Saiba como os irmãos Rafael e Gabriel Bottós estão revolucionando a indústria nacional com a Welle Laser

Italo Rufino - 5 jun 2015Gabriel e Rafael Bottós, fundadores da Welle Laser
Gabriel e Rafael Bottós, 31, são gêmeos, estudaram na Alemanha e fundaram a Welle Laser para "revolucionar" a indústria local.
Italo Rufino - 5 jun 2015
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Sabe aqueles filmes de ficção científica repletos de cenas de ação com raios laser? Sabre de luz de um lado, disparos das armas dos Stormtroopers do outro? Toda essa tecnologia parecia pertencer a um futuro distante e improvável. Agora observe as torneiras do banheiro da sua casa, seu fogão, sua geladeira, as facas na gaveta da cozinha: é bem provável que esses produtos tenham o logotipo do fabricante gravado em marcações também feitas a laser. Não exatamente o mesmo dos filmes de Star Wars mas, possivelmente, o laser disparado pelas máquinas da catarinense Welle Laser.

Fundada em 2008 pelos gêmeos Gabriel e Rafael Bottós, de 31 anos, a Welle está revolucionando o mercado de máquinas industriais que usam laser para fazer marcações e microusinagem em peças de metal e plástico. Além de logotipos, gravam códigos de barra e também a ficha técnicas de produtos. “Essas marcações ajudam a atestar que o produto é original e a identificar e rastrear as peças em casas de recall, por exemplo”, conta Rafael cujo interesse por laser surgiu na infância, não apenas nos filmes, mas também observando os equipamentos de laser do consultório oftalmológico do pai.

Entre os clientes da Welle estão gigantes da indústria como GE do Brasil, Docol, Tramontina, Bosch e Whirlpool. Em sete anos de operação, os empreendedores já venderam mais de 300 máquinas para cerca de 150 clientes. Mas o que impressiona mesmo são os números. “Nos últimos três anos, crescemos aproximadamente 1800%. Ano passado, fomos eleitos pela consultoria Deloitte a empresa que mais cresceu no país. Este ano, pretendemos faturar mais de 15 milhões de reais”, diz Rafael.

A INOVAÇÃO DISRUPTIVA LEVOU A UM CRESCIMENTO ASSOMBROSO

O rápido crescimento da Welle tem uma justificativa simples: a gravação a laser substitui de forma mais eficiente os vários processos que eram usados há anos na indústria, como a marcação por etiquetas adesivas, tinta ou ácidos corrosivos. O empreendedor lista as vantagens: “O processo a laser é mais rápido, tem maior durabilidade e não polui o meio ambiente”.

Peça sendo gravada com a tecnologia Welle Laser: mais rápida e mais confiável que as soluções que o mercado costumava usar.

Peça sendo gravada com a tecnologia Welle Laser: mais rápida e mais confiável que as soluções que o mercado costumava usar.

Além disso, as máquinas da Welle ajudam as empresas a combater um problema que emperra o crescimento e tira a competitividade da indústria brasileira: a baixa produtividade. De acordo com número do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a produtividade brasileira está estagnada há décadas. Os principais entraves são a baixa qualidade do ensino profissional e tecnologia e maquinário obsoleto nas indústrias. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos indica que a idade média das máquinas nas indústrias nacionais é de 17 anos – na Alemanha é cinco e nos Estados Unidos é sete. Rafael comenta o cenário:

“A defasagem tecnológica no Brasil é muito grande. As empresas ainda sofrem com infraestrutura logística precária e alta carga tributária”

Ele acredita que para reverter essa situação é necessário investir em educação e empreendedorismo. Ele compara a situação do Brasil com a de países da Europa, onde os funcionários têm salários bem maiores, rendem mais e custam bem menos para as empresas. São indústrias que vivem uma nova revolução industrial, a chamada 4.0, com máquinas que interagem entre si de forma autônoma (uma realidade em empresas como Volkswagen, BMW e Siemens) e um chão de fábrica tão limpo e calmo quanto o de um escritório. Para os irmãos Bottós, é nesse modelo que Welle está inserida – e é isso que o Brasil deve buscar.

O mergulho dos irmãos no universo industrial de ponta teve início quando eles cursaram mestrado no Instituto Fraunhofer, uma das maiores organizações de pesquisa e ciências aplicadas do mundo. Sediado em Berlim, o instituto tem orçamento anual de mais de 1 bilhão de euros e possui convênio com diversas empresas. Durante os três anos que estudaram no Fraunhofer, os jovens engenheiros participaram de projetos da Audi, Nasa, BMW e Rolls Royce. Nesta última, ajudaram a desenvolver processos que usavam laser para reconstituir turbinas danificadas de aviões.

Outro exemplo de peça gravada com as máquinas da Welle Laser.

Outro exemplo de peça gravada com as máquinas da Welle Laser.

