Muitos não sabem, mas o Brasil ocupa hoje o segundo lugar no ranking de países com a maior população de pets do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
São aproximadamente 139,3 milhões de pets por todo o país. Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 62% dos domicílios do Brasil têm ao menos um pet.
Um animalzinho em casa é capaz de transformar o ambiente, trazer mais alegria, unir as famílias… E até mesmo mudar completamente o nosso destino e a nossa carreira. Foi o que aconteceu comigo.
Nunca me imaginei como uma empreendedora do setor. Sou formada em direito e me preparava para um sonhado e disputado concurso público.
Meu objetivo era a Promotoria e a Magistratura. Nessa época, em paralelo aos estudos, eu trabalhava com produção de eventos.
Minha jornada era longa: saía cedo e voltava tarde. Mas quando chegava em casa, cansada ou estressada, depois de um dia longo de trabalho, minha pequena parceira era capaz de trazer alegria e deixar as preocupações em segundo plano.
A responsável por mudar minha vida foi a Jully, uma Lhasa Apso bastante ativa, dócil e que transformava o ambiente em um lugar mais animado.
Só que descobri que Jully tinha a síndrome do ovário policístico (SOP), então acabei vivendo o caos por conta do cio bastante longo causado pela doença. Era sangue e xixi para todo lado
No começo, eu não sabia o que fazer; tentava encontrar uma solução, mas acabava ficando frustrada.
Testei tudo que havia disponível no mercado, sem sucesso. E foi então que pensei em colocar uma fralda de bebê na Jully.
Comprei um pacote de fraldas convencionais e decidi criar uma para a Jully por conta própria, para resolver a questão do sangramento contínuo e do xixi, de forma que a deixasse confortável.
Foram horas e dias cortando, colando e adaptando, até finalmente criar a fralda ideal para ela.
Depois de toda essa experiência, a ideia de ter minha própria empresa aflorou.
Decidi largar o sonho do concurso público e focar na abertura de um negócio para pets. Num primeiro momento, minha ideia era criar um pet shop, mas percebi que o mercado já estava saturado
Foi então que me veio um estalo: a fralda para pets era uma ideia pioneira e poderia ajudar outros tutores que enfrentam o mesmo problema pelo qual passei.
Comprei aquelas máquinas de fraldas “caseiras” dos comerciais de TV e aluguei um espaço em uma distribuidora de bebidas. Porém, o espaço era um pouco pequeno… E decidi me mudar para uma sala de 35 metros quadrados, nos fundos de um consultório dentário.
Eu estava otimista, achando que minha empresa decolaria rápido. Na empolgação, quando vi, estávamos com estoque para produzir mais de 1 milhão de fraldas (!).
Para piorar, a novidade foi recebida com cautela por parte dos consumidores… Era uma nova cultura de higiene e muitos não entendiam a nossa solução.
A fralda até foi bem recebida pelos especialistas do mercado pet, mas os consumidores ainda não estavam totalmente preparados, pois não existia em nenhum lugar esse tipo de produto
Fiquei um pouco receosa e com medo do meu plano não dar certo e a empresa não prosperar.
Enquanto a ideia da fralda amadurecia, decidi atender à demanda do mercado e passamos a criar opções de tapetes higiênicos para pets.
A ideia de ampliar o leque de produtos acabou dando certo, tanto que o nosso faturamento, que tinha sido de 113 mil reais no primeiro ano da empresa, 2006, saltou para 348 mil reais no ano seguinte.
Sim, as fraldas continuam no nosso portfólio e “salvam” os tutores não só em casos como o da Jully, em que o cio é prolongado, mas em situações de demarcação de território e quando o pet insiste em fazer xixi fora do lugar, em casos de incontinência urinária ou quando o cachorro já está bem velhinho, depois de algum procedimento cirúrgico etc.
Hoje, além das fraldas, a Dog’s Care conta com 30 itens, entre acessórios, produtos de higiene e dermocosméticos para cachorros.
A lição número um que eu tive a partir dessa experiência foi ouvir os conselhos de outros profissionais da área.
Pode até parecer que sua ideia irá mudar o mercado logo de cara, mas na verdade é necessário paciência e muito estudo para lançar um produto
E se em 2006 ficamos conhecidos no mercado por ter patenteado a primeira fralda descartável para cães do mundo, adaptando algo que era usado apenas por humanos para pets, hoje em dia o pioneirismo faz parte do nosso DNA.
Continuamos a inovar. No ano passado, por exemplo, a febre de produtos de higiene com carvão ativado para o público humano nos inspirou a criar um item específico para os pets: creme dental com carvão ativado.
Às vezes, situações do dia a dia acabam passando despercebidas, mas são capazes de transformar, repentinamente, a nossa trajetória profissional, nossa vida amorosa e até a nossa forma de enxergar o mundo.
Enfrentei desafios, tive vários momentos muito difíceis em que cheguei a questionar se era propósito ou teimosia.
Foram muitas frustrações e noites sem dormir, mas quando olho para trás e vejo uma foto da Jully, que faleceu em 2016, agradeço por ter chegado até aqui
Tenho certeza que fiz a escolha certa e que, no final, empreender foi (e continua sendo) uma escola.
Carol Vaz, 42 anos, é formada em Direito e, em 2006, fundou a marca Dog’s Care.
Criado no interior gaúcho, Alsones Balestrin fez do seu doutorado na França um trampolim para voos mais altos. Foi secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS e hoje capacita empreendedores por meio da edtech Startup Academy.
A falência do pai marcou a infância e mudou a vida de Edu Paraske. Ele conta os perrengues que superou até decolar na carreira – e por que largou a estabilidade corporativa para empreender uma consultoria e uma startup de educação.
Dá para planejar uma carreira de sucesso a longo prazo? Não, afirma Jorge Ramos. Ele conta como soube recalcular a rota ao longo do caminho e hoje aplica sua experiência (incluindo 35 anos de Embraer) na condução de uma startup, a Idea Maker.