wow, a Screencorp conseguiu 150 mil reais, o que gerou caixa suficiente para Peter e André também se dedicarem 100% à empresa e contratarem um estagiário para fechar o time.

Thiago apresentando a Screencorp no Lisboa Challenge.

Thiago apresentando a sua startup no palco do Lisbon Challenge.

O trio também recebeu treinamento intensivo e capacitação, e ainda se beneficiou – e muito – do networking da Wow. Nesse caso, há uma porcentagem de participação no negócio, mas Thiago prefere não revelar este dado ou o de faturamento.

A outra injeção na Screencorp veio no Lisbon Challenge, evento em Portugal durante o qual passaram por um período de capacitação e networking, convivendo com 29 startups do mundo inteiro. Aqui, não teve grana envolvida. Mas, teve muito aprendizado.

A empresa é jovem e parece ter tudo o que precisa para seguir prosperando: um mix de aprendizados anteriores, foco no produto certo e um bom time societários. Um último recado de Thiago a quem se aventura no empreendedorismo é que é preciso acreditar – e muito – para conseguir lidar com a rejeição. É rejeição de sócio, de programa, de investidor. A persistência é a alma do negócio, e compensa, como ele diz: “Poucas vezes me senti tão motivado a trabalhar”.

draft card screencorp

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