A oportunidade de trabalhar na Europa começou durante o curso de graduação em engenharia mecânica da Universidade Federal de São Catarina (UFSC). Os irmãos foram indicados por um professor após instalarem e colocarem para funcionar — por livre vontade e curiosidade — uma máquina laser que a universidade tinha ganhado. “Entre todos os estudantes de engenharia, nós éramos os únicos que tínhamos conhecimentos em laser naquela época”, conta Rafael. Em 2008, após o fim do mestrado na Alemanha, os irmãos ainda tinham dúvidas sobre em qual das grandes empresas europeias iriam trabalhar enquanto cursavam o doutorado. Foi quando algo os fez escapar do óbvio, como Rafael lembra:

“Bateu uma reflexão e decidimos voltar para o Brasil e abrir uma empresa que pudesse revolucionar a indústria nacional”

O problema era a falta de recursos. Para resolver o empecilho, Rafael e Gabriel convenceram o organizador de uma feira de máquinas de Santa Catarina a ceder, gratuitamente, um espaço numa exposição. Eles também pediram 15 000 reais na UFSC para montar um estande na feira. Paralelamente, convenceram o presidente do Instituo Fraunhofer a deixá-los usar o nome da organização — da qual também receberam a doação de 10 000 euros para importar algumas peças da Alemanha. “Foi quando conhecemos a pessoa que viria a ser nosso primeiro cliente na feira, o dono de uma fábrica de embalagens que atendia Natura, O Boticário e outras empresas de cosméticos”, lembra Rafael.

VENDENDO A VISTA PARA ENTREGAR A PRAZO, FIZERAM O PRIMEIRO CAIXA

Nessa época, a empresa ainda não tinha nem CNPJ. Para driblar novamente a falta de dinheiro e a inexperiência, os dois venderam uma primeira máquina – que só existia em uma apresentação de Power Point – pela metade do preço, mas pediram o dobro de prazo para entrega. Nos meses seguintes, convidaram dois amigos para ajudar na empreitada e começaram a estruturar a empresa na incubadora Celta, que abriga empreendedores promissores vindos da UFSC.

A partir desse momento, a Welle começou a ganhar prêmios e editais de incentivo a pesquisa e desenvolvimento de organizações como Finep e CNPq. Totalizando cerca de 1 milhão de reais em recursos.

Máquina da Welle sendo operada numa indústria: cada vez mais tecnologia e menos sujeira.

Máquina da Welle sendo operada numa indústria: cada vez mais tecnologia e menos sujeira.

No início de 2011, veio a oportunidade que ajudaria a Welle a alçar voos mais altos. “Tínhamos vendidos cerca de cinco máquinas, mas éramos engenheiros e não tínhamos conhecimentos na área comercial. Precisávamos de um investidor”, afirma Rafael. Após alguns contatos, ele e Gabriel começaram a negociar um aporte do fundo Criatec, que usa recursos do BNDES e é gerido pela Inseed Investimentos e Antera Gestora de Recursos. Rafael comenta aquela negociação com entusiasmo:

“Vendemos a ideia de que seríamos uma empresa bilionária no futuro. Vendemos nosso sonho. E eles acreditaram, pois a Welle ainda era embrionária. Eles sentiram que tínhamos sangue nos olhos para superar os desafios e seguir em frente”

Após ceder uma participação minoritária por alguns milhões de reais – os sócios não podem revelar o valor por conta de um acordo com os investidores – a empresa organizou toda sua governança corporativa. Também passou a ser auditada por uma consultoria independente. “Em um ano, gastamos todo o dinheiro dos investidores. Ao mesmo tempo, atingimos o break-even, começamos a dar lucro e nos preparamos bem para o crescimento sustentável”, conta Rafael.

Em 2014, ano passado, a Welle seria reconhecida mundialmente. A empresa foi a mais bem colocada na seleção internacional da Endeavor, organização americana de fomento e apoio ao empreendedorismo de alto impacto que atua em mais de 20 países. “Das 7 mil empresas selecionadas, 21 foram para a fase internacional, sete foram aprovadas e apenas três tiveram aprovação unanime dos jurados. Tivemos a melhor nota: 9,7”, comemora Rafael, que, na fase final, foi sabatinado por executivos de empresas como Amazon, Ernest Young e Redpoint Investment.

Hoje, após crescer 1 800% em três anos, os planos são igualmente expressivos: eles querem abrir unidades no México, Colômbia, Estados Unidos e Suíça. Estimam ter receitas 200 milhões de reais em 2020. Daqui 10 anos, portanto em 2025, eles querem ultrapassar o faturamento de 1 bilhão de reais. Parece muito? Isso porque os irmãos Bottós continuam vendendo seus sonhos com a mesma paixão dos meninos hipnotizados pelo sabre de luz. Que a força esteja com vocês.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Welle Laser
  • O que faz: Desenvolve máquinas de gravação
  • Sócio(s): Rafael e Gabriel Bottós, investidores individuais e fundo de investimento Criatec
  • Funcionários: 20
  • Sede: Palhoça (SC)
  • Início das atividades: 2008
  • Investimento inicial: cerca de R$ 1 milhão
  • Faturamento: R$ 15,2 milhões (estimativa para 2015)
  • Contato: (48) 3025-0700
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